Mundo Mulher

Crise da adolescência ou busca identitária? - Katya Di Pierro

03/08/2011

Hoje em dia é muito mais fácil compreendermos o que é
a adolescência. Desde o século passado estudamos este fenômeno e o  atual conhecimento nos permite olhar este momento da vida com mais objetividade e menos medo.


Até pouco tempo atrás, quando falávamos da adolescência ligavamos este período à obrigatoriedade de crises quase intransponíveis e nos sentíamos desarmados para lidar com nossos jovens. No entanto, apenas uma pequena parcela desta população encontra-se efetivamente em crise.


Os outros adolescentes estão simplesmente à procura de se posicionar na vida, o que fazemos em várias fases de nossas vidas e não somente na famosa adolescência.


Mas então, como diferenciar uma adolescência patológica (com crise) de uma adolescência não patológica (sem crise)?


A adolescência é, por definição, um périodo da vida onde buscamos afirmar nossa identidade. Ela se traduz por momentos de ruptura com os valores familiares (mesmo que provisória e insconscientemente) e de identificação à novos grupos portadores de outros valores mais compativeis (momentâneamente) com o instante presente.


Muitas vezes esta procura por algo novo traduz-se por uma busca de algo que o próprio jovem não sabe muito bem o que é levando-o a uma inconstância em seu comportamento gregário (participando a diversos grupos em pouco espaço de tempo) gerando uma instabilidade emocional.


Este é o perfil do adolescente padrão, que apesar dos momentos de recolhimento, do afastamento corporal e emocional com a sua família, das mudanças comportamentais, de linguagem e vestimentares não chega a apresentar nenhuma patologia.


A maioria das pessoas utiliza a expressão crise da adolescência para falar das dificuldades encontradas na interação com os adolescentes. Mas, quando falamos em crise, falamos de perturbações patológicas onde à  presença de disturbios comportamentais nocivos à integridade do prórpio adolescente.


É claro que assim como no período de busca identitária,
a crise na adolescência se traduz pelos mesmos paradoxos ligados à expressão de uma passagem difícil e conflituosa da vida infantil à idade adulta.
No entanto, o que diferencia o normal do patológico é a questão do equilíbrio psicológico.


Devemos nos inquietar quando o adolescente adota comprotamentos neuroticoa ou mesmo psicóticos. Podemos citar como exemplos os comportamentos obssessionais; compulsivos; as fobias; as manifestações histéricas e os delírios.


Dentre os comportamentos ditos normais ao périodo da adolescência, encontramos a ansiedade, a melancolia temporária; a euforia e as mudanças de humor.


Este quadro típico pode se tornar patológico se agregarmos a ele pensamentos suicidas e uso de produtos tóxicos sombrando o adolescente em uma verdadeira crise e desencadeando distúrbios psicológicos.


Estima-se que somente 5 à 15% dos adolescentes vivem perturbações de ordem patológica. Os outros adolescentes atravessam esta fase de maneira relativamente harmoniosa. E com ajuda familiar superam a maioria das dificuldades e se tornam adultos normais.


Para aqueles que estão efetivamente vivendo um momento de crise a palavra chave é ajuda especializada.


Os pais devem procurar ajudar seus filhos proporcionando a eles um espaço de diálogo, reconhecimento e aceitação onde o adolescente possa se sentir suficientemente seguro para expor seus medos e anseios buscando na família o apoio necessário à saída da sua crise.


Sem este espaço, o jovem irá à procura de outros grupos o que geralmente o leva a comportamentos inadequados e muitas vezes ao uso de substâncias nocivas ao seu bom desenvolvimento psíquico e intelectual.

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*Katya Di Pierro é Psicosocióloga formada na
Université Paris13 na França

...http://www.bahiamulher.com.br/

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