Os distúrbios da comunicação e as dificuldades de aprendizagem que deles se originam podem se constituir em fatores determinantes para o processo de alienação das crianças, levando-as a graves desajustes sociais quando adolescentes.

A informação é do médico foniatra Evaldo Rodrigues, diretor do Instituto de Foniatria e Fonaudiologia, de Campinas, estudioso do problema há mais de duas décadas.

Segundo o especialistas, a propensão para uso de drogas e para o comportamento violento registrada em alguns jovens pode decorrer de frustrações na escola.

"A culpa pelo insucesso nos estudos, a eles atribuída pela família, pode vir de problemas congênitos que dependem de assistência médica especializada", disse.

Para Rodrigues, aproximadamente 20% das crianças entre 3 e 10 anos, portanto em idade escolar, apresentam algum sintoma que sugere distúrbio de comunicação.

Indícios

Entre os indícios mais comuns do problema estão o desligamento, a impressão de que a criança não entende o que é falado, a inquietude, a dificuldade no domínio da rotina estabelecida, relatos desorganizados, trocas e/ou omissão de sons da fala, voz rouca e gritada e a dificuldade em lidar com conceito de tempo e espaço.

O médico diz que muitas dessas crianças passam por verdadeira peregrinação a consultórios de diferentes áreas.

Além do tempo e dos gastos que isso representa, há o desconforto de terem de repetir sempre a mesma e sofrida história, que a cada dia vai ficando mais complicada.

"O desalento, o cansaço e o descrédito nos tratamentos não raro levam os pais a partirem para a chantagem emocional e a pressões descabidas, já que o juízo de valor do que esperam do filho se vê completamente frustrado".

Ele diz que a criança cresce se sentindo cada vez mais incapaz de corresponder a qualquer expectativa.

Na adolescência, tende a procurar amizades entre os que passam por problemas similares aos seus, indo por viés inteiramente oposto ao que os pais e os professores esperam dela.

"Com o fácil acesso às drogas e o forte apelo à criminalidade em nossos dias, torna curto, inclusive, o caminho para a delinqüência", observa Rodrigues.

Tratamento A procura por tratamento deve-se dar no momento em que os padrões de comunicação e do comportamento da criança chama a atenção pela sua inadequação, de preferência antes que evoluam para um quadro mais complexo.

O problema pode ser tratado pela medicina foniátrica, que avalia, acompanha e muitas vezes interfere na maturidade, na aprendizagem e no desenvolvimento do processo de comunicação em todas as suas formas e etapas.

O Instituto de Foniatria e Fonoaudiologia, em parceria com a Feac (Federação das Entidades Assistenciais de Campinas), vem oferecendo palestras sobre distúrbios da comunicação e problemas de aprendizagem para pais, professores, psicólogos, pediatras e outros profissionais que trabalham com a infância.