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A violência contra a criança é crescente, mas nem sempre ela ocorre na forma de abuso sexual, tema que vem sendo amplamente discutido depois de diversos casos de pedofilia revelados nos últimos meses. Levantamento inédito do Núcleo de Atenção à Criança Vítima de Violência, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra, com base em dados coletados de 1996 a junho deste ano, que 29,1% das vítimas - meninos e meninas - sofreram abuso físico. A violência sexual aparece em segundo lugar entre as mais catalogadas pelo Núcleo (28,9%), seguida pela negligência (25,7%) e o abuso psicológico (16,3%).

Por terem sido colhidos em um hospital - o Ambulatório da Família, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (UFRJ) - os dados revelam um outro lado da violência contra a criança e o adolescente e divergem do mais recente estudo da Secretaria Nacional de Assistência Social, que aponta o abuso sexual como a agressão contra a infância mais corriqueira, pelo menos em garotas.

Pelo levantamento da Secretaria Nacional de Assistência Social, divulgado em 17 de maio, dos 9.547 casos atendidos em seis meses, em 150 dos municípios brasileiros onde o Programa de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual (Programa Sentinela) está implantado, o abuso sexual contra garotas é maioria (1.991 casos, ou 31% do total).

- A agressão física ainda é muito freqüente em nossa cultura. Esse tipo de agressão é aceito como uma forma de educar. Os próprios pais falam que batem nas crianças - afirmou Ana Lúcia Ferreira, professora adjunta do Departamento de Pediatria da UFRJ.

Ana Lúcia, que é coordenadora do Núcleo de Atenção à Criança Vítima de Violência, ressalta que são 'raríssimos' os casos em que a lesão física e o abuso sexual são visíveis.

- Quem abusa sabe que pode machucar. É uma agressão silenciosa porque não deixa marcas. E porque na maioria das vezes o agressor é algum familiar ou conhecido, e a vítima tem medo de contar - salientou a professora, que catalogou 547 pacientes vítimas de violência, a maioria de famílias carentes, nos últimos seis anos.

Meninos sofrem mais com negligência dos pais

No levantamento da Secretaria Nacional de Assistência Social, a violência física e negligência contra meninas foi detectada em apenas 14% dos casos. Já os meninos sofrem mais com a negligência dos pais ou responsáveis (801 casos, ou 26%), sendo que o abuso sexual afeta 22% dos garotos e a violência física, 19%, de acordo levantamento de outro programa social, o Projeto Sentinela.

A professora afirma que a preocupação do profissional de saúde com os maus-tratos na infância justifica-se não apenas pela possibilidade de morte da vítima, mas também pelas inúmeras conseqüências, de ordem física, emocional, comportamental e social, desencadeadas. A especialista diz que, detectada a violência no Ambulatório, a primeira atitude do Núcleo é ajudar a família a resolver o problema.

- A gente explica o quanto isso é ruim para o desenvolvimento da criança, nos casos menos graves. Quando o abuso é sexual ou a agressão física é grave, tentamos separar a criança da família, com autorização da Justiça e do Conselho Tutelar - afirmou a pesquisadora.

Ana Lúcia lamenta que 40% dos casos detectados acabam abandonando o acompanhamento do Núcleo. Mas aquelas crianças e adolescentes que permanecem recebendo o auxílio dos pediatras, assistentes sociais e psicólogos da UFRJ, segundo Ana Lúcia, apresentam uma regressão dos sintomas, como doenças psicossomáticas, por exemplo.

Os resultados da pesquisa da UFRJ serão apresentados no 59º Curso Nestlé de Atualização de Pediatria, que acontecerá de 13 a 18 de outubro, no Riocentro, no Rio de Janeiro. O evento, promovido pela Nestlé em parceira com a Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro, receberá também professores de diversas áreas da medicina.

Fonte: GloboNews.com

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