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Orkut x Crianças

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Orkut x Crianças


O desenvolvimento da ciência e especialmente da tecnologia ao qual assistimos na última década é sem sombra de dúvida impressionante e de uma capacidade de produzir mudanças como nunca se viu em toda a história da sociedade humana.

A cada dia surgem meios novos, mais rápidos e eficientes de comunicação à distância. Dentre eles, o Orkut merece nossa especial atenção, pois se encontra em um ponto de intersecção muito importante entre a formação das crianças e jovens e a tecnologia.

Recentemente, inúmeras pessoas em todo o mundo têm se comunicado por meio de novas comunidades virtuais neste site de relacionamento. Em menos de dois anos, o Brasil rapidamente se tornou o país com a maior presença no Orkut em todo planeta. Os jovens compõem a maioria dos adeptos e a indicação de um amigo é indispensável para a entrada na rede online.

Com tamanha facilidade de comunicação, o Orkut logo se tornou familiar entre os jovens e grupos que defendem ideais – nem sempre muito éticos – e que querem conseguir maior número de participantes. Hoje conta com mais de 140 mil comunidades e esse total tende a crescer cada vez mais, já que qualquer pessoa pode criar uma nova comunidade.

Em um primeiro momento pode-se pensar que, se bem utilizada, esta seria uma ferramenta excelente de contato e socialização virtual. Adultos, jovens e pais de crianças pequenas que acompanham pessoalmente suas "viagens" pelo Orkut, sabem que existem muitas comunidades "do bem". Mas a maioria sabe que não deve fechar os olhos e achar que essa situação é estável. Muitos casos de agressões gratuitas entre crianças, de sedução por pedófilos, têm chegado às escolas, aos consultórios, à imprensa.

Boa parte dos 660 mil de brasileiros que freqüentam o Orkut tem tido experiências com grupos que defendem a violência, a pornografia, o uso de drogas e a agressão pessoal. Isso pode ser percebido pelos nomes de alguns grupos de "orkuteens" ("Odeio meu pai", "odeio pobre", "odeio veados"). Nos textos explicitamente agressivos e ofensivos, percebemos que a invasão da privacidade, o respeito pelo outro, pelas autoridades, pelo público, perdem suas dimensões reais ao viajarem no mundo virtual e anônimo do Orkut.

Parece que o que foi criado para aumentar a convivência, o contato humano por meio da Internet, se transformou, em boa parte, em uma arena na qual ódios injustificados são defendidos como princípios de vida. Nesse clima, milhares de adolescentes acabam por serem inseridos nesse bullying virtual, em que a vítima não consegue defesa e os agressores não são atingidos pela lei. Além das agressões físicas e verbais, as brincadeiras depreciativas, discriminação de toda ordem a que se está sujeito nas escolas, nos clubes, nas ruas, surge agora a versão online da falta de respeito ao próximo.
Acompanhar crianças e jovens nesse novo território é importante também para evitar que o filho, tentando escapar de ser vítima, torne-se um agressor sem escrúpulos.

Parece-me um momento importante para pensarmos que cabe a nós, pais e educadores, tomarmos medidas urgentes e enérgicas, pois a defesa de valores éticos e morais entra agora em uma nova e desafiante fase. Afinal, que espécie de pessoas estamos criando para serem os adultos deste século? Que tipo de princípios nossa geração quer cultivar naqueles que nos sucederão no comando deste mundo?

Maria Irene Maluf é pedagoga especialista em psicopedagogia e presidente Nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia.

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