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Violência também no namoro

Violência também no namoro

24/09/2009

 Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz divulgada recentemente chamou a atenção para um fato curioso sobre o namoro na juventude. O estudo, realizado com jovens entre 15 e 19 anos de todo o País, identificou que 87% das garotas desta faixa etária já passaram por algum tipo de violência no namoro ou como “ficante” (a paquera rápida). A pesquisa, que cita como formas de violência beliscões, empurrões, tapas, xingamentos, ofensas e até humilhação pela internet, também mostrou outro fato chamativo: meninas estão agredindo na mesma proporção que meninos.

Além de chamar a atenção para mudanças negativas no relacionamento entre jovens, a pesquisa leva a fazer o seguinte questionamento: por que este tipo de comportamento está ficando cada vez mais comum? De acordo com a psicóloga e terapeuta Mônica Quinan, especializada em adolescentes e casais, uma das explicações está na banalização da violência. “São muitos fatores, que podem variar de caso para caso, mas a grosso modo é o comportamento violento que está ficando banal”, sublinha a especialista.

A reportagem conversou com alguns jovens a respeito do tema. Mesmo que em seus relacionamentos eles não se enquadrem necessariamente no perfil dos que apelam para a violência, todos reconhecem que esse tipo de comportamento é visivelmente mais comum, seja na mesa ao lado no barzinho, na balada ou mesmo no meio da rua. “Isso é bem mais comum do que se imagina”, observa a universitária Heloyse Rezende, 19 anos.

A jovem mantém um namoro há quase três anos e conta que as coisas têm mudado bastante. “Nunca presenciei um caso forte de violência física, mas brigas mais exaltadas, especialmente por causa de ciúmes, acontecem demais”, diz. O namorado de Heloyse, o universitário Marcello Junior Lopes, 19, por sua vez, além de reparar que a violência entre jovens casais aumentou, arrisca outra explicação. “As meninas também estão partindo para a briga, talvez porque estejam querendo aparecer”, opina.

Brincadeira
Na visão do estudante Felipe Machado, 17 anos, o aumento das agressões entre jovens namorados ou ficantes é perceptível, mas não passaria de brincadeira. “Acontece um pouco, mas é mais difícil ver um tapa na cara de verdade”, relata ele. Felipe está no início de um namoro, firmado há pouco menos de um mês, e salienta que os ciúmes e a insegurança são os principais motivos para brigas entre jovens casais.

“No último fim de semana, por exemplo, eu estava em uma festa e uma menina desconhecida passou a mão por trás em mim. Na hora minha namorada já queria partir para briga”, conta ele, arrematando que por pouco não houve um desentendimento sério. A namorada dele, Carolina Almeida, 16 anos, confirma a história.

“Acho que a gente fica com o ânimo mais exaltado por causa das histórias de traição que escuta”, justifica. A jovem contesta, porém, o fato de as meninas estarem mais agressivas. “Elas até podem estar batendo mais também, mas os meninos ainda continuam sendo os mais fortes, não há como competir”, afirma.

Juntos há quase quatro anos, os namorados Gabriela Agapito e Erick Soares, ambos com 18 anos, acreditam que o quadro é provocado pela falta de respeito.

“É normal a gente ver casais trocando insultos em público. Tanto que muita gente nem estranha tanto quando vê uma briga”, afirma Gabriela. Erick complementa, lembrando o aumento do descompromisso entre casais: “O fato de as pessoas não quererem mais compromisso ajuda a piorar. Sem vínculo, as pessoas não pensam antes de insultar ou mesmo agredir alguém”, diz.

Veteranos
Já fora do perfil da pesquisa da Fiocruz, a universitária Cristina de Oliveira, 23 anos, lembra que o comportamento não se restringe somente a adolescentes. “É muito comum. Sempre vejo acontecer”, especifica. Ela ainda faz outra observação importante, constatada no estudo: garotas também estão partindo para a agressão. “Não sei por que acontece, mas elas estão ficando mais brutas”, diz.

Cristina conta que certa vez presenciou um rapaz agredindo uma moça em local público. “Fiquei surpresa. Primeiro porque ninguém fez nada. Depois, porque quando chegou a polícia, escutei ele dizendo que tinha feito aquilo porque ela tinha dado um tapa na cara dele primeiro”, recorda-se.

A universitária ainda reconhece que já brincou de bater de leve no namorado em público, o universitário Juliano Jesus da Silva, 23, com quem está há três anos. Ela garante, contudo, que há uma distância muito clara entre brincadeira e agressão verdadeira. Juliano, que leva tudo na esportiva, concorda: “Fica muito claro quando é realmente agressão, não dá para confundir.”

Goiasnet.com/Rodrigo Borges - O Popular

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