Mundo Mulher

Os jovens e o consumismo

25/12/2009 

Você é consumista? Diante da pergunta, a estudante Vanessa de Souza, 18 anos, hesita um pouco. “Não me considero, mas minha mãe diz que sou”, responde, reticente. Mas em seguida completa: “Pensando bem, acho que sou. Todo mundo diz. Não posso negar”, assume, aos risos. Como Vanessa, os jovens de hoje não deixam de reconhecer que cedem, sim, ao consumo, tão estimulado em épocas como o Natal. Não é à toa que são alvos preferidos do comércio, que lança mão de todos os artifícios para atraí-los.

Uma pesquisa do Instituto Akatu, divulgada há duas semanas, mostrou que o item compras está na lista de interesses de 70% dos jovens entrevistados em dez regiões metropolitanas do Brasil (leia mais no quadro). Consumidora principalmente de itens de beleza e vestuário, Vanessa tenta justificar seu comportamento: “Acho que todos querem comprar porque a satisfação em cima disso é muito valorizada. Além do que o dinheiro, na maioria dos casos, é dos pais. É como dizem: vem fácil, vai fácil”, afirma ela, que, prestes a começar a ganhar o próprio dinheiro, diz estar revendo seus conceitos.

De acordo com o psicóloga Mônica Quinan, terapeuta de adolescentes e de família, o estímulo ao consumo nos jovens é reflexo dos valores da sociedade. Ela acrescenta que o consumismo pode ser explicado pela maneira como os pais têm se relacionado com filhos. “Pais, especialmente de classes mais baixas, sentem o peso da cobrança por ascensão. Mas, sem condições de alcançar vida abastada, sentem como se devessem aos filhos”, explica. Esse comportamento leva a um ciclo de estímulo ao consumo como um mecanismo de compensação.

“Já vi casos de mães que, mesmo pobres, dão um jeito – parcelam, se endividam –, só para dar ao filho símbolos de status”, diz. Ela cita ainda os presentes dados para compensar a falta de tempo dos pais para os filhos. “Afeto é insubstituível”, alerta. “Os pais têm de entender que os filhos precisam lidar com frustrações, que são inevitáveis na vida”, completa.

Aceitação

O pensador francês Jean Baudrillard (1929-2007) defende em sua obra que a sociedade do consumo poder ser tanto igualitária como desigual. Desigual porque muitos desejam o que não podem comprar. Igualitária porque, tendo acesso ao bem de consumo, o indivíduo passa a se sentir inserido dentro de seu contexto social. “Nunca consumimos o objeto em si: os objetos manipulam-se sempre como signos que distinguem o indivíduo”, anotou Baudrillard.

Pelo que demonstram, é o que os jovens parecem querer: atingir a aceitação social, sugerida pelos objetos de consumo que desejam. O universitário Elieder Pereira, 18 anos, não aceita o rótulo de consumista. Ele não se considera gastador e se classifica como moderado. Diz que o importante não é quantidade e sim a qualidade do que compra. “Gosto de comprar roupa de marca. Só que não é todo dia. É só quando estou precisando. Não sei, talvez de mês em mês”, contabiliza.

Para ele, gastar cerca de R$ 300 em uma calça ou R$ 150 em uma camisa não é um absurdo, se os objetos tiverem qualidade. Ele assume ter um ponto fraco.

“Gasto mais é com meu carro”, confidencia. Aparelhar o carro e deixá-lo bem cuidado é uma prioridade. “Se for para se sentir bem, não vejo problema algum.”

Controle

Uma lição que a adolescente Marina Fleury, 14 anos, ainda longe de longe de ter o próprio dinheiro, aprende a cada dia com a mãe, é não ceder ao impulso de consumir. Aficionada por roupas e sapatos, ela brinca que não pode ser deixada sozinha com dinheiro, pois corre o risco de gastar tudo e ainda mais. “Hoje mesmo minha mãe teve de me deixar sozinha para comprar vestidos para festas de fim de ano. Depois que ela viu o que comprei, disse que acertei em duas escolhas, mas exagerei em outra”, conta.

A estudante conta que está aprendendo alguns truques para não exagerar e acabar gastando demais. Dona do próprio cartão bancário, ela diz que a cada dia tenta pesquisar e pensar bem antes de sair comprando. “Estou vendo que não preciso comprar tudo, que não é tão importante assim ter tudo que a gente quer.”

Organize-se

Confira os dez mandamentos para gastar certo.

1. Não compre por impulso. Tudo bem que o produto está em promoção, mas se pergunte: “vou realmente usar?”. Se a resposta é não, não compre.

2. Liste as despesas. Isso se chama planejar o orçamento. A matemática é simples: se tem R$ 100 para gastar, não compre R$ 105.

3. Corte excessos. Se sua lista de compras em um mês é maior que o orçamento, elimine o supérfluo.

4. Pesquise e não se precipite. Gostou da camiseta da loja? Vá a outras duas e compare com preços de similares. A internet também é uma aliada.

5. Compre à vista. O preço é sempre menor. Só faça a prazo se, mesmo após negociar muito, a soma das prestações ficar o mesmo que à vista.

6. Incentive a concorrência. Se uma loja vende um produto por R$ 20 e a outra por R$ 19, peça à primeira para baixar o preço para R$ 18.

7. Tenha a relação custo–benefício a seu favor. Exemplo: uma caneta de R$ 1 que dura só um mês sai mais caro que a de R$ 3 que dura quatro meses.

8. Aprenda truques de economia. Comer em casa e jantar ou almoçar fora só em ocasiões especiais, por exemplo, ajuda a poupar.

9. Poupe antes de tudo. Especialistas recomendam guardar pelo menos 10% da renda (salário, mesada). Antes de gastar, já reserve esta parte.

10. Evite datas consumistas. A compra da calça ou do livro não é para presente de Natal? Então espere até janeiro e compre com preço menor.

Goiasnet.com/Rodrigo Alves - O Popular

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