Mundo Mulher

Educar sem violência

24/03/2011

Para entender mais sobre como educar com autoridade, mas sem violência, o Zero a Seis conversou com a psicóloga Dora Lorch. Acompanhe:


Zero a Seis:    A palmada pode ser educativa?
 
Dora Lorch: Palmada não educa para os padrões da nossa sociedade, porque ensina que vale a lei do mais forte, e em nossa cultura a as agressões físicas são punidas pela lei. Isso quer dizer que bater só porque o outro não aceitou o que você disse é passível de punição legal. Outro aspecto importante é perceber que os pais batem nos filhos quando os pais ficam nervosos, não exatamente para “educar”. Posso dizer que bater é uma intransigência dos adultos, que deveriam ensinar tolerância e persistência. Portanto, a criança que chora porque não tem certo objeto ou porque não pode fazer determinada coisa precisa que:

•        os pais expliquem os motivos do veto (em linguagem simples, sem muitas justificativas, porque ensina a maneira dos pais de raciocinar, e os valores que lhe são caros),

•         os pais devem agir com  firmeza e não ceder à insistência. Quero frizar que os pais podem mudar de ideia a respeito de uma atitude, mas não devem mudar de ideia somente porque o filho esta pressionando, porque neste caso serão os filhos que mandarão na casa, e eles não têm maturidade para tanto.
 
Zero a Seis:. Não só a violência física, mas a psicológica causa consequências também. Quais são as conseqüências de xingamentos ou comentários desastrosos de pais para filhos? 
 
Dora Lorch: A violência psicológica é a mãe de todas as violências. Para começar, muitos desentendimentos acontecem porque os pais acham que sabem do que os filhos estão falando, mas nem sempre isso é verdade. Tenho contado muitas histórias de crianças e adolescentes que surpreendem os pais no bom sentido, pois tem as melhores intenções, mas nem sempre a melhor execução de suas intenções. São jovens que tentam, mas nem sempre os adultos percebem o que há por trás destas atitudes.

Por isso xingam, ameaçam, denigrem, acreditando que este é o caminho para transformar estes jovens em adultos dignos e fortalecidos. Mas o tiro, na maioria das vezes sai pela culatra, ou seja, os pequenos acreditam no que seus pais e professores estão lhe falando, e podem desistir de tentar dar certo pelos caminhos convencionais – que diga-se de passagem são os mais difíceis. Se não encontrar alguém que acredite no seu potencial, podemos estar condenado esta criança a uma vida infeliz, ou até à morte. Isso é literal: chamar um filho de ladrão, de drogado, de trombadinha pode jogá-lo neste mundo, muitas vezes sem volta.

Quando uma escola expulsa um aluno, está determinando uma sentença de morte, porque deixa este ser sem perspectivas de trabalho e vida decente. Esta é a verdadeira violência psicológica.
 

Zero a Seis: Na ânsia de que os filhos ajam corretamente, os pais ficam nervosos e explodem com os pequenos. Como deve ser o comportamento dos pais para que eliminem as práticas de violência do dia a dia?
 
Dora Lorch: Em minhas palestras costumo mostrar que os pais reagem segundo sua vida, suas irritações e não somente com intenção de educar. Isso não quer dizer que eles não queiram acertar, mas que as nossas questões costumam pesar mais do que as questões dos filhos. Por exemplo, se seu filho comete um erro na escola e você está com paciência, talvez você o ponha no colo e discuta o que ele fez de errado e o que pode ser melhorado. No dia seguinte, quando muitas chatices aconteceram no seu trabalho, talvez o mesmo fato desperte outro tipo de resposta, mais ríspida, mais agressiva. Veja: o fato é o mesmo, a nossa maneira de reagir é que muda. Termos consciência destas características ajuda a educar melhor. Outro exemplo clássico é o relacionamento de casais separados: muitas vezes nos irritamos porque nossos filhos têm atitudes e maneirismos iguais àquele de quem você se separou, e isso pode te irritar. Isso não é culpa da criança, é um tipo de “herança”. Ter consciência destas questões ajuda os adultos a se controlarem melhor.
 
Zero a Seis: Somente com conversa, organização e disciplina é possível educar uma criança? Poderia listar algumas dicas?
 
Dora Lorch: Organização e disciplina são importantes para a vida, mas educar é muito mais do que isso. Acho que o mais importante do processo de educar é mostrar outras maneiras de lidar com as frustrações, medos, e projetos de vida. Sentar com seu filho no colo e deixá-lo chorar de tristeza é preciosíssimo, e não tem nada a ver com organização. Mostrar para os pequenos que algumas coisas que falamos ou fazemos podem soar agressivos aos ouvidos dos amigos, é fundamental, e não tem nada a ver com disciplina. Ouvir o que nossos filhos têm a dizer sobre o dia a dia deles faz parte do processo de educar, mas como é homeopático, as pessoas não percebem que é desta maneira que passamos conceitos, valores, ideais.
 
Confira algumas dicas:
 
1-      Pais podem reclamar dos filhos, mas precisam também acolhê-los e elogiá-los. Se houver somente críticas, a auto-estima tende a ser diminuída e resultar em agressividade, ou na certeza de que não adianta fazer qualquer esforço
2-      É preciso reconhecer as pequenas vitórias do cotidiano para que eles possam perceber que grandes conquistas são feitas aos pouquinhos.
3-      Não adianta brigar porque seu filho/a não consegue fazer determinada coisa; é mais produtivo descobrir o que o impede, e ajudá-lo a ultrapassar o problema. Por exemplo, se ele derruba tudo, frisar esta característica pode deixá-lo/a tão nervoso/a que contribua para que as coisas sejam mesmo derrubadas.
4-      Ficar bravo, chorar, ter medo, faz parte da vida de todos nós, deles também. Por isso ensinar a lidar com as frustrações que a vida nos dá é muito importante. Isso se faz nos comentários, no acolhimento, na postura dos adultos frente às pequenas frustrações, porque as grandes por vezes não chegam até as crianças.
 
 Dora Lorch é psicóloga clínica e coordenadora do Projeto Florescer da Fábrica do Futuro, além de autora de livros.

http://www.zeroaseis.com.br

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