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Flutamida

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A Flutamida, substância utilizada no tratamento do câncer de próstata, tem sido indicada para mulheres com problemas queda de cabelos, espinhas e hirsutismo (excesso de pêlos em regiões onde comumente não se encontram). Porém, sua prescrição envolve riscos. Em alguns casos, a droga pode prejudicar a formação fetal ou comprometer, irreversivelmente, o funcionamento do fígado, podendo levar a paciente à morte. Foi o que quase ocorreu com "D" (inicial do primeiro nome da paciente), uma mulher de 29 anos, mãe de um bebê de 11 meses e residente em Sorocaba, interior de São Paulo, na semana que antecedeu o Natal de 2003.

Até duas semanas antes do Natal, "D" não apresentava nenhum sintoma ou indício de que estaria com algum problema de saúde. Às vésperas do dia 24, começaram a surgir indícios de que algo de errado estava acontecendo com ela. Preocupada, a família de "D" procurou um médico. Diante do quadro, o profissional orientou-os a procurar um colega, o professor-doutor Ben-Hur Ferraz Neto, professor titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da PUC-SP e especialista em fígado, pâncreas e vias biliares.

Após 48 horas, os exames clínicos e laboratoriais indicaram um quadro conclusivo: a paciente estava com insuficiência hepática fulminante - também conhecida como hepatite fulminante. A solução para salvar a vida de "D" era o transplante do fígado. Até então, não havia certeza sobre a causa que teria desencadeado a doença.

Rapidamente, o nome de "D" foi incluído como caso emergencial na lista de espera para o transplante de órgãos no país (situação semelhante passou recentemente o ator Norton Nacimento). Segundo Ben-Hur, a inclusão de um paciente na condição de receptor emergencial envolve aspectos bastante criteriosos e pré-estabelecidos e não é permeável à fama, condições financeiras ou de qualquer outra natureza, exceto pela possibilidade de salvar a vida da pessoa.

No dia 24 de dezembro, um fígado compatível com as características de "D" foi localizado e transportado para Sorocaba com a ajuda da Força Aérea Brasileira (FAB). A cirurgia foi realizada pela equipe do cirurgião Ben-Hur naquela mesma noite, no Hospital Unimed, através do Sistema Único de Saúde (SUS). Na última segunda-feira, dia 29 de dezembro, "D" recebeu alta
da UTI. Segundo Ben-Hur, a paciente passa bem.

Seis dias após o transplante, todas as outras possíveis causas vem sendo descartadas, com exceção de uma: o uso de Flutamida, que "D" vinha ingerindo há algum tempo. "O caso serve como um alerta", destaca Ben-Hur. Pessoas em todo o mundo vêm utilizando a substância para o tratamento de problemas dermatológicos. Mesmo quando indicado por um especialista, o tratamento deve ser ministrado em dosagens específicas e acompanhado por exames regulares para avaliar várias funções, principalmente, as hepáticas.

Na Itália, Suíça e Estados Unidos, a Flutamida não é prescrita para mulheres em idade reprodutiva. Recentemente, Patrícia de Figueiredo, da Unidade Fármaco-Vigilância da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirmou à Isto É que os médicos que receitam a droga não infringem nenhuma norma da agência. "O profissional tem a liberdade de prescrever o composto, mas é responsável por isso e também por orientar os pacientes sobre os riscos", disse Patrícia à revista.

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