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O problema da obesidade infantil e suas causas

O problema da obesidade infantil e suas causas

          
 
20/02/2010

 

A propaganda é a alma do negócio, diz o dito popular, e todos somos vulneráveis ao seu apelo. Ela é capaz de mudar hábitos arraigados, influenciar tendências e faz parte das estratégias de vendas. Nada contra isso.

Este é um direito legítimo das empresas, faz a "máquina da economia rodar", gera empregos e enriquece as pessoas e os países. O poder da propaganda é tamanho, que campanhas vitoriosas são pagas a preço de ouro, justamente porque rendem muito mais aos fabricantes. "Mas nos dias de hoje, essa capacidade de influenciar comportamentos vem sendo oportunamente avaliada quando o público alvo são as crianças. A última Páscoa pode exemplificar bem esse quadro. Quando se esgotaram, nos supermercados, os ovos de páscoa recheados de rádios, relógios, mini-games, bonecos de super heróis, mini barbies, brinquedos eletrônicos que emitem sons e até fadas com sensores de luz que se ascendem quando a criança se aproxima da varinha de condão... Ninguém quis comprar ovos recheados apenas de bombons. O receio era decepcionar os presenteados", conta a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional.

"Há alguns anos, temos chamado a atenção de pais e fabricantes para o potencial deletério desse tipo de marketing realizado junto a um público que é muito vulnerável e não tem nenhum poder de avaliação do potencial deletério do consumo frequente de um determinado tipo de alimento. Será que um personagem infantil pode influenciar o hábito alimentar de uma criança? Claro que sim, principalmente quando coleções inteiras de personagens exigem que se voltem várias vezes aos pontos de vendas para comprar um novo lanche até a coleção ficar completa. Além de um chamariz, o brinde tem o poder de identificar a criança com um tipo de alimento, que por ser muito saboroso, estabelece um vínculo com ela e passa a vencer sempre a comparação com alimentos de preparação mais simples e sabor mais suave, como as frutas", explica a médica.

O problema da obesidade infantil e suas causas

As pesquisas e censos realizados em todo o mundo dão conta de que estamos diante de um dos maiores problemas de saúde pública já enfrentado: a obesidade na infância e na adolescência ultrapassou grupos populacionais anteriormente definidos, saiu das cidades e alcançou o campo, deixou os bairros socialmente privilegiados e invadiu as favelas, deixou para trás o ocidente e se alastrou pelos povos orientais. Nos últimos 30 anos, a prevalência da obesidade quase que triplicou em crianças de 2 a 5 anos e em jovens de 12 a 19 anos. A doença quadruplicou em crianças de 6 a 11 anos, apontam os censos norte-americanos.

No Brasil, como na maioria dos países em desenvolvimento, as estatísticas são ainda piores. Por aqui, o excesso de peso infantil triplicou nos últimos 20 anos, considerando a prevalência de 4,1% no censo do IBGE 1974/75, em comparação aos 13,9%, encontrados em 1997. Estima-se que 20 a 25% das crianças e adolescentes brasileiros sofram de sobrepeso ou obesidade.

"Esses dados indicam a necessidade de programas eficazes de combate à obesidade, dentro dos lares, pois são os locais onde se formam os hábitos alimentares; nas escolas, pois são os locais onde as crianças passam a se alimentar longe das nossas mesas e dos nossos olhos; nas prefeituras e governos municipais, estaduais e federais, pois é alto o ônus das sociedades em virtude dos males físicos e psicológicos relacionados à obesidade infantil", diz Ellen Paiva.

Apesar de já termos conhecimento deste cenário sombrio, ainda estamos longe de alcançar eficiência na prevenção e no combate à obesidade infantil. Um exemplo disso é a constatação de que 80% das crianças com sobrepeso, entre 10 e 15 anos de idade, se tornam obesas aos 25 anos de idade, dando conta da nossa atual ineficiência frente à obesidade infantil.

"A principal causa da obesidade, incluindo, aqui, crianças e adolescentes, está na ingestão excessiva de calorias em relação às necessidades individuais. Esse fator é determinado pelas profundas mudanças comportamentais ocorridas na sociedade moderna, na industrialização dos alimentos e no ambiente familiar", diz a médica. Nesse contexto, com a profissionalização da mulher, as crianças passaram a receber uma maior quantidade de alimentos industrializados, em porções cada vez maiores, alimentos esses altamente palatáveis e densamente calóricos, ricos em carboidratos, gorduras e sal. As crianças passaram a fazer refeições rápidas, principalmente lanches e guloseimas, a comer na escola, geralmente em cantinas sem preocupação com a qualidade nutricional dos alimentos. "Somando-se a estes fatores, elas ainda são alvo da propaganda de alimentos industrializados, mais saborosos e baratos. Todas essas mudanças dificultam a reeducação alimentar das crianças, aliadas a um fator de grande impedimento ao tratamento da obesidade infantil: os maus hábitos alimentares dos próprios pais", conta a endocrinologista.

Um acordo potencialmente benéfico

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), em parceria com a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), firmou uma espécie de código de conduta com o apoio de 24 companhias alimentícias. Até o dia 31 de dezembro deste ano, as empresas signatárias do acordo deixarão de fazer propaganda diretamente para as crianças e pré- adolescentes. Os pais passarão a ser o público alvo. As empresas deverão destacar as características nutricionais dos produtos para convencer os pais da importância de se adquirir esse ou aquele alimento. O comprometimento é "não fazer, para crianças abaixo de 12 anos, publicidade de alimentos ou bebidas, com exceção de produtos cujo perfil nutricional atenda aos critérios específicos baseados em evidências científicas", esclarece a nota da Associação Brasileira de Indústrias de Alimentação. Ainda segundo o comunicado, "as limitações são para inserções publicitárias em televisão, rádio, mídia impressa ou internet que tenham 50% ou mais de audiência constituída por crianças de menos de 12 anos".

O consumidor final

"Se os pais serão o novo alvo da propaganda alimentícia, eles devem desenvolver a capacidade de explicar aos filhos que eles podem ter qualquer brinquedo, mas não necessariamente aquele adquirido numa rede de fast-food, que implique no consumo de alimentos calóricos e pouco saudáveis. A situação fica perigosa quando o brinde é usado como moeda de troca entre pais e filhos, pois um comportamento reforçado ao longo do tempo pode virar um hábito. Uma criança que consome lanches, fritas e refrigerantes tem mais riscos de se tornar um adulto consumidor desses mesmos alimentos por toda a vida", alerta a endocrinologista Ellen Simone Paiva.

FONTE: SEGS PORTAL NACIONAL

 

http://www.citen.com.br/

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