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Oncologia Clínica

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Oncologistas clínicos devem se manter atentos a qualquer sinal que indique depressão no paciente, sobretudo em casos de diagnóstico recentemente. Uma vez identificado o distúrbio, o tratamento deve começar imediatamente. Caso contrário, a depressão tende a cronificar, o que pode acarretar, inclusive, a diminuição da tolerância orgânica à quimioterapia. Essa é a opinião da médica Letícia de Andrade Nader, do Instituto de Oncologia de Sorocaba.

Para Letícia Nader, identificar a depressão em pacientes oncológicos não é tarefa fácil. Até porque o acompanhamento a essas pessoas é feito, na maioria das vezes, por clínicos gerais, cirurgiões e oncologistas, cujo enfoque principal está voltado aos problemas físicos. Isto, porém, não significa que esses profissionais não possam diagnosticar o distúrbio. "Ele deve identificar e encaminhar o paciente para outro colega especializado na área", opina Letícia. A conduta pode ajudar a salvar vidas. A taxa de suicídio na população em geral é de 1,9 % entre os homens e 1,6 % entre as mulheres. Em pacientes oncológicos que receberam o diagnóstico há menos de um ano, os números saltam para 16% e 15,4%, respectivamente. Curiosamente, à medida que a doença evolui, essas porcentagens caem.

Segundo a médica, é perfeitamente natural que diante de um diagnóstico oncológico, o estado de humor do paciente se altere significativamente. Mas nem sempre a depressão é causada por ele. Ela pode estar "incubada" há anos. A maioria dos portadores de câncer apresenta estresse emocional logo após o diagnóstico. "Geralmente, após algumas semanas, boa parte deles apresentará algum grau de resolução desse quadro, com maior ou menor adaptabilidade à nova situação", explica Letícia. Esses transtornos psiquiátricos interferem de forma bastante negativa na qualidade de vida dessas pessoas, podendo torná-las arredias ao tratamento proposto e até prolongando eventuais internações hospitalares. "Sabe-se, inclusive, que a depressão e a ansiedade influenciam negativamente no prognóstico desses pacientes, aumentando sua mortalidade", diz.

A depressão tornou-se uma epidemia, uma doença do mundo contemporâneo. "Muitos conseguem mantê-la sob controle durante muito tempo, sem qualquer prejuízo aparente a suas vidas; porém, ao serem obrigados a absorver uma carga emocional intensa, como a descoberta de um câncer por exemplo, o problema aflora", explica. De acordo com a médica, a maioria das pessoas reluta em aceitar que estão com depressão. "Muitos apresentam sintomas de anedonia (ausência de prazer ou mal-estar nas atividades) há tanto tempo, que isso já se incorporou às suas vidas, ficando difícil compreender a anormalidade da situação", diz. Uma vez tratados, os pacientes - oncológicos ou não - tendem a resgatar o prazer na vida, regularizam a libido, estabilizam o apetite (sobretudo os obesos), eliminam a sensação de cansaço constante e diminuem sensivelmente a irritabilidade.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), nos próximos 20 anos, a depressão deverá saltar do quarto para o segundo lugar no ranking de doenças dispendiosas e fatais. Só será superada pelas enfermidades do coração. Os últimos dados da entidade revelam que, atualmente, a doença atinge 15% da população mundial em, pelo menos, algum momento de suas vidas. Desses casos, aproximadamente a metade terá episódios repetitivos de crise e precisará de tratamento contínuo.

As pesquisas revelam, ainda, que o risco de um homem sofrer da doença é de 11%, enquanto que o da mulher pode chegar a 18,6%. Das pessoas que sofrem desse mal, aproximadamente 15% cometem suicídio. A falta ou o excesso de sono afeta 90% dos pacientes com o problema. Indivíduos acima dos 65 anos representam 10% a 15% da população com algum tipo de depressão. Em 37% dos casos há problemas sexuais e 80% dos deprimidos apresentam sintomas como ansiedade ou agitação.Há 15 anos, tratar da depressão acarretava efeitos colaterais extremamente indesejáveis, como a sensação de boca seca, taquicardia, apatia, alterações no ritmo intestinal e no sono. Hoje em dia, as drogas se tornaram seletivas, capazes de atingir exatamente as duas enzimas que desencadeiam o problema: a cerotonina e a noradrenalina.

Apesar de comum e da grande quantidade de medicamentos eficazes disponíveis no mercado, o tratamento da depressão requer do médico o domínio absoluto da farmacologia. "A subdosagem de um antidepressivo pode cronificar a doença, piorando ainda mais suas conseqüências", alerta Letícia. Os tratamentos, normalmente, seguem uma cronologia própria. A partir do momento que se identifica o distúrbio, o paciente começa a tomar os medicamentos indicados pelo médico. É normal que após alguns meses, o paciente sinta-se bem. Isso, contudo, não significa que os remédios devam ser suspensos. "Quando se detecta a remissão, deve-se manter as drogas por, no mínimo, seis meses. Caso contrário, a depressão pode voltar e, em alguns casos, mais forte que inicialmente", finaliza.

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