Ela pode ser considerada uma doença silenciosa e de difícil diagnóstico. Sem causa conhecida, embora tenha sido identificada há mais de um século e meio, a esclerose múltipla se manifesta de várias formas, muitas facilmente confundidas com outras enfermidades, o que retarda o diagnóstico correto e o início do tratamento adequado.

Com o objetivo de reduzir esses problemas e orientar médicos e leigos sobre a doença - que pesquisas recentes apontam atingir cerca de 10 em cada 100 mil brasileiros - foi instituído, em 2006, o Dia Nacional de Conscientização sobre Esclerose Múltipla, celebrado amanhã. Em Goiânia, a data será comemorada com a terceira edição da Campanha Esclarecendo e Divulgando a Esclerose Múltipla, organizada pela Associação Goiana de Esclerose Múltipla (Agem). Presidente da entidade fundada há dez anos, Eduarda Assis explica que a campanha, que sempre ocorre em setembro, foi antecipada para reforçar a proposta do Dia Nacional.

Atividades educativas e preventivas serão realizadas no Goiânia Shopping, Araguaia Shopping, Shopping Flamboyant e Aeroporto Santa Genoveva. Os objetivos principais são a identificação precoce de casos da doença e o encaminhamento para os serviços de atendimento. "Os casos suspeitos serão encaminhados para o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, onde funciona o Centro de Referência em Esclerose Múltipla", diz Eduarda.

Diretora médica da Agem, a neurologista Denise Sisterolli Diniz ressalta a importância da conscientização também da classe médica sobre a doença, que afeta o sistema nervoso central, comprometendo a transmissão dos impulsos nervosos e provocando fraqueza muscular, perda do equilíbrio, disfunção da bexiga e dos intestinos e paralisia.

Ela explica não ser rara a confusão dos sintomas da esclerose múltipla com aqueles causados por tensão, ansiedade ou estresse. Tonturas e vertigens, dois sintomas da esclerose múltipla, podem ser confundidos, por exemplo, com sinais de labirintite.

Segundo a médica, que é coordenadora do Centro de Referência em Esclerose Múltipla, alguns medicamentos podem atenuar esses sintomas, mas vão apenas camuflar o diagnóstico correto da enfermidade, que afeta, principalmente, os adultos jovens, com idades entre 18 e 45 anos. ¤ LEIA MAIS: " Diagnóstico tardio atrapalha " A esclerose múltipla Diagnóstico tardio atrapalha Cláudia de Fátima Lemos, de 31 anos, conhece bem a necessidade de orientação dos médicos e de conscientização da sociedade sobre o que é a esclerose múltipla.

Durante muito tempo ela sofreu com dores nas pernas, cabeça e a dilatação da pupila. Passou por vários médicos, que atribuíram as queixas ao estresse e ao excesso de trabalho da coordenadora de telemarketing, que chegava a trabalhar de 12 a 15 horas por dia. Há seis anos, com a visão turva, Cláudia procurou um oftalmologista. "Ele disse que esse sintoma era do uso de droga ou de uma doença muito rara", recorda Cláudia, que deixou o consultório com pedidos de exames para o diagnóstico da esclerose múltipla.

Ela submeteu-se aos testes no dia 26 de abril de 2001 e, no dia seguinte, antes de conhecer os resultados, sofreu sua primeira grande crise. "Estava trabalhando, quando me senti mal e já entrei em coma", recorda. Ela deixou o hospital vários dias depois com o lado esquerdo do corpo paralisado. O diagnóstico de esclerose múltipla foi confirmado.

O ano seguinte foi marcado por internações, perda de 90% da visão, longos períodos em cadeira de rodas e a aposentadoria. Aos poucos, Cláudia, que tem dois filhos, de 11 e 8 anos, foi se adaptando.

Recuperou parte da visão, passou a fazer uso contínuo de medicamentos para prevenir crises e atenuar sintomas, como a fadiga. Ela conta que muitos discriminam quem tem esclerose múltipla. "As pessoas precisam entender que, às vezes, não conseguimos fazer algo por puro cansaço e não por preguiça", exemplifica. A conscientização de médicos, diz, também pode evitar que outros pacientes percam tempo com diagnósticos equivocados, como aconteceu com ela.

Fonte: Jornal O Popular