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Limitando a Independência - Alzheimer

Limitando a Independência - Alzheimer

Após o início dos sintomas, alguns pacientes que ainda mantém algum grau de autonomia passam a apresentar problemas com relação à sua independência, podendo realizar atos que terminam por prejudicá-los, colocando em risco sua segurança física e/ou financeira. Quando impedir que o paciente administre bens e valores? Quando parar de dirigir? Quando deixar de trabalhar? Essas são algumas entre outras questões que devem ser analisadas com cuidado, com vistas a evitar mudanças bruscas com cerceamento violento da independência.

As questões básicas que norteiam as decisões devem ser tomadas a partir das respostas as 3 seguintes perguntas: O paciente pode realizar a tarefa completamente? Pode realizar essa tarefa com segurança, sem riscos para si ou para terceiros? Pode realizar essa tarefa sem alterações no seu comportamento habitual, sem angústia ou irritabilidade? Qualquer resposta negativa a uma dessas questões nos conduz à necessidade de tomar alguma atitude. Se bem que toda limitação imposta ao paciente gere uma perda de seu nível de independência é necessário que sejamos pragmáticos.

Pacientes que ainda mantém algum grau de discernimento costumam agarrar-se a determinadas atividades como, por exemplo, a de dirigir (especialmente os homens), por lhes conferir um grau de reafirmação frente aos seus déficits. Mesmo tendo em vista que a limitação imposta seja mal recebida a princípio, não devemos ceder na garantia da própria segurança do paciente e na de terceiros. Uma vez tomada à decisão de limitar alguma atividade, algumas estratégias amenizam os efeitos deste cerceamento.

DINHEIRO E VALORES

Uma pergunta freqüente, motivo natural de grande preocupação, diz respeito a quando e como limitar o gerenciamento de dinheiro e de outros valores. O controle do dinheiro e dos seus bens é importante e traduz sentimentos de independência e de senso de responsabilidade. Desta maneira, é fundamental para o paciente que essa transição seja suavemente administrada. A retirada brusca de todos os seus bens e valores, pode ser causa de grande insegurança, levando-o a apresentar por vezes graves distúrbios de ordem comportamental. Evidentemente isso se aplica especialmente na fase inicial, onde a fronteira relativa ao discernimento ainda não está bem estabelecida. Os talões de cheques e cartões de créditos devem ser cancelados, “perdidos” ou escondidos.

O valor das cédulas normalmente é mal compreendido pelo paciente e desta forma eles podem ter em seu poder um grande número de cédulas que absolutamente não representam valores substanciais. Este artifício é muito bem aceito e o paciente continuará a se sentir seguro com seus bens. Determinados pacientes se queixam e chegam a ficar agressivos querendo informações a respeito do seu dinheiro, onde está e como está sendo gerido. A manutenção de um diário onde se registra os números relativos às suas economias, discriminados de modo simples, ainda que não muito bem entendidos, demonstra que alguém está tomando as decisões acertadas e costuma servir para acalmá-lo. Quando o paciente é conhecido na vizinhança, as lojas próximas devem ser avisadas do problema que estão enfrentando, evitando-se assim que o paciente compre objetos caros em virtude de ser conhecido e possuir crédito. Dentro de cada caso, respeitados os costumes que imperam dentro do seio das famílias, várias possibilidades criativas podem ser aplicadas. É imperioso que, na fase inicial, a família se reúna e defina o rumo das finanças do paciente.

Nos casos iniciais e quando não há um bom entendimento entre familiares, esse problema pode ser extremamente grave. Filhos que não se entendem, disputando uma assinatura em procuração plena ou transferindo bens contra a vontade de outros filhos não é uma situação rara. O desagregamento familiar, por razões de várias matizes,é contraproducente e quando a questão financeira entra no rol das disputas, o ambiente torna-se ainda mais negativo e desfavorável. O aconselhamento jurídico por profissional especializado, nesses casos específicos, é fundamental.

TRABALHO

Talvez a maior perda que o individuo possa sofrer seja quando é afastado compulsoriamente de seu trabalho. Vários fatores vão determinar de que maneira esse afastamento será realizado, porém a melhor estratégia, se possível, é a preparação. Determinadas profissões pelos riscos que apresentam ou pelo peso de responsabilidade que abrigam não são passíveis de preparação adequada. Um cirurgião ou um motorista de ônibus cometerá erros fatais não permitindo adiamentos. Dentro da estratégia proposta, o primeiro passo é conversar com o chefe imediato. Certas pessoas são solidárias e podem, mudando a ocupação do paciente, retardar o seu desligamento da empresa, conferindo-lhes tarefas de menor responsabilidade. Após o desligamento, é comum que sobrevenham estados depressivos que devem ser avaliados clinicamente.

A perda laborativa pode, de alguma maneira, ser amenizada por ocupações domésticas ou atividades alternativas. Ocupar o paciente, mantendo-o ativo e fazendo-o sentir-se útil, é positivo, mas sempre se levando em conta as limitações, não pressionando ou delegando-lhes tarefas complicadas. Normalmente o afastamento do trabalho por doença acarreta também uma perda substancial no poder aquisitivo, por essa razão deve-se estar inteirado de todas as possibilidades imagináveis de eventuais benefícios ou seguros que o paciente tenha direito. DIRIGIR O ato de dirigir,depois de determinado tempo de experiência torna-se uma atividade praticamente automática.

Esse fato faz com que certos pacientes continuem dirigindo, aparentemente sem problemas, na fase inicial. O bom-senso nos diz que essa atividade é perigosa e deve ser restringida. Apesar de o paciente aparentar auto-suficiência, dirigir é um ato complexo, dependente de reflexos, rápidas tomadas de decisão etc., que invariavelmente estão comprometidos em maior ou menor grau. A primeira providência é tentar explicar o porquê da restrição e essa conversa, se presenciada por uma pessoa em que o paciente confie, por exemplo, o médico, pode ajudar. Uma das razões em geral bem aceita pelos pacientes é dizer-se que deve parar de dirigir por razões de saúde, não diretamente ligada com sua deterioração cognitiva. A venda do carro alegando várias razões de ordem prática também é uma alternativa. Em pouco tempo o paciente costuma esquecer-se do assunto.

Fonte autorizada : http://www.alzheimermed.com.br/ - Dr.Norton Sayeg Geriatria - Clínica Médica

   
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