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Dores Crônicas

De causas diferentes, nem sempre curáveis, a dor contínua leva ao estresse físico e psicológico, mas pode ser controlada Os passos ainda podem parecer pequenos, mas novos estudos e uma preocupação humanística mais acentuada entre profissionais da área de saúde sinalizam mudanças para 30% da população que sofrem algum tipo de dor crônica. Só no Brasil o número de pessoas afetadas é superior a 50 milhões, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde. Entre os resultados causados pela dor estão prejuízo com os dias perdidos no trabalho e o custo dos medicamentos; alterações no humor, no apetite e no sono; queda no sistema imunológico, levando ao estresse físico e psicológico.

Anestesiologista e especialista em dor, professor de Anestesia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, Onofre Alves Neto explica que dor crônica é definida como aquela que tem duração acima de 3 meses, embora outras correntes situem esse tempo acima de seis meses. Mais ainda, ensina, é uma dor de caráter contínuo, que pode se manifestar de diversas maneiras. Enquadram-se aí sensações de peso, de pontadas, queimação, ardor, num local em que houve lesão prévia (como uma fratura ou cirurgia), ou na situação em que não se identifica uma causa específica.

Os tipos mais comuns, segundo ele, estão relacionados a afecções do aparelho locomotor, ocorrendo em algum momento da vida em cerca de 40% dos indivíduos. São exemplos a dor articular, lombalgia (dor nas costas), dor muscular em diversas regiões como a cervical, lombar, ombro, disfunção da articulação têmporo-mandibular, artrites, artroses, as chamadas lesões por esforços repetitivos (LER), os distúrbios osteoarticulares relacionados ao trabalho (Dort).

Chamam a atenção ainda a chamada dor neuropática, causada ou iniciada por lesão ou disfunção do sistema nervoso, e a que atinge pacientes com câncer – responsável por 5% dos casos de dor crônica. Depressão A dor é um sintoma de alguma doença, esclarece Onofre Alves, e muitas não têm cura específica possível. Mas, afirma, a dor pode ser controlada na maioria dos pacientes, mesmo que não tenham a cura da doença que causa a dor. Na sua opinião, é importante oferecer alívio para o paciente. Não só para evitar os males que a própria dor causa, mas principalmente para evitar o aparecimento de doenças associadas, como a depressão.

Segundo ele, em estudo de prevalência da dor crônica no mundo, apresentado no Congresso Mundial de Dor em 2005, na Austrália, ficou demonstrado que 21% dos pacientes com dor crônica na Europa e na Austrália têm depressão. Sexo feminino, idade avançada, baixo nível educacional e trabalho braçal estão entre os principais fatores de risco para o aparecimento da dor crônica e a dor lombar é o tipo mais visto nos consultórios. Neste caso, a artrite ou a osteoartrose são as causas mais prevalentes, conforme o professor Onofre. Embora não sejam os exemplos mais comuns, diz ele, também as crianças podem ter dor crônica, principalmente associadas com o câncer ou algum tipo de dor neuropática. O evento que causa a dor crônica na infância pode ser um trauma mínimo ou uma contusão maior até fraturas ou cirurgias, processos inflamatórios ou outros fatores desencadeantes.

Como na maioria dos casos não se consegue tratar a causa da dor crônica, geralmente o tratamento é demorado, explica, consistindo não só na utilização de medicamentos, mas principalmente de medidas associadas, como o tratamento da depressão e uso de fisioterapia, entre outros. O tratamento deve ser individual, orientado e sempre multiprofissional, para se chegar a um resultado melhor. Projeto de 2002 prevê centros de referência O Ministério da Saúde lançou em 2002 o Programa Nacional para o Tratamento da Dor Crônica, com a previsão de instalar 174 centros de referência em todo o País.

Em Goiás seriam implantadas cinco dessas unidades, conforme estabelecido pela Portaria nº 1319/GM. Vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (Sbed) e presidente da Associação Goiana para Estudo da Dor, o professor Onofre Alves Neto diz que não tem qualquer informação de que algum dos centros de referência tenha sido instalado em Goiás. Recentemente, acrescenta, a Sbed se reuniu com os responsáveis pelo Setor de Atividades de Alta Complexidade do Ministério da Saúde, cobrando a implantação dos Centros criados em 2002. A entidade foi informada, nesse encontro, de que o Ministério estaria ultimando preparativos nesse sentido. Só para dar uma idéia da importância desses centros, o professor Onofre cita que, no Congresso Mundial de Dor de 2005, na Austrália, foi mostrado que o tratamento da dor é feito em serviços primários de atenção à saúde (ao invés de um médico especialista em dor) em 70% dos casos analisados na Europa, em 57% no Japão, em 51% nos Estados Unidos, em 66% na Austrália e em 76% na Nova Zelândia.

(Segundo a Organização Mundial de Saúde, a dor crônica afeta 30% da população no mundo.)

Fonte - Jornal O Popular

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