Mundo Mulher

- Transplante de medula óssea

30/11/2011

Transplante autólogo  (Caso Gianecchini)

 

15% de líquido retirados da medula óssea do doador podem salvar a vida dos que sofrem de leucemia


Os transplantes de medula óssea têm sido realizados de maneira crescente nos últimos anos no Brasil. Em 2010, a soma de pessoas que se submeteram à cirurgia foi quase 11% maior que no ano anterior, reflexo de um total de 1.695 cirurgias contra 1.531 em 2009 (Ministério da Saúde). Entre as doenças combatidas estão a leucemia, doença maligna das células do sangue e também o linfoma (grupo de doenças que se originam nas células do sistema linfático).

Normalmente desconhecida pela maioria das pessoas, pelo menos no que diz respeito aos detalhes, a medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso que ocupa o interior dos ossos. Diferentemente da medula espinhal, que é formada de um tecido nervoso que ocupa o espaço interno da coluna vertebral, é na medula óssea que são produzidos os componentes do sangue, como as hemácias (glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas, fundamentais para a vida humana.

Como explicar, na prática, o transplante de medula óssea? “Ele consiste na destruição da medula óssea doente do paciente e posteriormente a reconstituição desta medula com células normais”, explica Eliseo Sekiya, pesquisador da USP pela CordCell. Segundo ele, o objetivo é “eliminar as células-tronco doentes da medula óssea com altas doses de quimioterapia e re-estabelecer as funções normais da medula óssea através da infusão de células-tronco saudáveis provenientes de um doador ou obtidas do próprio paciente. Estas células podem ser obtidas na medula óssea ou do sangue de cordão umbilical”.

 


Três tipos diferentes de transplantes e três fontes de célula para transplante

 

Interessante afirmar que, entre os transplantes de medula existentes, há o chamado autogênico, quando as célula-tronco vêem do próprio paciente ou alogênico, quando provém de uma doação. A terceira forma de transplante de medula se refere aquele que pode ser feito a partir de células obtidas de um irmão gêmeo idêntico, sendo chamado transplante singênico (Instituto Nacional do Câncer – INCA). No caso de um transplante autólogo, após o paciente completar as sessões de quimioterapia, as células-tronco da medula óssea saudáveis são retiradas do próprio paciente, armazenadas congeladas e transplantadas, após o ‘condicionamento’, que consiste em altas doses de quimioterapia que destroem as células doentes ainda remanescentes no organismo do paciente.

No caso de um transplante alogênico, as células-tronco de um doador compatível saudável são coletadas e congeladas, enquanto o paciente receptor recebe altas doses de quimioterapia (condicionamento) para destruir as células doentes e posteriormente receber as células doadas seguidas de tratamento com medicamentos para evitar a rejeição. O transplante singênico é idêntico ao alogênico, porém as células do irmão gêmeo idêntico são totalmente compatíveis, não necessitando medicamentos para evitar a rejeição.

Quanto às possíveis fontes de células-tronco para transplante, inicialmente só era conhecida a própria medula-óssea, necessitando internação do doador compatível para realizar a coleta da medula por aspiração direta do osso da bacia ou do osso externo através de agulhas específicas. Posteriormente, desenvolveu-se a tecnologia para coletar as células da circulação sanguínea do doador através de máquinas em alguns casos. Há cerca de 20 anos descobriu-se a fonte de células-tronco mais disponível e que não expõe o doador a riscos, que é o sangue de cordão umbilical.


Quando ele é necessário? Quem pode doar?

 

“O transplante de Medula Óssea pode ser necessário em vários casos”, responde Sekiya. Segundo o especialista, o transplante se faz necessário em doenças como anemia grave e alguns tipos de leucemias, nos linfomas e no mieloma múltiplo.

O doador precisa ser compatível com o receptor e estar com boa saúde, sem doenças transmissíveis como AIDS, Hepatites, Sífilis, Doença de Chagas, entre outras. Assim sendo, pode ser um parente (em geral os pais ou irmãos), mas na ausência destes, a busca por um doador compatível entre os grupos étnicos (brancos, negros amarelos etc.) é uma opção. As chances de encontrar doadores compatíveis entre não parentes é geralmente muito pequena, principalmente entre populações com elevado grau de miscigenação.

 


Cuidados para quem doa e para quem recebe o transplante de medula óssea

 

Alguns passos devem ser seguidos, especialmente pelo doador, que, antes da doação, terá de se submeter a um rigoroso exame clínico. “É preciso confirmar o bom estado de saúde da pessoa que vai doar e isso inclui exames complementares”, ressalta o pesquisador. A equipe de transplante sempre avalia a melhor forma de coletar as células do doador, podendo ser proposta a coleta direta da medula ou do sangue periférico, com o consentimento livre e esclarecido assinado pelo doador.

Após ter a medula literalmente destruída por um tratamento com medicamentos que atacam as células doentes, o paciente recebe a medula sadia. “Podemos comparar esse processo a uma transfusão de sangue”, comenta Sekiya.

A nova medula é altamente rica em células-tronco chamadas progenitoras que, uma vez na corrente sanguínea, circulam e vão se alojar na medula óssea, onde se desenvolvem (INCA). Enquanto isso não acontece, ou seja, no período em que as células ainda não produzem glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas suficientemente, o receptor fica mais exposto a episódios infecciosos e hemorragias. Assim, deve ser mantido internado no hospital, em regime de isolamento.


 

Os riscos

 

Como em toda intervenção médica realizada, os riscos também estão presentes no transplante de medula óssea. No caso do receptor, os riscos estão relacionados às infecções e às drogas quimioterápicas utilizadas durante o tratamento.

Outro detalhe importante a ser destacado é a questão da possível certa rejeição por parte das novas células em relação ao organismo do receptor quando o transplante é realizado com células provenientes de um doador compatível (alogênico). Neste caso, por mais que sejam compatíveis, as células transplantadas que vieram do doador podem reconhecer as células do organismo do receptor como estranhas e atacá-las, provocando um tipo de reação conhecida como reação do enxerto contra o hospedeiro. Esta reação ocorre principalmente com células obtidas da medula óssea do doador, sendo mais rara quando as células são obtidas do sangue de cordão umbilical.

Os riscos relacionados ao doador de medula óssea são poucos e têm a ver, basicamente, com a anestesia. Por isso, uma avaliação pré-operatória, que vai analisar as condições clínicas e cardiovasculares do doador, é de extrema importância.

Menos de 15% é a quantidade de medula óssea retirada, segundo informação do Instituto Nacional do Câncer. Outra boa notícia é que a medula óssea do doador estará completamente recuperada dentro de poucas semanas.


- Dr. Adelson Alves, pediatra, especialista em Hematologia e Hemoterapia, diretor da CordCell - Centro de Terapia Celular / Médico especialista pela Sociedade Brasileira de Hemoterapia e Hematologia / Fellow da American Academy of Pediatrics / Membro efetivo da International Society of Cell Therapy;
 
- Dr. Elísio Sekiya, hematologista, pesquisador da USP, mestre em Epidemiologia aplicada à Hemoterapia pela Universidade de São Paulo, membro da International Society of Cell Therapy, presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa - IEP São Lucas e consultor científico da CordCell - Centro de Terapia Celular.

- Dr. Bruno Santucci, oncologista do corpo clínico do Instituto Hemomed - Oncologia e Hematologia, membro da International Society of Blood Transfusion - ISBT, membro da American Association of Blood Banks - ABB e membro da Internacional Society of Cell Therapy - ISCT.

 Nathalia Fernandes - rojascomunicacao@uol.com.br


 

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