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Exercícios físicos no período gestacional - Denise Macedo

    Denise Macedo

 

 No início do século 20 a atividade física durante a gestação era contra-indicada. Acreditava-se que a prática de exercícios poderia promover consequências adversas nas fases iniciais e finais da gestação e prejudicar o desenvolvimento do bebê. O período gestacional era visto como um estado de confinamento, no qual as mulheres eram desencorajadas a realizar qualquer tipo de atividade física.

A partir dos anos 80, diversos estudos clínicos e epidemiológicos demonstraram que o exercício físico, realizado com intensidade leve a moderada, não promove efeitos adversos no período gestacional e distúrbios fetais. Indicando que as recomendações anteriores eram excessivamente conservadoras.

Atualmente o foco dos estudos é outro, o meio científico se preocupa com as consequências do sedentarismo durante a gravidez. Ficar parada nesta fase pode ser sim um grande problema! Estudos recentes comprovam que a falta de atividade física na gestação pode causar perda de massa muscular e de condicionamento cardiovascular, ganho excessivo de peso, maior risco de desenvolver diabetes e hipertensão gestacional, problemas circulatórios, alta incidência de dores lombares e dispnéia (falta de ar ou fôlego curto), além de piores ajustes psicológicos às mudanças físicas provocadas pela gravidez.

Uma instituição reconhecida internacionalmente (Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Canadá) recomenda que todas as mulheres com gestação sem complicações, ativas ou sedentárias, sejam encorajadas a participar de atividades aeróbias e de força muscular como parte de um estilo de vida saudável.

Antes de iniciar um programa de exercícios é necessário a liberação médica. Existem contraindicações relativas e absolutas para a prática de atividades físicas durante a gestação, as quais devem ser avaliadas pelo ginecologista.

No caso de gravidez sem complicações recomenda-se praticar atividades aeróbias e de força muscular com intensidade leve a moderada, sem objetivos de atingir a máxima performance. Uma forma fácil de acompanhar a intensidade é através da percepção subjetiva do esforço, ou seja, a gestante deve sentir que a atividade realizada está moderadamente leve à um pouco difícil. Outra forma de perceber a intensidade do exercício é ser capaz de conversar durante o treinamento, caso contrário a intensidade deve ser diminuída.

De acordo com o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia,  durante a gestação são contra-indicadas  atividades que aumentem risco de quedas e choques, assim como o mergulho autônomo (com cilindro de ar comprimido). Para a maioria das mulheres, exercícios que promovem grande impacto sobre as articulações (ex: squash, tênis e corrida) não são indicados ou devem ser prescritos com cautela. O treinamento para o desenvolvimento da flexibilidade (alongamento) deve ser realizado com moderação devido ao maior relaxamento dos ligamentos durante este período.

É verdade que novos estudos são necessários para se avaliar detalhadamente os efeitos de diversos tipos de exercícios, modalidades (yoga, pilates etc) e intensidades.  No entanto, para grande parte das gestantes, os riscos com a prática de exercícios não são reais e os beneficios para a saúde são concretos. Estudos recentes demonstram que a prática de exercícios reduz em até 60% o risco de pré-eclâmpsia e em aproximadamente 50% o risco de diabetes gestacional, além de estar associada a menores índices de depressão pós-parto.

Para as mulheres que optaram pelo parto normal é importante informar que a prática de exercícios parace ter impacto positivo sobre a habilidade de empurrar o bebê durante o parto. Existem indícios de que exercícios específicos para a musculatura do assoalho pélvico (ou períneo, como é conhecido) previnem a incontinência urinária durante a gestação e após o parto.

A musculação e a ergometria (bicicleta estacionária, esteira, transport e step) se enquadram como boas opções de prática no período gestacional. As atividades são realizadas em ambiente controlado (sem risco de quedas ou choques) e os exercícios podem ser adaptados de forma a evitar grande impacto articular, sendo também possível controlar de maneira precisa a intensidade do treinamento. Além disso, existe a possibilidade de se buscar posturas e ângulos de movimentos adequados e confortáveis, evitando posições contra-indicadas como a supina (deitada de costas), que provoca relativa obstrução do retorno venoso e consequente diminuição do débito cardíaco.

Conhecendo os benefícios do exercício bem direcionado, não tem porque ficar parada. Ao engravidar não dê uma pausa no seu modo de vida ativo!

 

Denise Macêdo

Personal Trainer

Graduada em Educação Física pela USP

Especialista em Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido para Grupos Especiais pela Faculdade de Medicina da USP

Mestre em Ciências da Saúde pela UFG

 

Fontes:

 

Artal, R.; O´Tootle, M. Guidelines of the American College of Obstetricians and Gynecologists for exercise during pregnancy and postpartum period. British Journal of Sports Medicine, 37: 3-12, 2005.

 

Davies, G.A et al. Joint SOCG/CSEP Clinical practice guideline. Exercise in pregnancy and postpartum period. Journal of Obstetrics and Gynaecology Canada, No.129, June 2003.

 

Dempsey, F.C et al. No need for a pregnant pause: physical activity may reduce the occurrence of gestational diabetes mellitus and preeclampsia. Exercise and  Sport Science Reviews., 33 (3): 141-149, July 2005.

 

Pivarnick, J. M. et al. Impact of physical activity during pregnancy and postpartum on chronic disease risk. Roundtable consensus statement. Medicine and Science in Sports and Exercise, 2006.

 

Weissgerber, T.L. et  al. The role of regular physical activity in preeclampsia prevention. Medicine and Science in Sports and Exercise, vol. 36, No. 12 pp. 2024-2031, 2004.

 

 

 

 

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