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O valor da visão. Dra. Juliane Paranhos

A importância de fazer avaliações oftalmológicas anuais.  

 Noventa por cento de todas as informações que uma pessoa recebe são obtidas através dos olhos.  A partir desta informação dá para ter idéia do quanto a visão é importante para nós. Um grupo de oftalmologistas estudou especificamente sobre isto e as conclusões mostram o grande impacto que a perda da visão em diversos níveis causa na qualidade de vida das pessoas.

O estudo entitulado o “valor da visão” concluiu que pacientes com perda moderada da visão, mas que ainda não se encaixam no grupo de pacientes com visão subnormal (visão de 20/30 a 20/50) tinham scores de qualidade de vida semelhante a pacientes com doenças oportunísticas causadas pela AIDS. Estes pacientes estariam dispostos a pagar com 19% do tempo que lhes restam de vida para ter de volta uma visão normal.  Pacientes com visão subnormal (acuidade visual entre 20/60 e 20/200), ou seja, aqueles em que a alteração visual causa grande dificuldade para ler podem ser comparados a pessoas que têm angina pectoris severa. Estas pessoas responderam que estariam dispostas a trocar 22 a 28% do tempo que lhes resta de vida para ter de volta a visão normal. Os pacientes considerados legalmente cegos, ou seja, aqueles com visão de 20/200 ou pior trocariam aproximadamente 50% do tempo que lhes resta de vida para voltar a ter visão normal. A qualidade de vida destes pacientes pode ser comparada a de pessoas que ficaram incapazes de andar após um acidente. Os totalmente cegos chegam a abrir mão de 60% deste tempo de vida. A qualidade de vida destes pacientes foi comparada a de pessoas com grave deficiência física e que não podem sair do leito e têm incontinência urinária.

A boa notícia é que a maior parte das causas de perda da acuidade visual é passível de prevenção ou cura. Mas para isto é importante fazer exames oftalmológicos regulares desde a infância. 

O número de casos de cegueira e visão subnormal aumenta com a idade. Noventa por cento dos casos ocorrem em regiões pobres, 60% são evitáveis e 40% hereditárias. Dados atuais indicam que existem cerca de 180 milhões de pessoas no mundo com alguma deficiência visual. De acordo com estimativas recentes estima-se o Brasil tenham cerca de 5,4 milhões de pessoas com deficiência visual severa (cegueira ou visão subnormal). Os erros refracionais (miopia, hipermetropia e astigmatismo), apontados como uma das principais causas de deficiência visual no Brasil, não estão incluídos nestas estimativas, portanto, os números referentes a  deficiência visual no Brasil devem ser ainda maior. Um estudo publicado numa importante revista oftalmológica em 2008 concluiu que 43 a 88% das causas de baixa visão na America Latina são curáveis.

As principais causas de cegueira ou de visão subnormal no mundo são:

1.      Catarata (47,8%)

2.      Glaucoma 12,3%

3.      Doença Macular relacionada a idade 8,7%

4.      Opacidades de córnea 5,1%

5.      Retinopatia Diabética 4,8%

6.      Cegueira Infantil 3,9% sendo a principal causa a retinopatia da prematuridade

A catarata é maior causa de cegueira curável do mundo. É tratada com uma cirurgia altamente eficaz e a recuperação visual é completa desde que o paciente não tenha outra doença ocular associada.

O Glaucoma é uma doença assintomática que pode levar a cegueira e é diagnosticada no exame oftalmológico de rotina. O diagnóstico precoce é importante para preservar o nervo óptico e a visão.  No Brasil estima-se que exista 1 milhão de portadores, metade deles assintomática.

A retinopatia relacionada a idade (DMRI) é uma doença progressiva, sendo a uma das principais causas de cegueira após os 60 anos de idade. Calcula-se que 3 milhões de brasileiros acima de 65 anos sofram de DMRI. Atualmente é possível retardar a evolução da doença com o uso de um complexo vitamínico específico.  Além disto, existem outros tratamentos que objetivam melhorar a qualidade da visão dependendo da fase e do tipo da DMRI.

A retinopatia diabética é a maior causa de cegueira prevenível em pacientes em idade produtiva, atingindo 50% dos diabéticos em alguma fase da vida.O tratamento e o controle adequado é importante para preservar a visão. Além disto, através da avaliação da retina e seus vasos dá para ter uma noção de como estão os vasos em outros importantes órgãos como cérebro, coração e rim. Assim, alterações retinianas servem de alerta para possíveis alterações nestes órgãos também.

Cerca de metade das causas de cegueira em crianças cegas no mundo são evitáveis. A principal causa de cegueira infantil, a retinopatia da prematuridade, pode ser diagnosticada através do teste do olhinho e ser tratada evitando a cegueira. O retinoblatoma, o tumor ocular  mais freqüente na infância, também pode ser diagnosticado durante este teste e, neste caso, o diagnóstico precoce além de preservar a visão também preserva a vida da criança.

A visão é um dos bens mais preciosos que nos foi dado. Para preservá-lo é importante que se faça exames oftalmológicos anuais. Muitas pessoas deixam para fazer exames oftalmológicos apenas quando notam alguma alteração na visão ou para renovar o grau dos óculos. É importante derrubar este mito de que o oftalmologista deve ser procurado apenas quando já existe alguma dificuldade visual. Muitas doenças graves e que podem levar a cegueira são assintomáticas e só serão diagnosticadas numa fase precoce, onde ainda é possível preservar a visão, se os exames oftalmológicos forem feitos rotineiramente. A refração ou o exame do grau dos óculos é apenas uma pequena parte da consulta oftalmológica, nesta hora o oftalmologista também fará uma avaliação cuidadosa da sua acuidade visual, retina, nervo óptico, da região anterior dos olhos e da pressão.

Visão: examinar para preservar.

Dra Juliane de F. S. Paranhos, oftalmologista com subespecialização em patologia ocular externa e córnea. Membro do setor de córnea do Hospital da Visão. Doutoranda pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

www.hospitaldavisao.com.br

 

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