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Fashion Rio - penúltimo dia - De menina a mulher

Fashion Rio - penúltimo dia - De menina a mulher

18/01/2012

Coleção de Walter Rodrigues inspirada no filme A Fita Branca apresenta o figurino de garotas que vão ao colégio e se transformam em adultas sofisticadas

Rio 37º. Quase chegou aos 40º, como brincam os cariocas. O penúltimo dia do Fashion Rio, semana de moda do Rio de Janeiro que reuniu 24 marcas em cinco dias de desfiles e encerrou no sábado, contou com a bênção do céu. Ou com o sol.


No Píer Mauá, a atitude blasé que invade os eventos de moda perdeu um pouco o sentido. Carão não combina com sol quente. Sol é sinônimo de alegria, pelo menos na cidade descrita como maravilhosa.

Numa sexta-feira quente e a primeira sexta 13 de 2012, cinco marcas apresentaram a moda inverno. O dia começou bem porque Walter Rodrigues abriu a estação. Envolvido pela alegria do Rio de Janeiro, o estilista realmente apresentou uma coleção de inverno. Um inverno sofisticado e feito para o nosso clima. O dia contou ainda com os desfiles das marcas R.Groove, Ágatha, Filha de Gaia e Printing.

Esqueça, pelo menos temporariamente, o Walter que fazia roupas de festa. Ele não existe mais. "Vocês vão ter que se acostumar", revelou o estilista no camarim, antes de apresentar a coleção inverno. "Não tem roupa de festa, por um bom tempo. A imagem muda", repetiu o mestre do design nacional.

Com base em São Paulo, mas desde 2004 ancorado na semana de moda do Rio de Janeiro - "isso já é velho, já faz quase dez anos", justificou sua presença na semana de moda carioca -, Walter concebeu um inverno diferente da maioria das coleções vista no Rio. Vetou o salto alto na passarela (a sua mulher usa coturno) e apoiou-se no branco (a cor branca foi o diferencial da coleção), preto, cinza. Cores tradicionais do verão, que evoluíram para um vermelho intenso e até três variações de estampas no mesmo look, combinação perigosa, que nem todos conseguem. Walter, sim.

O figurino é austero. "Rígidos", como ele define.. "São meninas que vão para escola e, depois, se transformam em adultas." Adultas sérias. E assumidamente elegantes. Calças, casacos, sobreposições ganharam ainda mais o olhar graças à passarela e um túnel em perspectiva revestido por laca vermelha.

A raiz da coleção dividida em dois momentos vem de duas obras que conversam entre si. A primeira é o filme austríaco A Fita Branca , de Michael Haneke. A segunda: o livro Man in the Tewntieth Century (Homens do Século 20), projeto de vida do fotógrafo alemão August Sander (1876/1964). "É meu livro de cabeceira", observou. O filme retrata a Alemanha às vésperas da 1ª Guerra Mundial. O livro faz uma radiografia da Alemanha desde que August começou a fotografar até sua morte.

Calmo, apesar da espera da passarela - "o ensaio já foi feito", indicou o momento que o deixo mais tenso - e feliz com resultado da coleção, Walter diz que segue ao pé da letra uma frase: "Enquanto estiver me divertindo, tô aqui." O aqui é o mundo da moda, para o qual ele sempre lança um olhar novo.

Os chapéus de Laurino

A coleção de Walter chama a atenção ainda pelos chapéus. É só efeito de passarela. "Não gosto da expressão. Se alguma louca quiser usar, se joga", observa, mais uma vez, o princípio básico da moda: a diversão. Com ou sem chapéu.

Os chapéus são releituras daquelas peças usadas por freiras na Europa nos séculos 18 e 19. São criações de Eduardo Laurino, o estilista-chapeleiro paulista, parceiro de Walter nas últimas quatro coleções. São feitos em renda, cetim e veludo. "Exploram a religiosidade e as formas retas, pontiagudas", explicou Eduardo.

A intenção do chapeleiro foi abrir o leque. Dar um novo uso para o chapéu, especialmente as peças mais retas, que, para ele, viraram um "capacete". As peças que vestem a cabeça trazem ainda toucas confeccionadas em renda. Um mimo contemporâneo. Que faz bem à cabeça das mulheres. Mesmo os turbantes feitos a partir das estampas que Walter criou para o inverno 2012.

Ao som do grupo inglês Pink Floyd, a top da temporada Isabeli Fontana surgiu num vestido com todo brilho na passarela da Ágatha, o segundo momento de impacto do penúltimo dia da semana de moda carioca. Muito brilho e vestidos que podem ser descritos como camisas gigantes. Peças em tricô foram outro apego da coleção.

R.Groove foi a única marca de moda exclusivamente masculina presente no evento. Casa alfaiataria com esporte com a mesma qualidade. Já a Filhas de Gaia trabalha só com o feminino. Misturou a África e o Japão na passarela.

Printing encerrou a noite. Fez um desfile elogiado, especialmente porque desenvolveu um look se valendo do gorgorão, para criar uma "nova renda". Mas a coleção tem muito mais. Sobreposições e um jogo de grafismo criativo. Elegante.

Fotos: Ricardo Moraes

Fotos: Ricardo Moraes
 
Filhas de Gaia: influências do Japão e da África
Fotos: Ricardo Moraes
 
Agatha: conforto e criações mais descontraídas
Fotos: Ricardo Moraes
 
Walter Carvalho: inverno elegante e sofisticado
O Popular - Sebastião Vilela Abreu - Do Rio de Janeiro
O repórter viajou a convite da organização do evento

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