Mundo Mulher

O peso da certidão - Janaína Rico

 O peso da certidão - Janaína Rico

     09/06/2009

           

Quando eu sonhava com o casamento, tudo que vinha à minha cabeça era um vestido branco com um lindo véu, um bolo de seis andares e a marcha nupcial. Para mim não passava de uma festa, onde eu, a noiva, seria o centro das atenções, e todos iriam dizer o tanto que eu estava linda e maravilhosa.

            No momento em que eu assinei um contrato de convivência com o Samuel, nós já vivíamos juntos há sete anos, e pensei que por isso, o nosso relacionamento continuaria exatamente o mesmo. Seria apenas uma formalidade. Me enganei tão redondamente que fiquei até zonza.

            O peso de uma certidão de casamento é tão grande que, se o relacionamento não for montado em cima de uma estrutura muito bem construída, ele desmonta. Uma aliança na mão esquerda diz ao mundo todo que você resolveu, por livre e espontânea vontade, viver com uma pessoa escolhida no meio da multidão para ficar ao seu lado pelo resto dos seus dias. Ou pelo menos, no momento em que você assinou o papel e enfiou o anel no dedo, queria que assim fosse.

            O mais engraçado é que eu sempre tinha sido do time que acreditava que “unido com fé, casado é”. Minha vontade de casar era mais para ter a festa, já que eu sou movida a comemorações. Sempre disse que união estável e casamento são a mesma coisa. Precisei casar para ver que não são.

            E os seus olhos em relação ao parceiro também mudam. Com certeza, passei a ver o Samuel de outra forma. O problema é que tem modificações positivas e negativas. O lado bom da coisa é que dá a certeza que o homem verdadeiramente te ama. Não é qualquer sujeito hoje em dia que tem peito de casar de papel passado. É muito cômodo ir morando junto e dizendo que já é marido, sem ter que ir ao cartório. Ver que a maioria das mulheres solteiras ou “juntadas” queriam estar no seu lugar também é divertido. E o mais legal de tudo é ter um álbum de casamento.

            Mas o lado ruim é bastante perverso. O homem parece que se sente preso ao papel que assumiu perante a sociedade. Um belo dia, logo nas primeiras semanas depois do casamento, o Samuel queria sair para tomar cerveja no mesmo dia que ia ter um jantar na casa do meu primo. Pedi para ele ir comigo ao jantar, e ele se irritou, apontando para o dedo indicador, dizendo que ele agora tinha um cadeado. Não era nada daquilo, ele me interpretou mal e a culpa foi para o casamento.

            E além disso a namorada passa a ser a esposa. Nessa há o risco de acabar o romantismo. A namorada tem que ser seduzida, que ser acarinhada, que ser conquistada. Homem acha que a esposa já foi ganha, e por isso eles não precisam fazer mais nada. Acabam perdendo a esposa que estava doida para ser a eterna namorada.

            Não estou me queixando, nem nada. São apenas constatações. Tenho a faca e o queijo na mão para não deixar que o meu lindo casamento caia nessa. Como na maioria das vezes, depende apenas da mulher colocar os pingos nos is. Os homens costumam ser muito burros emocionalmente para terem as rédeas do relacionamento.

            Janaina Rico - janainarico@gmail.com

Mundo Mulher
Mundo Mulher
Mundo Mulher
box_veja