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O problema com as metáforas - Flávio Paranhos

O problema com as metáforas - Flávio Paranhos

22/07/2014

A lição alemã, excelente artigo de autoria de Carlos Vinícius Alves Ribeiro publicado no POPULAR de 16 de julho, vale-se de uma metáfora para expor o que pensa o autor a respeito do famigerado jeitinho brasileiro. Compartilho com o autor a indignação diante desse suposto traço de personalidade nacional. Assim como a admiração pela admitida disciplina alemã. Há, entretanto, problemas com sua escolha.

Pra bancar o chato, mesmo considerando a autoproclamada ignorância do autor quando o tema é futebol, simulação de falta é uma praga generalizada. Só não é praga maior do que a proliferação das próprias faltas no futebol de hoje, um dos motivos para o assassinato do jogo bonito. Chega ao bizarro ponto de fazer parte de táticas tidas como bem-sucedidas.

No que diga respeito a esta Copa especificamente, uma reportagem do Nouvel Observateur (E o melhor simulador é...) selecionou os mais caras de pau. E olha só a lista: Fred (Brasil), Thomas Müller (Alemanha), Marcelo (Brasil), Samaras (Grécia) e... o campeão Robben (Holanda). Há dois brasileiros, exclamará Ribeiro, em defesa de sua metáfora. Sim, mas há um alemão, e o vencedor é um holandês.

É verdade que poderíamos ampliar a lista bastante, mas não há sentido em fazer isso, porque, de saída, o futebol não nos serve. Além do quê, estaríamos cometendo um pecado que, sempre que consigo me policiar, evito. O pecado da conclusão intuitiva. Assumir que o povo brasileiro não presta por causa do jeitinho, e o alemão presta porque é disciplinado é perigoso, cientificamente falando.

As evidências disponíveis até o momento apontam, todas, para uma verdade mais dolorosa. Ninguém presta. O ser humano não presta, ergo, eu não presto, Ribeiro não presta, você, que me lê, não presta. Somos todos (embora em maior ou menor grau) egocentrados e nepotistas (e aqui discordarei de Tocqueville e Rosângela Chaves – o individualismo não é uma doença da modernidade. Nem é uma doença, nem é moderno. Está entranhado em nossa essência desde sempre).

Categorizações generalizantes são armadilhas tentadoras, mas devemos evitá-las. Agora vou me desdizer: permitam-me categorizar os argentinos, de forma geral. Eles não são apenas os mais chatos, são também sem noção. Vêm ao Brasil cantando uma musiquinha boba, que lembra um jogo de 24 anos atrás, mas que se tornou irritante por conta de sua repetição à exaustão. Quebraram os estádios, a Savassi, o Rio... Provocaram-nos 24/7. E agora não entendem por que torcemos pra Alemanha! Sinceramente...

 Publicado em O Popular

Flávio R. L. Paranhos é médico,doutor em Oftalmologia pela UFMG, com doutorado-sanduíche (CNPq) na Universidade Harvard, mestre em Filosofia pela UFG e professor do Departamento de Medicina da PUC Goiás

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