Mundo Mulher

Rios da Amazônia

17/08/2009

Os rios da Amazônia, por seu volume e suas surpresas, valem o passeio às cidades embrenhadas na maior floresta do mundo

Texto e fotos: Rogério Borges
De Manaus e Presidente Figueiredo (AM)

O divórcio entre as águas dos Rios Negro e Solimões é bem conhecido e atrai turistas de todo o mundo há décadas. Este espetáculo natural fica ainda mais fascinante quando os dois grandes cursos d’água que formam o maior rio do mundo, o Amazonas, estão, como se diz aqui em Goiás, “bufando”.

Este ano Manaus registrou a maior cheia de sua história. No porto da cidade, a profundidade do Rio Negro passou dos 30 metros. Ilhas foram inundadas por até seis metros de água. Trilhas, antes feitas a pé, só puderam ser percorridas por voadeiras. Nestes locais, apenas as copas das grandes árvores não ficaram submersas.

Mesmo as populações ribeirinhas se assustaram desta vez. Nas proximidades de Manaus, as comunidades foram obrigadas a morar, literalmente, dentro do rio. As casas, amarradas a árvores mais frondosas, flutuavam sobre um madeiramento especial. Até as igrejas dos povoados ficaram boiando sobre as águas.

Um cenário que traz transtorno aos habitantes, mas que faz a festa dos turistas. No Encontro das Águas, o tráfego de embarcações de todos os portes – de petroleiros de enorme calado a canoas que parecem frágeis – é intenso. O turista pode requisitar o passeio nos próprios hotéis da capital amazonense, com opção de traslado até o porto.

Preços
A ida ao local onde os Rios Negro e Solimões se encontram dura o dia todo, com direito a visita a vitórias-régias no meio da mata, vista privilegiada de botos e um almoço com peixe fresco. O preço varia conforme o luxo do barco. O melhor é contratar empresas com maior estrutura e segurança de navegação, afinal há trechos em que a profundidade das águas chega a 50 metros.

Estas firmas cobram, em média, entre R$ 90 e R$ 120 por pessoa. Pode parecer caro, mas não é. O barco demora cerca de uma hora para chegar ao Encontro das Águas, descendo o Rio Negro por 18 km. Em seguida entra pelo Rio Solimões, de correnteza mais forte, e vai a uma comunidade localizada numa ilha. A comida é boa, os guias dão várias informações interessantes sobre a Amazônia e ainda é possível comprar lembrancinhas.

Manaus, porém, não se restringe aos seus colossais rios. Na cidade fica uma das maiores joias arquitetônicas do Brasil, o Teatro Amazonas. Sua cúpula, com 60 mil telhas vitrificadas, dá imponência ao prédio. Por R$ 10, o turista pode fazer um passeio de cerca de uma hora em seu interior, conhecendo os salões, a galeria, os camarotes e a sala de espetáculos em forma de ferradura, com capacidade para 700 pessoas.

O teatro fica no centro histórico e na praça em frente, que foi revitalizada, está o mais famoso quiosque de tacacá, um caldo típico do Norte brasileiro, feito com uma folha de poder anestésico. Vá com calma com o tacacá. Estômagos menos acostumados à iguaria podem estranhar.

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DICAS

¤ Manaus é a cidade dos camelôs. A Zona Franca impulsiona o comércio informal. Os ambulantes não param de trabalhar nem em domingos e feriados. E haja paciência para transitar em calçadas tão cheias de tudo quanto é geringonça.

¤ O trânsito manauense, ou manaura, é uma loucura. Consegue ser pior do que o de Goiânia. Os motoristas não respeitam nada os pedestres e as ruas estão sempre cheias de ônibus e vans.

¤ Na cidade há uma livraria dos sonhos, no Manauara Shopping. A megastore foi inaugurada este ano e seu acervo, certamente, é maior do que os de todas as livrarias de Goiânia somados.

¤ Não transite no centro histórico de Manaus depois das 8 da noite. É perigoso.

¤ Manaus é uma cidade muito, muito cara. Por conta das dificuldades de acesso à região, os alimentos são o olho da cara. Em restaurantes sem maior luxo, o quilo de comida pode chegar a inacreditáveis R$ 45. Até os sanduíches fast food têm preço mais salgado lá. O mesmo vale para roupas e calçados.

 

Cachoeiras da selva

É comum dizer no Amazonas que os grandes rios são as rodovias da região. Na maior parte das vezes, esta é a pura verdade. Mas nem sempre. Uma exceção é a BR-174, que liga Manaus à capital de Roraima, Boa Vista, e que também é a principal ligação viária entre o Brasil e o Caribe. A rodovia tem pista estreita e alguns buracos, mas está, no geral, em boas condições de tráfego. Mais um convite a quem quiser conhecer uma região pouco badalada por aqui até agora. No km 107 da estrada fica a cidade de Presidente Figueiredo. O extenso município guarda segredos surpreendentes no meio da mata, que tem trechos preservados e outros já explorados pela agropecuária.

Presidente Figueiredo – que leva este nome em homenagem ao primeiro presidente da Província do Amazonas e não ao último dos presidentes militares do Brasil – tem nada menos que 90 cachoeiras, cuja facilidade de acesso varia. Algumas delas ficam na beira da estrada e já têm estrutura completa para receber os visitantes.

Outras só são alcançadas por trilhas feitas em terrenos acidentados. Há quedas d’água mais próximas ao centro da cidade, como as Cachoeiras Santa Cláudia e Do Arco, que não distam mais de três quilômetros da sede do município. Em compensação, há atrações bem mais longínquas, como a Cachoeira da Pedra Furada, a quase 60 km da cidade.

A principal via para chegar a estes santuários naturais, além da BR-174, é a estrada estadual AM-240, que termina no distrito de Vila de Balbina, às margens do Lago de Balbina, onde há uma usina hidrelétrica. O local é muito utilizado por pescadores, já que há fartura de peixes. A região é propícia para a prática de esportes radicais, como o rafting, nas corredeiras do Rio Urubu.

Nas redondezas já existem hotéis, restaurantes, pousadas e mesmo resorts, abertos nos últimos anos para atender uma demanda que é crescente. Em Presidente Figueiredo, um Centro de Atendimento ao Turista fornece informações básicas sobre como chegar aos locais mais belos e quanto custam as entradas.

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DICAS

¤ Há ônibus quase que de hora em hora ligando Manaus a Presidente Figueiredo, mas como os pontos turísticos são mais afastados, o ideal é alugar um carro para o passeio e passar, pelo menos, dois ou três dias por lá.

¤ Encha o tanque antes de ir para Presidente Figueiredo. No caminho, só há postos de combustível na saída de Manaus e já na cidade das cachoeiras. O desprevenido pode ficar a pé.

¤ Leve repelente para as trilhas na mata.

¤ Aviso especial aos homens: não urinem dentro dos rios. Na Amazônia há o famoso peixe candiru, que tem o péssimo hábito de, seguindo a trilha quente da urina, entrar na uretra dos incautos e lá fazer um estrago daquele. De qualquer forma, ao entrar na água, amarrem bem os cordões de bermudas e sungas para evitar que o bichinho se enfie onde não deve. Evitem nadar de cuecas ou nus.

 

O Popular/Texto e fotos: Rogério Borges
De Manaus e Presidente Figueiredo (AM)

 

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