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Machu Picchu - Peru

Machu Picchu - Peru

10/01/2011

Um enigma nas alturas

Na primeira de uma série de três reportagens sobre o Peru, conheça um pouco dos mistérios de Machu Picchu, a mística cidade construída pelos incas a 2,4 mil metros de altitude, na região da Cordilheira dos Andes

Os mais aventureiros enfrentam uma trilha pela floresta que leva quatro dias de caminhada, totalizando um percurso de 42 quilômetros. Os que não abrem mão da sofisticação e do conforto - e têm dinheiro suficiente para bancar tal exigência - pagam em torno de 320 dólares por uma viagem de pouco mais de três horas no luxuoso trem Hiram Bingham, da famosa rede Orient Express (sim, aquela mesma do célebre romance de Agatha Christie). Mas seja carregando um mochilão nas costas selva adentro, seja saboreando um bom vinho enquanto se aprecia a paisagem deslumbrante, o destino, em ambos os casos, é o mesmo: Machu Picchu, a cidade construída pelos incas sobre uma montanha da Cordilheira dos Andes e que atrai turistas do mundo inteiro, fascinados pela aura de mistério e misticismo que envolve o local.
A partir de hoje e nas próximas duas segundas-feiras, O POPULAR publica uma série de reportagens sobre turismo no Peru. Machu Picchu é a primeira região a ser enfocada. As próximas serão Cusco e a capital do país, Lima.
Os turistas chegam aos montes em Machu Picchu. Diariamente, este que é o ponto turístico mais visitado do Peru recebe um contingente superior a 3 mil pessoas. É gente em excesso circulando por um dos mais importantes sítios históricos e arqueológicos do planeta e já há planos da Unesco, que elevou o local à condição de patrimônio mundial, para limitar esse número a algo em torno de 600 visitantes por dia.
Essa restrição, embora possa dificultar o acesso à área, é mais do que necessária. Caso contrário, a multidão de turistas que aporta por lá corre o risco de fazer, mesmo que inadvertidamente, aquilo que os colonizadores espanhóis, felizmente, não chegaram a realizar, porque desconheciam a existência de Machu Picchu: destruir esse impressionante monumento legado à humanidade pelo império inca.
Conforme a história corrente em torno de Machu Picchu, chamada a "cidade perdida dos incas", sua existência foi revelada ao mundo em 1911, pelo pesquisador norte-americano Hiram Bingham (sim, o citado trem da Orient Express tem este nome em homenagem a ele), que comandava uma expedição pela selva peruana patrocinada pela Universidade de Yale e pela revista National Geographic. Bingham, de fato, teve o mérito de tornar Machu Picchu mundialmente conhecida, embora seus métodos de exploração do local tenham sido posteriormente criticados por arqueólogos e antropólogos, por conta das escavações indiscriminadas e da apropriação indevida dos objetos lá encontrados (que foram depois devolvidos ao Peru após uma longa disputa com os Estados Unidos). Mas a verdade é que outros exploradores já haviam dado notícia dessa misteriosa cidadela inca, ao longo da segunda metade do século 19.

Mistérios


Muitas perguntas em torno de Machu Picchu - cujo nome significa "Montanha Velha", em quíchua, o idioma dos andinos - ainda permanecem sem uma resposta definitiva. Teria sido uma cidade sagrada, dedicada exclusivamente ao culto dos deuses? Uma espécie de universidade, onde se desenvolviam pesquisas na área de astronomia e agricultura? Um centro de defesa, em caso de guerra? Ou um refúgio onde o inca (nome dado ao imperador dos andinos) e seu séquito pudessem desfrutar de momentos de descanso e lazer?
Ao que tudo indica, Machu Picchu parece ter concentrado um pouco de cada uma dessas funções. A cidade foi construída no século 15, sob o império do inca Pachkuteq (ou Pachacuti). Fica a 130 quilômetros de Cusco, a antiga capital do império inca, no vale do Rio Urubamba, a 2,4 mil metros de altitude. Essa localização, segundo os estudiosos, foi o que protegeu a cidade da sanha do colonizador espanhol em busca de ouro e prata.
Especula-se que o local teria sido propositalmente abandonado pelos incas, que bloquearam suas vias de acesso para impedir que fosse descoberto pelos invasores. Escondida sob a cerrada vegetação da selva amazônica, Machu Picchu permaneceria razoavelmente intacta pelos séculos seguintes.
Hoje, cerca de 30% da antiga cidade ainda é original - o restante foi reconstituído. O conjunto arquitetônico é simplesmente impressionante. Para além das explicações extraterrenas e esotéricas que muitos procuram fornecer, o que maravilha mesmo é a assombrosa habilidade técnica e o alto grau de conhecimento da civilização que construiu aquelas obras.

Técnica de construção até hoje impressiona

Há uma clara racionalidade na forma pela qual Machu Picchu se distribui ao longo de sua área edificada. A cidade é organizada em dois setores, um agrícola e outro urbano, com cerca de 200 edifícios, feitos de pedra ou de blocos de granito, que encaixam-se perfeitamente, técnica de construção que até hoje causa espanto.
Um engenhoso sistema hidráulico, formado por 129 canais de drenagem, se estende por toda a cidade para conduzir a água da chuva e evitar erosões e desmoronamentos. Uma lição de "desenvolvimento sustentável" por parte dos incas, que procuravam conviver em harmonia com a natureza e não simplesmente destruí-la.
A parte agrícola é formada por plataformas, ou degraus, onde cultivavam-se batata e milho. Acredita-se que essas plantações funcionavam mais como um laboratório de experimentação do que propriamente com o intuito de alimentar a população local, já que sua produção era pequena.
Calcula-se que entre 300 e 500 pessoas habitavam a zona urbana de Machu Picchu, onde também eram realizadas as atividades religiosas e onde ficava a residência oficial do inca. Entre as construções mais interessantes, está o Templo do Sol, única de formato circular, que, além de espaço religioso destinado às cerimônias do solstício de verão, segundo os pesquisadores, funcionava também como um centro de observação astronômica.
Os incas, aliás, eram dedicados astrônomos, interessados em ler os sinais do céu para compreender os fenômenos da Terra. Quase ao pé de Machu Picchu, ainda encontram-se os espelhos d´água onde esses estudiosos pré-colombianos acompanhavam os reflexos do Sol e das estrelas.

Praça principal


Ainda entre os edifícios, destacam-se o Templo das Três Janelas e o Templo Principal, ambos localizados na praça principal. O primeiro é uma maciça construção feita com enormes blocos de granito polidos e unidos com precisão milimétrica. Já o segundo, em formato regular, como o nome indica, era o principal reduto cerimonial da cidade, ao lado do qual situa-se a casa do sacerdote.
Fora da praça central, o Templo do Condor, batizado com este nome por lembrar as formas do pássaro, era, ao que parece, um local destinado a rituais fúnebres. O formato do condor, como aliás tudo nesta cidade carregada de simbolismos, não é casual: entre os incas, acreditava-se que essa enorme ave carregava a alma dos mortos.

Caminhos para Machu Picchu


Diversos são os meios para chegar a Machu Picchu, no Peru. A trilha inca, que nada mais é do que o percurso que os incas faziam para alcançar a cidade, exige preparo e disposição. São quatro dias de caminhada, saindo do KM 82 da rodovia que liga Cusco a Ollantaytambo. O trajeto é feito com o auxílio de guias, que preparam a comida e montam as barracas para os turistas, cujo trabalho é só carregar a própria bagagem - o que não é pouco, tendo em vista o esforço físico que a empreitada demanda, em altitudes de até 4 mil metros.
Por conta da depredação desse trajeto pelo vaivém de gente passando por lá, o governo peruano restringiu o número de pessoas a 500 por dia. A consequência dessa limitação é que agora é preciso reservar até com meses de antecedência um pacote, que pode ser adquirido nas agências de Cusco ou aqui mesmo no Brasil, para fazer a trilha. Outra opção para quem deseja realizar a caminhada, mas sem cansar tanto, é escolher a trilha de dois dias, cujo ponto de partida é o KM 104 da rodovia.
A viagem de trem não oferece o mesmo sabor de aventura que a trilha, mas tem os seus encantos. Há diferentes serviços que fazem o trajeto, saindo de Poroy e Ollantaytambo. O mais chique é o já citado Hiram Bingham, cuja passagem de ida e volta fica em torno de 640 dólares e inclui jantar, brunch, ônibus de Aguas Calientes a Machu Picchu e guia. O chamado "trem dos mochileiros", o Backpacker, é o mais em conta: o bilhete fica em torno de 80 dólares, ida e volta, saindo de Ollantaytambo.
A reportagem do POPULAR viajou num expresso da Inca Rail, com saída de Ollantaytambo, cidade que fica a duas horas de Cusco. O trem é bem confortável, com as poltronas dispostas em grupos de quatro em torno de uma pequena mesa. As janelas e o teto de vidro permitem que se desfrute a belíssima vista, composta por montanhas, tendo ao pé o Rio Urubamba, e cuja vegetação vai se modificando e tornando-se mais exuberante à medida que se aproxima da "sobrancelha" da Floresta Amazônica, que é como os andinos chamam a região de Machu Picchu.
O bilhete da classe executiva, que inclui serviço de bebidas não alcoólicas e snacks, sai por 100 dólares ida e volta. Um cuidado, mesmo para quem vai demorar mais tempo na região, é não levar malas grandes, porque os compartimentos dos trens para as bagagens, entre as cadeiras, são bem apertados.
O ponto final da viagem, em torno de uma hora quando se parte de Ollantaytambo, é o distrito de Aguas Calientes. De lá, segue-se para Machu Picchu em micro-ônibus, que saem de 20 em 20 minutos. Esse trajeto, que dura em torno de 30 minutos, também reserva boas surpresas, numa subida íngreme e com uma vista espetacular.

No parque


O ingresso do parque de Machu Picchu custa 20 dólares (estudantes pagam meia-entrada). Para aproveitar melhor o passeio, é aconselhável chegar o mais cedo possível - portanto, o mais indicado é pernoitar em Aguas Calientes. O percurso por Machu Picchu dura em torno de quatro horas. Não dispense o auxílio de um guia, eles são fundamentais para ajudar a compreender o significado de cada construção.
O esforço para subir as escadarias da cidade combinado ao ar rarefeito da montanha pode provocar dificuldade de respiração e tonturas em que não está habituado a essas alturas. Uma dica é mastigar as folhas secas de coca vendidas em qualquer lojinha da região. Não se preocupe, porque elas não deixam ninguém "doidão" - apenas são um santo remédio para equilibrar o organismo e adaptá-lo às condições do ambiente.
Outro programa é a escalada do Huayna (ou Wayna) Picchu ("Montanha Nova", em quíchua), que fica ao lado da montanha de Machu Picchu. A subida dura uma hora e meia por uma trilha. O esforço é grande, mas a recompensa é uma vista magnífica da região.



Águas termais


Aguas Calientes, de onde saem os micro-ônibus para Machu Picchu, é um pequeno aglomerado urbano em torno da linha de trem. Como o nome indica, uma das atrações da cidade são suas águas termais. Além disso, a cidade tem pouco a oferecer aos turistas que aportam por lá, a não ser servir de local para pernoitar. A vida noturna não é das mais agitadas - há uns poucos restaurantes e bares - e algumas lojas de artesanato oferecem praticamente os mesmos produtos que se encontram em Cusco, de onde a maioria dos turistas chega.
Apesar da aparente simplicidade, a região conta com uma rede hoteleira razoável, que inclui desde pousadas com preços bem mais em conta até cinco-estrelas. Nesta última categoria, o mais famoso fica ao pé de Machu Picchu. É o Sanctuary Lodge (www.sanctuarylodgehotel.com/web/omac/machu_picchu.jsp), também pertencente ao grupo Orient Express, com diárias a partir de salgados 800 dólares.
Em Aguas Calientes, outro cinco-estrelas é o Sumaq (www.sumaqhotelperu.com), onde, a convite, a reportagem do POPULAR se hospedou. O hotel é situado em meio a uma paisagem esplêndida, com parte de suas suítes voltadas para a montanha e parte para o Rio Urubamba. Além dos serviços de hotéis da sua categoria, como um spa com sauna e sala de massagens, conta com um restaurante de alta qualidade, cuja especialidade é a nouvelle cuisine peruana - leia-se pratos e ingredientes tradicionais da região, como o delicioso ceviche, elaborados com as técnicas da cozinha internacional. As criações do chef Carlos Mayta são tão originais e elaboradas que dá até pena desmanchá-las. Mas o sabor consegue ser ainda melhor que o visual.
O Sumaq também oferece alguns passeios aos visitantes, cobrados fora da diária (em média 550 dólares). Um deles é assistir a uma cerimônia de matrimônio andino, também realizada para reafirmar os votos entre os já casados, que é celebrada em plena floresta por sacerdotes locais. Quem quiser pode até se casar lá, seguindo os ritos da cultura andina. Mas é preciso reservar com antecedência e desembolsar em torno de 500 dólares.


Dicas


O parque de Machu Picchu fecha às 17 horas, diariamente, mas o melhor é chegar à cidade bem cedinho, porque o sol, a partir das 11 horas, fica muito forte e à tarde o risco é cair uma tempestade. Mesmo assim, não deixe de levar capa de chuva, uma vez que o clima na região - como é comum na selva amazônica - é sempre muito úmido.
Protetor solar e repelente também são itens indispensáveis.
Dentro do parque, é proibido o ingresso de mochilas muito grandes. Há um guarda-volumes na entrada que cobra 5 soles (a moeda peruana) para guardar objetos.
Procure se alimentar bem antes de ir para o parque. Lá é proibido ingressar com alimentos e só há uma lanchonete do lado de fora do portão de entrada, sempre lotada de turistas.
Vá de tênis ou calçado de trekking. Prefira roupas confortáveis e não deixe de levar óculos escuros.
A estação chuvosa em Machu Picchu vai de novembro a março (ainda há no local resquícios da enchente do início do ano passado, que praticamente deixou ilhada a região). Nos outros meses, o tempo é mais seco e em meados do ano a temperatura costuma cair muito à noite.


Como ir


De avião, para quem mora em Goiânia, uma solução prática é o voo da LAN (www.lan.com) em direção a Lima, que sai às segundas, quartas, quintas, sextas e sábados de Brasília. A viagem dura em torno de quatro horas (no horário de verão, a diferença de fuso horário é de três horas a menos em relação ao Brasil). De Lima, há vários voos diretos para Cusco, principal ponto de partida para se chegar a Machu Picchu. A viagem dura em torno de 55 minutos.
Há várias agências em Cusco ou Lima que têm pacotes para Machu Picchu. Uma das mais tradicionaisé a Viajes Pacífico (www.viajespacifico.com.pe).

Fonte: O Popular

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