Mundo Mulher

Um passeio por Nova York

31/08/2011

Assistir aos espetáculos teatrais e visitar os principais museus são um bom caminho para conhecer a cidade

Flávio Paranhos


  
Nova York e sua Estátua da Liberdade: cidade oferece vários tipos de roteiros turísticos que atraem cada vez mais os brasileiros


Enquanto fazíamos nosso check in no hotel em Nova York (estrategicamente localizado na Times Square), o funcionário, ao ver nosso passaporte de brasileiros, riu e contou: "Semana passada tivemos um grupo de 600 brasileiros aqui no hotel, a maioria adolescentes". Fiquei esperando, preocupado, alguma observação negativa a seguir, afinal, um grupo de 600 pessoas é sempre um perigo, independentemente da idade e nacionalidade, embora "adolescentes" e "brasileiros" pode ser uma combinação explosiva. Mas não. Respirei aliviado, e minha mulher mais ainda, pois ela sabe que eu não aguento calado observações negativas sobre brasileiros quando estou fora (mesmo eventualmente concordando com elas). Já comprei algumas brigas por conta disso (uma delas bem desagradável, com um português, em Boston, há alguns anos).


Descendo a escada rolante do hotel, fomos atropelados por um bando de adolescentes brasileiros. Fiquei pensando se eu não tinha ouvido errado. Não, essa era outra leva. Definitivamente, Nova York está sendo invadida por nós. Quem sabe não fazemos que nem naquele filme do Peter Sellers? Invadimos e no dia seguinte nos rendemos. Pensando bem, não. Os EUA não são mais aqueles.

Times Square: região concentra boa parte dos teatros e restaurantes


Mas Nova York ainda é a capital do mundo. (Não, não é Paris). Onde mais há tantos espetáculos teatrais e musicais ao mesmo tempo? Onde está o melhor museu de arte do mundo, com o maior número de impressionistas que qualquer outro? (Não chequei nada do que acabo de dizer, pode creditar ao meu entusiasmo mesmo).


Eu gostaria muito de contar para vocês como foi a performance de Al Pacino na versão para a Broadway do Mercador de Veneza , se foi tão boa quanto na do filme, mas desgraçadamente já não estava em cartaz quando passei por lá. Além do mais, com duas meninas a tira-colo, não deu para ir a nenhum drama. Aqui vão minhas recomendações, por ordem (do "menos bacana" pro mais):


Spider-Man - Turn off the Dark , apesar da música do U2 (somente reconhecível em alguns momentos), é apenas razoável. Tive a mesma impressão que os críticos do New York Times: onde estão os tais 60 milhões de dólares do "show mais caro da história da Broadway"? Tudo bem, é bem feito, mas não parece, puxando pela memória distante, muito mais do que o lustre caindo na platéia do Fantasma da Ópera . E essa impressão aumenta ainda mais quando vemos o novo espetáculo do Cirque du Soleil, sobre o qual falarei daqui a pouco. Confesso que esperava mais da diretora Julie Taymor, por conta de sua ótima versão cinematográfica da tragédia shakespeareana Titus Andronicus . Antes de irmos, brinquei com as meninas que eu havia comprado nosso ingresso no pacote "com emoção", ou seja, alguém cairia ou ficaria dependurado (como aconteceu várias vezes na pré-estreia). E não há de ver que lá pelas tantas aconteceu mesmo uma "falha técnica" e o homem aranha ficou dependurado! Constrangedor. Minha nota: 7,0. Nota das meninas: 8,5.


Mamma Mia é o exato oposto de Spider-Man . Mais "pobre" (sem efeitos especiais), só que todo mundo conhece as músicas do ABBA, então acaba sendo mais agitado, com muito mais interação da plateia. É antigo, mas pelo visto ficará em cartaz uma eternidade. Nota minha: 8,0. Das meninas: 9,0. De minha mulher: 9,5.


Zarkana - Cirque du Soleil. Tenho trauma de circo por conta de meu pai. Ainda não fiz análise, mas cabe. Toda vez que alguém pedia um voluntário da plateia ele tinha a brilhante ideia de apontar para mim e gritar: "Esse aqui! Esse menino aqui!". Se algum dia existiu um complexo de Édipo sem conotação sexual, foi eu querendo esganar meu pai toda vez que ele fazia isso (suspeito, com um prazer sádico). Mas Cirque du Soleil é diferente. Tem a música e as luzes, além dos artistas serem d'outro mundo. Zarkana é um espetáculo novo, bem melhor do que o La Nouba , da Disney, que também é muito bacana, por sinal. Nota de todos nós: 9,5.


Quanto aos museus, além do American Museum of Natural History, que é bom para ir com criança por causa de seu conteúdo didático em ciências naturais, há os três museus de arte que são parada obrigatória, o M oMA , o Guggenheim e o Metropolitan.

O MoMA, de arte moderna, fica perto da loja da American Girl, de forma que se você tiver meninas e a pressão for grande, dá para ir nos dois. Os seguintes quadros merecem pelo menos 30 minutos de contemplação embevecida: The Storm (Edvard Munch), Bridge over the Riou (André Derain), Hope II (Gustav Klimt, é o quadro que aparece no filme Another Woman, de Woody Allen), Street, Dresden (Kirshner), The Menaced Assassin (Magritte), Nude in Bathroom (Pierre Bonard), The Street (Balthus), Girl with Ball (Lichtenstein, esse quadro é o símbolo do MoMA), Large Head (Lucian Freud, um de meus preferidos. Morreu recentemente).


O Guggenheim vale a visita pela arquitetura mais do que pelo recheio. Ainda assim, os seguintes quadros merecem pelo menos 30 minutos: Paris Society (Max Beckman), Violin and Palette (Georges Braque), Bibémus (Cézanne, o Guggenheim não é o melhor lugar para quem aprecia Cézanne, mas esse quadro é especial), The Soldier Drinks (Marc Chagall), Eiffel Tower (Robert Delaunay), Apropos of Little Sister (Marcel Duchamp), Houses in Paris (Juan Gris), todos de Kandinsky (não porque eu goste mais dele, mas porque é o forte do Guggenheim), Knight Errant (Oskar Kokoschka), Large Nude (Frantisek Kupka), Prades, the Village (Miró, não gosto de Miró, mas esse é um Miró que não parece Miró, então é bom. Para quem gosta mesmo, o Rainha Sofia , em Madri, é um lugar mais adequado), Nude (Modigliani), há uma quantidade razoável de Picassos (o Rainha Sofia seria um lugar mais adequado para quem gosta mesmo, e os da fase pré-cubista são interessantes. Woman Ironing merece 60 minutos), Three Studies for a Crucifixion (Francis Bacon).

 Central Park: a beleza do local é atrativo para passeios com a família


O Metropolitan fica em frente ao Central Park, o que te dá a oportunidade de chegar antes de abrir (geralmente às 10 horas) e passear por lá. Há vários spots reconhecíveis como usados em filmes de Woody Allen, um prazer à parte. É até difícil citar os melhores quadros do Metropolitan. Não tenho certeza, mas acredito que ele tenha mais impressionistas do que qualquer museu do mundo (certamente do que o D'Orsay, em Paris, e o Thyssen-Bornemisza, em Madri, dois museus com boa quantidade de impressionistas). São salas e mais salas inteiras de Monets, Manets, Renoirs, Cézannes, Degas, Seurat, Signac. Há ainda um bom bocado de Van Goghs, Toulouse-Lautrecs, Derains. Infelizmente, são poucos os Bonnards (e o Bonnard mais impressionante está mesmo no D'Orsay). E outro tanto considerável de modernos, como Picasso, Braques, Modigliani, Balthus, De Chirico. O melhor de todos os modernos, o mais sombrio, Lucian Freud, está bem servido ali. Sim, também há Goya e Velazquez, mas o Prado, em Madri, é lugar melhor para eles. E também arte medieval, antiga, etc, mas essas não me atraem. A verdade é que o Metropolitan exige pelo menos dois dias só para ele. Sacrifique outro museu, se preciso. E evite o final de semana.


Infelizmente, não poderei indicar a vocês nada gastronômico. Limitei-me a ir aos Planet Holywood e Hard Rock Café disponíveis. Nos Estados Unidos, como os americanos. A única vez que inventei moda e fui a um restaurante melhorzinho, paguei caro e comi mal. Não me lembro do nome, para contra-indicar. Também não deu para ir, por causa das meninas, mas eu indico os jazz clubs Village Vanguard (que aparece no filme Anything Else , de Woody Allen) e, claro, o Blue Note. Apenas não jante neles. Todo jazz club é ruim para isso (já me ensinava um tio meu, mas eu teimosamente tive de constatar por conta própria). Ah, sim, ia me esquecendo, o café da Starbucks com o coffee cake ou o buttermilk doughnut (até salivei só de mencionar). Tem também um outro doce da Starbucks que lembra o macaron parisiense, mas é infinitamente mais gostoso, derrete na boca, só que não me lembro do nome.


Vou ficando por aqui. Não estranhe a omissão de pontos turísticos, como a Estátua da Liberdade, o Empire State e que tais. Nunca fui. Detesto esse tipo de programa. Nem mesmo rememorar a cena famosa de An Affair to Remember (com Cary Grant e Deborah Kerr) no Empire State, é suficiente para me arrastar para lá. Quer um conselho? Compre um ímã de geladeira desses pontos turísticos e troque por mais um dia no Metropolitan.

Flávio Paranhos é médico e escritor - Publicado em O Popular

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