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Coréia do Sul - Um olho no passado, outro no futuro

15/07/2012

O Palácio de Gyeongbokgung (foto) é uma pérola de história e imaginação no coração de Seul


 
Coreografias e simbolismos preservam a tradição

Outros reis vieram depois e construíram novos palácios ali, como o Changgyeonggung, idealizado pelo rei Seongjong. Seul conta ainda com os palácios Deoksugung, o mais descaracterizado pela cultura ocidental, e o Jongmyo, lugar onde estão as lápides dos reis e rainhas da dinastia Joseon. Desde os anos 1300, esses prédios sofreram muitos reveses. Foram reedificados no século 15 e novamente no século 19, passando sempre por novos processos de degradação por conta de guerras e derrubadas de reinados.
 

Em 1915, o complexo sofreu seu mais duro golpe, sendo praticamente varrido do mapa. A ocupação da Coreia pelos japoneses nas primeiras décadas do século 20 tentou eliminar os traços culturais de identidade do país. Nos anos 1950, a Guerra da Coreia, que acabaria dividindo a Península Coreana em duas nações hostis uma com a outra, também causou a destruição de boa parte desse patrimônio histórico.

RESTAURAÇÃO
 
Nos anos 1990, as estruturas começaram a receber mais investimentos e a restauração completa terminou apenas dois anos atrás. Agora, os palácios atraem verdadeiras multidões. O trabalho de restauração tentou preservar e – em muitos casos – refazer com a maior fidelidade possível os adornos de tetos, portais e pisos dos antigos recintos reais.


Dois grandes museus foram integrados ao complexo, também com arquitetura do Oriente medieval. Os museus Nacional do Palácio da Coreia e Folclórico Nacional da Coreia resgatam, na medida do possível, os tesouros arqueológicos e culturais que escaparam de tantos embates.


É preciso dar um desconto quanto a isso. Até poucas décadas atrás, a Coreia do Sul, que se mantém em guerra com a vizinha Coreia do Norte – um tratado de paz nunca foi assinado –, era apenas palco de confrontos. Ali combateram japoneses, chineses, russos, norte-americanos. Não é fácil renascer dos destroços.


Cabem elogios quanto à capacidade incrível que a Coreia do Sul mostrou de se refazer. Seul é uma cidade com infraestrutura invejável, ocorrendo ali o mesmo processo de reconstrução rápida que pôde ser visto em cidades da Europa e do Japão após a 2ª Guerra Mundial. O país investe pesado nisso e já conseguiu sediar uma Olimpíada (1988) e uma Copa do Mundo (2002).


Os bons legados destes eventos estão por toda parte. A região às margens do Rio Hun, onde foi construído o Estádio Olímpico de Seul, é hoje uma zona valorizada onde antes só existiam favelas. Estradas e linhas de metrô levam até o Aeroporto de Incheon, caminho para o estádio do mundial de futebol de dez anos atrás. Na mesma cidade vizinha de Incheon, uma grande área está sendo preparada para os Jogos Asiáticos de 2014.
 

As estradas são perfeitas, os serviços públicos funcionam, o nível educacional é bom. Se a Coreia não conseguiu preservar todo o seu passado, ela cuida muito bem do seu futuro.


A marcha do Oriente

Cosmopolita, agitada, rica em histórias e moderna, Seul é uma metrópole gigantesca, cheia de surpresas e abarrotada de exemplos a seguir

 Carros a perder de vista, uma vida noturna incessante, gente apressada pelas ruas, efervescência cultural, gastronomia variada. Dizendo assim, até parece que estamos falando de São Paulo. Na verdade, esta descrição é de Seul, capital sul-coreana que tem 10 milhões de habitantes e cuja zona metropolitana supera os 24 milhões de moradores, concentrando mais da metade da população do país asiático.


 

Edifícios com arquitetura moderna (no alto) e o Seoul Tower (acima) : bela visão para os turistas

E as diferenças não residem apenas no nome e no continente em que essas duas megalópoles estão. Seul é um centro urbano muito mais organizado, mais limpo, melhor sinalizado, com um transporte público mais eficiente, conta com instrumentos tecnológicos mais avançados e, ainda que com os problemas de toda cidade de tal porte, questões graves, como violência, estão melhor encaminhadas. Mesmo fervilhando, a cidade é organizada e não se tem a impressão de caos que, com frequência, assola os maiores aglomerados urbanos brasileiros.
 

A Coreia do Sul é um país em desenvolvimento e enfrenta desafios comuns a nações que estão em seu patamar, como desigualdade social. Na periferia de Seul há favelas e bairros pouco atendidos com equipamentos públicos. São conjuntos habitacionais construídos com madeira e existe até esgoto a céu aberto. A poluição do ar também é visível. Há períodos do dia em que uma névoa esconde o horizonte. Os moradores de Seul, quando perguntados a respeito, não negam essa realidade, mas lembram que já houve melhoras significativas nas últimas décadas.

 


O Rio Hun, que corta a capital e deságua no Mar Amarelo, é um exemplo. Não tanto tempo atrás assim, ele era uma espécie de Tietê, sujo e mal cheiroso. Hoje, suas águas transparentes, são atração turística e refúgio de lazer para os moradores da cidade. Pessoas fazem esportes aquáticos em seu leito e um enorme parque linear, o Hangang Park, se estende por quilômetros ao longo de suas margens. Arborizada, Seul tem várias áreas verdes, ainda que haja regiões em que os arranha-céus predominam.
 

A cidade, por conta dos fusos horários diferentes do Ocidente, está em plena atividade até altas horas da madrugada. Bares e restaurantes ficam abertos, teatros iluminados e ruas, lotadas. Muita gente trabalha nos horários menos usuais para poder se comunicar com empresas e clientes nos Estados Unidos, Europa e América Latina onde, naquele momento, ainda é dia. Bom para quem gosta de curtir a noite.
 

Os preços é que são um tanto salgados. Uma cerveja pode sair pelo equivalente a 20 reais em determinados pubs. Seul, definitivamente, não é uma cidade barata. Compras por lá, só mesmo de alguns eletroeletrônicos. Vale lembrar que a Coreia é sede de grandes empresas do ramo e a concorrência é acirrada, mas vale a pena pesquisar. Pesquisar muito. Há shoppings especializados em tablets, computadores, câmeras, mas a conversão para reais não é tão vantajosa quanto nos Estados Unidos. Roupas e perfumes também têm preços não tão atrativos.

PASSEIOS

Para passear, no entanto, Seul é um prato cheio. Quem vai à cidade não pode deixar de ir a certos pontos bem conhecidos, como o Palácio Gyeongbokgung e a Seoul Tower, de onde se tem uma visão maravilhosa de toda a capital sul-coreana. A construção, que leva o turista a quase 240 metros de altura, fica num parque situado em uma colina.
 

Também por ali há bairros tradicionais, alguns com vielas estreitíssimas cortados por amplas avenidas. O centro financeiro de Seul também vale a pena ser visitado. Algumas das alamedas contam com postes de iluminação que são, na verdade, computadores públicos. Isso mesmo! Qualquer pessoa pode acessar a internet, tirar fotos, enviar e-mails nesses numerosos pontos, com a maior comodidade. A cidade é toda coberta por redes de internet sem fio, de alta velocidade. A cena mais comum é ver pessoas, em todos os lugares, acessando smartphones e celulares o tempo todo.


O metrô de Seul é algo impressionante. A metrópole é servida por 14 linhas, algumas que vão diretamente aos dois grandes aeroportos da capital. Ao todo, são mais de 460 estações, a maioria delas transformadas em galerias com lanchonetes, lojas, restaurantes e prestadores de serviço. A pontualidade é oriental. Atrasos, por lá, são vistos como ofensivos. Horário é coisa sagrada.


Impressiona também a arquitetura da capital. Modernidade e ousadia se mesclam às tradições do Oriente, ainda que Seul seja hoje uma cidade bastante ocidentalizada. Os prédios mais altos impressionam pelas formas sinuosas, por projetos arrojados, por estruturas que despertam curiosidade. Ao mesmo tempo, é possível ver nesta mesma paisagem os indefectíveis telhados trabalhados da região, obras de arte realizadas com esmero e paciência.


Em uma parte da cidade, chamada Insa-Dong, há vários centros culturais. No domingo, uma rua transforma-se num dos destinos prediletos dos moradores de Seul. Várias gastronomias, muitas lojas de artigos típicos, artistas populares e um mercado charmoso são as grandes atrações do lugar. Ainda que a língua atrapalhe bastante – muitos dos cartazes estão escritos apenas em coreano e não é todo vendedor que sequer arranha o inglês para se tentar estabelecer um diálogo –, é possível conseguir algumas pechinchas.
As imagens de Buda estão entre os artigos mais procurados e podem ser encontradas em todos os tamanhos, materiais e preços, sobretudo quando oferecidas nas barracas de rua. A culinária merece certo cuidado. Muitos dos pratos são apimentados. É bom tentar sondar qual o gosto do tempero antes de se aventurar a fazer a escolha do menu. Come-se também muito peixe, este sempre de ótima qualidade.

Fotos: Rogério Borges - De Seul, Coreia do Sul
Fonte: O POpular - Rogério Borges

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