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A jóia dos Andes

A jóia dos Andes  

Brasileiros redescobrem o prazer de viajar até Machu Picchu e as várias formas de se chegar até lá

Visão geral do parque arqueológico. Ao fundo, a montanha Wayna Picchu

Quem chega bem de manhã, com o Sol ainda escondido e a neblina espessa, consegue sentir o ar quase sombrio que remete à religiosidade inca. O sentimento será mais forte para quem acabou de completar os pesados quilômetros da trilha inca. O ar frio remanescente da madrugada assusta os menos acostumados e exige proteção. Quando os olhos nem se cansaram de admirar inúmeros detalhes a serem explorados durante o dia da visita, o Sol aparece e ilumina Machu Picchu, escolhida como uma das novas sete maravilhas do mundo.

Redescoberta pelo turista brasileiro - em especial o mochileiro - Machu Picchu, a "cidade perdida dos incas" (o nome, na verdade, é do pico mais alto do local), é hoje uma das melhores opções turísticas da América do Sul. Com razão, tem se tornado um dos pontos do continente mais visitados por gente do mundo inteiro. A prova está na crescente profissionalização dos programas turísticos oferecidos para se chegar até ela. Até pouco tempo atrás visitava a atração quem quisesse, a preços módicos e sem muita opção de conforto a quem não se animava a aventuras. Hoje é diferente. A visitação diária fica cada vez mais restrita com o passar dos anos.

A explicação é que a cidade arqueológica está afundando e as construções, conseqüentemente, correm o risco de desabar. Os estudiosos ainda não entraram em consenso (há até quem diga que tudo não passa de marketing turístico). Mas assim que as especulações tomaram corpo, o governo peruano tratou de desmentí-las. Apesar disso, começou a restringir visitas. Corre entre os peruanos que a tendência é de que ano a ano o número de permissões diárias caia ainda mais. O fato tem gerado uma demanda que elevou preços de ingressos ao local e pacotes turísticos. História Declarado Patrimônio Histórico e Cultura da Humanidade pela Unesco, o parque arqueológico dá aos peruanos muitos motivos para se preocuparem. É a jóia do país.

A começar por sua história instigante. Machu Picchu, no idioma quéchua (povo andino pré-colombiano), significa Montanha Velha. Se você faltou a essa aula na escola ou esqueceu, a cidade inca foi encontrada em 1911 pelo historiador americano Hiram Bingham. Suas ruínas estavam cobertas pela vegetação e foi trabalhoso limpá-las.

Muito do mistério sobre sua função na civilização permanece. Estima-se que o local era habitado por cerca de 500 a 700 cidadãos, provavelmente a elite da elite, já que é consenso serem os incas uma nobreza destacada do povo quéchua (ainda presente na população). Ainda não se sabe se ela foi abandonada durante a invasão espanhola do país ou antes disso. A certeza é de que a civilização tem grande importância na história humana, pelas organizadas formas de sociedade, política, economia e religião.

No conjunto de construções do parque arqueológico, é imprescindível visitar alguns pontos. Na área urbana, o Intihuatana, onde uma rocha trabalhada identifica os solstícios de verão e inverno controlando o calendário, e o Templo do Sol, única construção circular do espaço. Pelo caminho ainda se encontram santuários, praças, jardins, fontes, tumbas e habitações, entre elas uma presidencial, a única suíte, se é que se pode dizer assim, onde provavelmente vivia a autoridade local. A área agrícola é outro ponto. Nela é possível compreender como era possível plantar alimentos de forma eficiente, usando o sistema de degraus, em um terreno extremamente acidentado e íngrime - a cidade está dentro de um conjunto de montanhas, a 200 metros de altura do vale do Rio Urubamba e a 2.400 metros do nível do mar. A engenharia e arquitetura surpreendem os visitantes de primeira viagem menos familiarizados com os detalhes históricos.

Contratar um guia que conhece a história e todos os acessos (caso não esteja viajando por pacote que inclua a opção), pode ser um ótimo investimento. Como chegar Para se chegar até Machu Picchu há muitas alternativas disponíveis. Entre as mais comuns está a trilha inca, para a qual é preciso preparo físico e reserva de até quatro ou cinco meses, dependendo da época do ano, por intermédio de agências de viagens. Quem não quer se exercitar e viver aventuras, pode comprar um pacote, no Brasil, com tudo arranjado. O cardápio de opções destes pacotes varia de três dias até semanas. A forma mais barata, fora da trilha, é comprar um pacote de agências locais em Cuzco.

O serviço geralmente inclui ingresso, refeições e hospedagens. Pode-se ainda ir por conta própria, mas é arriscado não conseguir disponibilidade de ingresso para o dia da chegada. Nestes dois casos, a cidade de Águas Calientes (ou Machu Picchu Town) é a porta de entrada. Surgida em meados do século 20, o pequeno aglomerado urbano cresce a passos largos, fomentado pelo turismo. Nele estão hotéis e restaurantes, de qualidade razoável, e é de lá que se tomam micro-ônibus que sobem em 20 minutos a Machu Picchu. Há quem prefira chegar a pé. Quando chegar a Machu Picchu, além do conhecimento histórico a que estará exposto, um desafio se colocará a sua frente: escalar o Wyana Picchu, montanha que aparece soberana sobre o sítio. Sobe-se por uma trilha estreita com o auxílio de cordões e não é preciso técnica, somente coragem. A subida demora de 45 minutos a 1 hora e meia. Este repórter encarou o desafio, sofreu um bocado, mas teve a recompensa comum aos que conseguem: sentir-se com as energias renovadas.

Na Trilha dos Incas

Ela é percorrida, em sua versão mais famosa, a pé, por quatro dias, desde o km 88 (alguns saem do km 82), partindo de um vilarejo pouco depois de Cuzco. Percorrê-la, em cerca de 40 km, é buscar um desafio. Contam as especulações que as ruínas de Machu Picchu eram habitadas por uma nobreza escolhida a dedo. A trilha, percorrida hoje pelos turistas, era o caminho que ligava a capital Cuzco até ela. Percorrê-la era sinal de merecimento. As variações do percurso vão de dois a cinco dias.

Os horários devem ser seguidos à risca e dorme-se pouco. A trilha de dois dias (ponto de partida no km 104), exige muito do corpo, mas menos do bolso. Está se tornando a segunda opção mais popular. Nos caminhos é primordial que se chegue no máximo até as 10 horas, quando massas de turistas invadem o sítio.

O acesso ao Wyana Picchu é permitido somente até as 13 horas.

DICAS ¤

É impedida a entrada com grandes mochilas. Procure o guarda-volumes na entrada principal.

¤ Grandes filmadoras e equipamentos de audiovisual são proibidos, por conta de um acidente que danificou um dos monumentos durante a gravação. ¤ Se você quer aproveitar, explorar e fotografar cada detalhe, chegue cedo, de preferência antes das 6 horas.

¤ Leve capa de chuva e materiais impermeáveis para cobrir seus pertencentes, já que a brincadeira é que Machu Picchu tem duas estações: a chuvosa e a muito chuvosa.

¤ Lembre-se que estará a uma altitude maior do que as existentes no Brasil, a 2.400 metros no nível do mar. Não abuse, se não estiver condicionado

. ¤ Tome cuidado ao comprar pacotes em agências locais. Certifique-se da confiabilidade da empresa, pois há operadores interessadas em lesar turistas. Símbolo do país Considerada a cidade peruana mais característica, Cuzco é uma atração à parte para quem visita o Peru

É impossível não se sentir atraído pela história. Pelas ruas estreitas e antigas, as presenças inca e européia são marcantes. Cuzco foi por muito tempo a capital da antiga civilização. No tempo da conquista das Américas pelos europeus houve a convivência das duas culturas. Com o tempo veio a mistura, que hoje pode ser percebida nas atrações históricas.

Para visitá-las com uma solução prática, você compra um bilhete único válido por dez dias na secretaria de qualquer de uma das atrações, pelo equivalente a 40 reais. Com ele poderá visitar vários lugares como o Convento de Santa Catalina, onde a mistura é bem visível. Na Praça das Armas, o coração da cidade, a arquitetura européia enche os olhos.

Por lá a interação com a população local é inevitável. A cada passo que der alguém aparecerá insistindo para lhe vender algo. Você conhecerá o típico peruano, um descendente miscigenado de espanhóis e indígenas quéchuas. Aliás, além do espanhol (e do inglês por conta do turismo) você terá a chance de escutar o idioma quéchua.

A estrutura turística da cidade (a 3.360 metros de altitude) tem serviços como city tour e bons restaurantes e hotéis. Leve muita roupa de frio, pois a temperatura anual média é de 11ºC. Tudo pode ser percorrido a pé ou em táxis (baratos). A boate Mamma África, na Praça das Armas, é parada obrigatória. Não deixe de visitar o bairro mais antigo, o San Blas. Pode-se comparar a sofisticação da engenharia inca e a precariedade da nova e adaptada engenharia européia.

Prepare-se para ouvir a piada: "Deste lado os incas e deste, os incapazes".

Festa do Sol Se você estiver no dia 21 de junho, ou próximo dele, conseguirá presenciar o fenômeno do solstício de inverno, data que marcava mudança de ciclo no calendário inca. No dia 24 do mesmo mês ainda é realizado o Inti Raimi (Festa do Sol), principal festa inca. O ingresso para turistas é mais caro, equivalente a 160 reais.

Entre sítios que a civilização antiga deixou praticamente intactos está o Sacsayhuaman, local da festa. Para visitá-lo, assim como similares Qorikancha, Pukapukara e Chichero, basta ter o bilhete único. Caso haja tempo, você ainda poderá conhecer o Vale Sagrado dos Incas (incluido no bilhete), a cerca de 40 minutos de viagem.

O passeio por ele dura um dia inteiro de imersão na história dos incas, pelo vale do Rio Urubamba, área sagrada da civilização. Em Cuzco, o que não faltam são agências de turismo. Tome o cuidado de pesquisar a procedência da agência. Muita gente na rua lhe abordará tentando vender pacotes de passeios. Pesquise para conferir se a empresa é idônea.

PREÇOS

Preços médios de pacotes por pessoa, com apartamento duplo, partindo de São Paulo: ¤ 8 dias - Lima, Cuzco, Vale Sagrado dos Incas e Machu Picchu - A R$ 4.168 (US$ 2.084) ¤ 7 dias - Lima, Cuzco, Machu Picchu - A R$ 3.060 (US$ 1.530) ¤ 6 dias - Lima, Cuzco, Selva Peruana e Machu Picchu - A R$ 2.774 (U$ 1.387) ¤ 6 dias - Lima, Cuzco, Machu Picchu - A R$ 3.090 (U$ 1.545) *Dólar americano convertido a R$ 2 Fontes de consulta: Intravel, ViaBr Turismo e Oficina Turismo

Fonte: Jornal O Popular - Texto e fotos: Rodrigo Alves De Machu Picchu, Peru

 

   

 

 
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