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No estilo Dilma, sobram broncas públicas para ministros

17/06/2012

 
A reação da presidente Dilma Rousseff às declarações do ministro Mendes Ribeiro (Agricultura), no fim de semana, desautorizando-o de pronto por causa de um comentário sobre a nova Medida Provisória do Código Florestal, não foi inédita. É comum a presidente desautorizar ministros e assessores do primeiro escalão publicamente e, mais ainda internamente, por conta de declarações e atitudes que não lhe agradam. O tratamento não é exclusivo para ministros que caíram sob suspeitas de irregularidades ano passado. Ocorre com gente como Gilberto Carvalho, Marco Aurélio Garcia, Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann.

O comportamento recorrente da presidente já é motivo até de piada entre eles. Quando algum desavisado se queixa de não conseguir audiência com a presidente, os escaldados brincam: “Sorte dele, que não vai levar bronca”.

Como resultado, quase sempre, o alvo das críticas da presidente passa a evitar a imprensa e até mesmo aparições públicas. Por conta das reprimendas, a Esplanada dos Ministérios fica cada vez mais silenciosa, e relatos sobre as broncas pululam pelos corredores do poder.

Segundo ministros que costumam viajar no avião com Dilma Rousseff, o momento de maior tensão é quando ela convida algum deles para entrar em sua cabine. Às vezes, o auxiliar é chamado somente para tratar amenidades, como trocar ideias sobre livros que tem lido ou músicas que tem ouvido. Mas, na maioria das ocasiões, sabe que levará um dolorido puxão de orelha. E o pior, dizem eles mesmos, não há para onde fugir.

O ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, já passou por essa situação. Segundo relato de um colega, ele estava em viagem ao Rio no avião presidencial quando foi chamado para uma conversa. Ele já entrou com os nervos saltitando porque a época era de discussão sobre as privatizações dos aeroportos e os atrasos na publicação dos editais.

Pela expressão do ministro quando deixou a cabine, seus colegas logo notaram a bronca. Um deles comentou: “Coitado do Wagner, se ele tivesse um paraquedas, teria saltado do avião”.

Nota sobre Síria já criou atrito com Patriota

Outro que já passou recentemente por apuros foi o chanceler Antonio Patriota (Relações Exteriores). Em fevereiro, Dilma retornava a Brasília de uma visita às obras da ferrovia Transnordestina quando, já no avião, recebeu uma ligação do ministro. Um parlamentar que estava de carona conta que o momento foi sombrio.

Dilma estava furiosa por causa de um comunicado que o Itamaraty havia emitido sobre a Síria. As palavras a Patriota foram bradadas vários tons acima do cordial: “Como você faz as coisas sem me falar? Quem mandou você fazer? Eu já te falei sobre isso!” A situação ficou constrangedora.

O caso mais recente de bronca pública foi o do ministro da Agricultura, o gaúcho Mendes Ribeiro. Ele tem relação antiga de amizade com Dilma mas, mesmo assim, não foi perdoado. Em matéria publicada no GLOBO sábado passado, o ministro dizia que o governo aceitaria negociar a aprovação de algumas das centenas de emendas apresentadas à nova MP do Código Florestal.

O ministro foi acordado cedo, quando nota da Presidência desautorizando-o já havia sido encaminhada às redações dos jornais. Mendes Ribeiro não retrucou nem se rebelou, mas a nota provocou estresse no partido, o PMDB, que ensaiou carta de desagravo ao ministro, que acabou não saindo.

A avaliação geral, no PMDB, no PT e no Planalto, foi a de que as declarações do ministro não foram tão relevantes para merecer uma desautorização tão contundente.

Quem resolveu se distanciar mesmo da imprensa foi Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência). Ministro falante durante o governo Lula, é hoje o exemplo mais clássico de auxiliar que ficou “mudo” de vez. O cala-boca ocorreu no ano passado, no período em que o Planalto negociava com o PCdoB um sucessor para o ex-ministro dos Esportes Orlando Silva.

A informação de que Orlando não iria permanecer no cargo já era conhecida e os líderes do partido estavam reunidos com a presidente para fechar o nome do novo ministro. Gilberto Carvalho desceu do gabinete e, ao ser abordado por jornalistas, disse que a vaga seria preenchida mas por um ministro interino.

Bastou a notícia ser publicada nos sites de notícias para que a presidente mandasse chamá-lo. Ali mesmo, na frente de dirigentes do PCdoB e assessores, Dilma questionou-o duramente, com reprimendas, já que estavam adiantadas as negociações para que Aldo Rebelo assumisse o posto.

Gilberto ficou sem palavras, deixando a sala amuado. Desde então, passou a evitar a imprensa, dando apenas declarações pontuais e esporádicas, como a da última quinta-feira, sobre a saúde do ex-presidente Lula.

Goiasnet.com/O Globo

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