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Sexting

Sexting pode causar problemas

 27/08/2009

No Brasil, uma novidade entre jovens cujo nome ainda é pouco conhecido está chamando a atenção de especialistas. Batizada nos Estados Unidos de “sexting”, termo que une as palavras em inglês “sex” (sexo) e “texting” (ato de trocar mensagens pelo celular), a prática, que tem crescido aqui, refere-se à troca ou à publicação de fotos sensuais que os próprios jovens fazem de si, seminus ou nus, pelo celular ou pela internet. A constatação é de uma pesquisa desenvolvida pela ONG brasileira Safernet, que está sondando jovens internautas do País.

De acordo com resultados parciais do estudo realizado em sete Estados, incluindo Goiás, 13% dos entrevistados publicaram ou enviaram fotos íntimas por e-mail ou celular pelo menos uma vez. Do total dessa parcela, 39% já o fizeram mais de cinco vezes.

A pesquisa, ainda em aberto – interessados em participar podem acessar www.safernet.org.br/go –, envolve educadores e estudantes do 6º ano do ensino fundamental ao 3º do ensino médio, de idade média entre 11 e 18 anos. Ela aborda também outros hábitos de navegação, como o cyberbullying, versão virtual do constrangimento entre colegas por meio de agressões morais.

Embora nominalmente ainda seja pouco usado no Brasil, assim que tem seu significado definido o “sexting” é totalmente reconhecido pelos jovens brasileiros. À procura de entrevistados para a reportagem, ao citar o termo, O POPULAR ouviu poucas afirmativas de reconhecimento. Mas quando o assunto era introduzido, a prática logo era reconhecida e confirmada. “Hoje mesmo, por coincidência, uma amiga minha fez isso e me mostrou”, conta o estudante de ensino médio Zilmar Gomes, de 16 anos, ao saber do que se tratava.

Não muito admirado com a iniciativa da amiga, que lhe mostrou uma foto só de roupa íntima em pose provocante, o jovem diz que o hábito é comum, especialmente em sites de relacionamento. “No Orkut então é certeza que você vai encontrar quem faça, especialmente mulheres”, cita. Ele lembra, entretanto, que não somente as moças, mas também rapazes apelam para a prática, ao quererem chamar atenção e mostrar os atributos físicos resultados da malhação. Isso quando não são mais ousados, postando fotos ainda mais íntimas.

Exemplos célebres
O sexting primeiro ganhou espaço entre jovens americanos e depois abriu terreno entre australianos e britânicos. Como a mesma velocidade da troca de informações pela rede mundial de computadores, a prática tem encontrado eco pelo mundo. A princípio, tudo começou na troca de fotos sensuais entre namorados pelo celular, mas com o tempo ganhou dimensão maior, com o compartilhamento desse material entre amigos e até mesmo a publicação em sites abertos à visitação de qualquer um.

De brincadeira, mesmo sem intenção, muita gente que pratica sexting acaba se dando mal. Não é raro casos de quem tenha visto uma foto ou um vídeo mostrando situações íntimas cair na rede sem mais explicações dos envolvidos. Como não poderia deixar de ser, a prática teve diversos exemplos também entre as celebridades. Recentemente e pela segunda vez, a atriz Vanessa Hudgens, de 20 anos, uma das protagonistas da série High School Musical, viu isso acontecer.

Há dois anos, fotos da moça nua que supostamente deveriam ser enviadas somente para o namorado, o também ator Zac Efron, caíram na rede. Há poucos dias aconteceu de novo, novamente sem desmentidos da parte dela. Outro caso emblemático ocorreu com a ex-BBB Maíra Cardi, que teve um vídeo em situação muito íntima com o ex-marido transmitido na internet. Segundo Maíra, o vídeo se tornou público depois que o seu celular foi roubado. História similar também aconteceu com a socialite Paris Hilton, talvez o primeiro caso célebre de sexting que caiu na rede.

Goiasnet.com/Opopular - Rodrigo Alves

Sem medo de mostrar

A cada dia que passa os jovens estão mais desinibidos. A observação é do universitário Rafael Francisco Corrêa, 22 anos. A explicação? “Acho que é uma maneira de chamar a atenção”, opina. “No começo era muito difícil você ver uma menina colocando foto de biquíni no Orkut, por exemplo, agora parece que estão perdendo o medo.” Desinibido ele também e bom de papo, Rafael desconversa ao ser questionado se já praticou sexting ou se teria coragem de fazê-lo, nem que fosse na intimidade.

“É muito perigoso, mesmo para a namorada. Até porque um dia pode acontecer uma briga e aí virar ótima maneira de vingança”, previne-se. Como a maioria dos entrevistados pelo POPULAR, Rafael, porém, lembra de amigos que aderiram ao sexting. Fato que, lembra ele, traz risco embutido porque celulares facilmente caem em mãos erradas. Para o jovem a moda está crescendo, porque tem ganhando a aura de coisa banal. “Quando tudo mundo está fazendo, as pessoas perdem a vergonha”, avalia.

Algo bastante impensável para a estudante Larissa Felipe Araújo, 13 anos. A adolescente lembra do caso de uma conhecida de 18 anos que aderiu ao sexting. “E se alguém roubar o aparelho dela?”, espanta-se. Para ela, que se diz totalmente contra, esta é uma questão complicada por envolver a intimidade. Larissa diz que não sabe se teria coragem de aderir à prática quando for maior de idade. “Claro que nunca pensei em fazer isso nem adulta, mas acho que vai depender muito da minha maturidade, se fizer”, afirma.

Risco real

Outro estudo sobre o sexting feito pela Beatbullying, organização de assistência a crianças na Grã-Bretanha, revelou que um terço de jovens britânicos entre 11 e 18 anos admite ter recebido fotos, vídeos ou mensagens de textos provenientes da prática. O fato chamou a atenção e preocupou o Child Exploitation e Online Protection Centre (Ceop), já que está constatado que o sexting ajuda também na difusão de imagens íntimas de menores de idade em sites de pedofilia.

O que mais agrava o quadro, conforme mostra a pesquisa britânica, é que parte dos praticantes não tem noção do que estão fazendo. De acordo com a sondagem, 30% das crianças não sabiam nem mesmo quem era o remetente da mensagem que haviam recebido. Segundo o diretor de Prevenção e Atendimento da Safernet, Rodrigo Nejm, um dos coordenadores da pesquisa realizada no Brasil, a maioria dos adolescentes e jovens que pratica o sexting realmente não entende o risco que correm.

“Presente”
O diretor costuma dizer que, sem compreender que a internet é espaço de acesso livre, jovens praticantes de sexting “dão um presente” a aliciadores e pedófilos que usam a rede. “Pensam que só os amigos vão ver e se esquecem que qualquer um tem acesso”, explicou ao POPULAR.

Rodrigo conta que, entre o material que já viu postado na rede, estão de imagens com teor mais inocente, com um beijo entre namorados, a com cenas fortes de sexo e mesmo de agressões sexuais. Nos Estados Unidos, isso chegou a provocar processos contra os próprios adolescentes, acusados de produzir material com conteúdo de pornografia e pedofilia. “Nosso trabalho é ir contra essas iniciativas com campanhas que englobam distribuição de kits didáticos para escolas”, exemplifica. Rodrigo avalia que o quadro é a soma do momento que a sociedade passa, com a erotização da infância e da juventude, potencializada pela internet. Para o psicólogo e psicoterapeuta goianiense Eriko Netto de Lima, acostumado a lidar com adolescentes, é preciso atenção dos pais para coibir em casa os perigos eminentes que a prática traz. “O essencial é manter o diálogo aberto e não tentar proibir”, explica o especialista.

O psicólogo ressalta também que a situação, complexa, varia de caso para caso, mas que é possível pais perceberem sinais de que o sexting é praticado pelos filhos. “Por exemplo, a menina que começa a se tornar um pouco exibicionista demais.” Ele observa ainda que é difícil o ponto em que a prática pode se tornar patologia. Geralmente, define, isso ocorre quando atrapalha a vida do jovem. “O importante é que os pais tirem dúvidas e usem recursos como uma reportagem como esta para ter motivo de chegar aos filhos e conversar”, sugere.

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