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Médica Hugh Laurie , que inspirou seriado House, é convidada da Bienal

05/09/2011
  
“Os sintomas nunca mentem”, eternizou Hugh Laurie como o dr. Gregory House, na popular série que leva o seu nome. Mas, na verdade, essa frase pertence a outro doutor. Doutora, no caso: Lisa Sanders. A jornalista e médica americana é a inspiração-mor da criação do seriado de David Shore graças a coluna mensal “Diagnóstico”, que assina desde 2002 na revista do “New York Times”.

Ali Lisa fala sobre “a arte do diagnóstico” e sobre como alguns médicos, que como ela, comportam-se como verdadeiros Sherlock Holmes durante este procedimento. Os textos inspiraram a criação do programa e depois foram reunidos no livro “Todo paciente tem uma história para contar” (Editora Zahar), o que a levou a ser uma das convidas desta Bienal do Livro do Rio. Ela tem uma conversa agendada com o público da Bienal neste domingo (4), às 18h30.

Hoje, Lisa leciona medicina clínica na Faculdade de Medicina de Yale e continua como consultora do programa televisivo, exibido no Brasil pelo canal fechado Universal Channel. Em entrevista ao G1, ela mostrou que da rabugice de House não tem absolutamente nada e ainda se revelou fã da série épica “Game of thrones”. “Quando as pessoas me dizem que desejam o House como o médico delas, eu as acho loucas”, ri.

G1 - Quando você decidiu largar o jornalismo para se tornar médica?
Lisa Sanders - Eu era produtora da [emissora] CBS News , cobria medicina e tive um momento em que percebi que ser apenas uma produtora de TV não era mais o suficiente. Estava filmando um de nossos correspondentes, o doutor Bob Arnot, para uma matéria sobre rafting e, de repente, vi que ele desapareceu do nada da tela. O câmera o achou salvando uma idosa das águas e ali vi o Bob fazendo algo que apenas tinha visto em filmes: RCR, a ressuscitação cardiopulmonar.

Fiquei assustada e impressionada. Ter visto esse médico salvando uma vida me mudou, comecei a entender que talvez eu quisesse ser uma médica, salvar vidas como ele. Um ou dois anos depois eu comecei o longo processo de fazer uma escola de medicina

G1 - A senhora acredita que todo médico deve trabalhar como Sherlock Holmes?
LS - Sherlock Holmes, o personagem, foi criado por Arthur Conan Doyle a partir de um médico com quem ele trabalhou quando fez faculdade de medicina na Escócia. Então não é que todo médico “deve” trabalhar como Sherlock Holmes: o Sherlock Holmes é um reflexo do que os médicos fazem.

Acredito que os doutores que queiram fazer diagnósticos devam trabalhar como Sherlock Holmes, coletando pistas e evidências para tentar montar, peça por peça, a história do paciente, seus sintomas e, por fim, seu diagnóstico.

G1 - Por que os médicos parecem cada vez mais depender e acreditar apenas em exames super tecnológicos?
LS - Eu acho que médicos pensam que exames são mais confiáveis que o sangue, o suor e as lágrimas da história de um paciente e de seu exame físico. Eles estão errados, mas é que o processo de um diagnóstico é muito incerto. A incerteza é a água em que nadamos e os exames parecem ser concretos e sólidos, mas não são.

G1 - A senhora menciona no livro que poucos médicos sentam e escutam a história do paciente. Por quê?
LS - Tempo é um problema real. Temos cada vez menos tempo de ver nossos pacientes, porque há a mentira de que ouvir a história de um paciente leva muito tempo. Minha argumentação é que isso [ouvir o paciente] salva tempo, porque lhe dá respostas que possivelmente não teria.

G1 - Há algo de House em você?
LS - Ele é sortudo, muito esperto, mas quando as pessoas me dizem que desejam o House como o médico delas, eu as acho loucas.

G1 - O House sempre tem a resposta certa na série. Na vida real não é sempre assim
LS - O erro de uma diagnosticação é inevitável. House comete um monte de falhas durante o percurso de chegar à resposta certa. Na vida real é assim também, estamos sempre aptos a errar no caminho de estar certo. A diferença é que não estamos sempre certos. A porcentagem é muito alta, mas não é sempre.

G1 - Você costuma assistir a outros seriados médicos?
LS - Não vejo muita TV e, quando vejo, raramente são programas médicos. "House" é o único. Pergunte-me sobre “Game of thrones”, é uma série que comecei a ver neste ano. O que faz um seriado ser bom é a politicagem dos bastidores. "House" é sobre isso, assim como “Game of thrones”. Apesar de eles terem uma temática bem diferente, o drama real é bem similar.Goiasnet.com/G1

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