Mundo Mulher

Claudio Manoel fala da repercussão da entrevista deXuxa

27/05/2012

 
Em uma entrevista reveladora exibida no último domingo, a apresentadora Xuxa Meneghel contou algo nunca dito antes em público: que foi vítima de abuso sexual na infância. A declaração, que ainda repercute nas redes sociais, rendeu pico de 30 pontos de audiência ao quadro "O que vi da vida", do "Fantástico", no qual nomes como Lima Duarte, Padre Marcelo Rossi e Chico Anysio já fizeram um balanço de suas trajetórias. Nos bastidores, de forma quase invisível, ele diz, está Claudio Manoel. Conhecido por seus mais de 20 anos no Casseta & Planeta, ele vem investindo em outras atividades: além do quadro do programa dominical da Globo, assumiu a direção-geral do "Casseta & Planeta vai fundo", exibido às sextas-feiras, às 23h25m, em formato de temporada, e também faz parte da equipe de criação do novo programa diário da jornalista Fátima Bernardes — ainda sem data prevista de lançamento. Antes disso, já havia estreado na direção do documentário "Simonal — Ninguém sabe o duro que dei", ao lado de Micael Langer e Calvito Leal, hoje seus parceiros nas novas empreitadas televisivas. No entanto, garante que não se distancia do humor que lhe deu notoriedade. Humorista, diretor e roteirista, Claudio recebeu a equipe da Revista da TV na última quarta-feira, no escritório dos cassetas. Inquieto, do tipo que não para de se mexer, conversou sobre a entrevista de Xuxa e seus projetos. E ainda adiantou alguns dos próximos convidados de "O que vi da vida": o produtor musical Nelson Motta, a ex-atleta Hortência, a modelo Luiza Brunet, o ator Paulo Silvino e a atriz Lilia Cabral.

O GLOBO: A repercussão do depoimento de Xuxa ao "O que vi da vida" já era esperada, não?


CLAUDIO MANOEL: Olha, obviamente era uma convidada de peso. Ninguém precisa explicar a dimensão da Xuxa. Mas dizer que já esperávamos essa repercussão é forte. É claro que a gente sabia que tinha um conteúdo especial, tanto que a duração do quadro foi maior do que o normal. Tínhamos highlights, muitas histórias, ela estava num momento de balanço. Temos uma vantagem, que é o fato de o quadro ter um formato que dá uma certa confiança e segurança ao entrevistado. É delicado, elegante, e não se pretende ser algo jornalístico. Construímos uma concha, um aconchego, para a pessoa ficar à vontade. Por isso me preocupo muito pouco com o que as pessoas não falaram. Minha preocupação é com o que elas querem falar. Não tenho o objetivo de conseguir um furo. O objetivo é mostrar uma pessoa que quer refletir sobre a sua vida de um jeito afetivo. Por mais bombástica que tenha sido a da Xuxa, pela questão do abuso, as outras também tiveram emoção. Isso nunca foi perseguido e, sim, encontrado.

Na hora das entrevistas, como é sua atuação?


CLAUDIO: Eu não fico presente, mas fico por perto. A pessoa conversa com a câmera, nem no ar eu apareço. Algumas pessoas com percepção intelectual meio afetada dizem "ah, ela está lendo". Não. Ela está olhando para a câmera. E como é um depoimento, a minha semiausência dá outro tipo de relação. Não é um programa de entrevistador, nem de entrevista, é um depoimento. O título é autoexplicativo: é o que a pessoa viu da vida, e não o que eu vi sobre a vida da pessoa, ou o que eu quero saber da vida dela. Entendo que o compromisso jornalístico seja arrancar algo, preencher lacunas, a questão da informação. A minha ideia é a da emoção, de arrancar uma risada. Nem sempre precisam ser lágrimas. Pesquiso sobre a pessoa, tiro de onde vou começar e não levo (a entrevista) à exaustão. Normalmente é uma hora e meia de conversa, com a Xuxa foram duas. Não precisa mais do que isso. Não há necessidade de gravar 20 horas e "ai, meu Deus, você não falou de quando jogou no Vasco", por exemplo. Não é por aí.

O quadro acabou sendo um desdobramento do seu trabalho em "Simonal", então?


CLAUDIO: Testamos isso no documentário do Simonal e tínhamos vontade de experimentar algo sem a presença direta do entrevistador e do seu ego. Não é um depoimento ao Museu da Imagem e do Som. Não se pretende documentar a vida inteira da pessoa e os parceiros são os mesmos, mas em "Simonal" havia uma história a ser revelada. No quadro, as pessoas trazem à luz as suas histórias, se quiserem.

Foi Xuxa quem o procurou?


CLAUDIO: Acho que Xuxa escolheu a gente exatamente por isso. Ela não foi à TV fazer um desabafo, ela fez um comunicado. Eu que a procurei, mas também fui atrás de várias pessoas do showbusiness e do esporte. Nós (a equipe) falamos sobre que nomes queríamos, com variedade, sem serem apenas atores e atrizes, sem serem só pessoas de mais idade. Gente que teve uma experiência de vida e que se dispõe a falar sobre isso. É algo mais intimista. No começo, nem gravávamos no Projac.

Nas redes sociais, alguns comentários foram agressivos, além de questionarem histórias que ficaram de fora deste depoimento, especificamente.


CLAUDIO: Este episódio provou para mim que 90% das pessoas são bacanas. Agora, os outros 10% reúnem de tolos a imbecis, chegando aos psicopatas. As redes sociais permitem que o bizarro tenha visibilidade. Quase não twitto, acho o Twitter um espaço para a imbecilidade ficar gritando, é chatíssimo, voltado para o ódio, fascistinha. Mas a maioria das pessoas teve uma reação bacana (ao depoimento de Xuxa). No entanto, o quadro não vai ser redirecionado. Tem vários já gravados e outros a gravar, em níveis diferentes de emoção e approach. Não pretendo tornar o "O que vi da vida" um quadro investigativo ou de revelações. Não estou a fim de ser o chato, dizer "você não falou disso ou aquilo". Não sou jornalista, nunca vivi disso, nem pretendo.

"O que vi da vida" e sua participação na criação do novo programa de Fátima Bernardes são uma iniciativa sua de ir além do humor?


CLAUDIO: Na verdade, o que eu sou e o que eu faço mesmo é ser um casseta. Isso é 95% do meu tempo, da minha história, de tudo. Não é ter feito "Simonal", nem "O que vi da vida" para o "Fantástico". Minha carreira, minha profissão, meu tempo alocado é ser do Casseta & Planeta, onde estou todos os dias trabalhando com o meu time, minha galera, com quem treino, jogo e coabito há 30 anos. Não estou tentando fazer outra coisa, me distanciando, trocando uma coisa pela outra. Pelo $ário, estou fazendo mais o "Casseta" do que nunca, porque estou dirigindo. Fizemos uma temporada de 12 episódios, agora vamos ter mais oito. Durante esses 12 não não dá para fazer mais nada, você faz o que tem de fazer e tenta manter seu casamento. Então, dei uma afastada do programa da Fátima e fiz frente no "Fantástico" para poder me organizar. O que eu faço da vida, e não o que vi da vida, é o Casseta & Planeta. E não parei de mexer com humor. "O que vi da vida" também tem momentos divertidos.

E como está sua situação no programa de Fátima?


CLAUDIO: Como não dava para fazer todos os quadros para o "Fantástico", os outros migraram para o programa dela; estes precisavam de texto, de autor. "O que vi da vida", não. Nele, o trabalho é agendar o convidado e depois editar. E foi o único que sobrou (dos projetos iniciais apresentados ao dominical). Estou num momento de, daqui a pouco, reaquecer minha participação no programa. Freando o "Casseta", entro lá de novo. Venho me informando de tudo por email, telefone e amizade. Mas já existe um trabalho diário e, quando entrar no ar, fico ali como num conselhão. Não dá para fazer programa diário e respirar, comer e dormir, mais nada. Não dá para acumular o programa da Fátima e o "Casseta". E como sou um casseta, minha participação vai diminuir bastante. Mas fiquei muito lisonjeado em completar este time. Fátima é muito bacana, entende da indústria, sabe muito.

Se não fizesse as entrevistas, participaria do "O que vi da vida"? Acha que tem histórias para contar?


CLAUDIO: Não sei se tenho essa estatura. Você tem que ter uma vida que interesse a muita gente. Acho que o Casseta & Planeta tem uma trajetória bastante singular e de êxito na TV, poucos têm a duração da gente. O grupo, sim, tem muita substância para isso, muitas histórias. Mas eu, Claudio Manoel, não tenho essa dimensão artística. Não sou um Daniel Filho, um Padre Marcelo, uma Xuxa, uma Sandy, que é bem mais nova que eu, mas começou a trabalhar aos 6 anos. No Casseta, sou só um sétimo, um sexto, sem o Bussundinha. Poderia falar, no máximo, sobre o que vi da vidinha.

Incomodam os boatos sobre uma suposta saída do Casseta em busca de outros rumos?


CLAUDIO: Hoje em dia, tem torcida, militância e milícia (na imprensa). Tem gente desinformada, de má-fé. Não é todo mundo, mas tem blog que torce, em todos os sentidos, de torcer o fato e torcer para outro camarada vestir a camisa. Mas a fofoca não me incomoda. Má-fé e ignorância me incomodam muito mais. Isso (boato) tudo bem, sei o que é verdade na minha vida e o que não é, isso não me influencia. Goiasnet.com/O Globo


 

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