Mundo Mulher

Marcello Novaes comemora o bom momento na TV


16/07/2012

 
Desde o fim do ano passado, quando começou a intensa preparação para viver o malandro Max, em “Avenida Brasil”, Marcello Novaes criou um bordão que usa com a família e os amigos.

— Tive uma conversa séria com todos, expliquei a complexidade do trabalho e disse que em outubro tudo se resolve. E é só o que falo agora: em outubro, eu volto a ter vida — afirma.

O ator não está brincando. Para interpretar o amante de Carminha (Adriana Esteves), um cara renegado, desprovido de afeto e ingênuo na medida da burrice, Marcello vem gravando cerca de nove horas por dia no estúdio. Quando chega em casa, geralmente passa mais umas quatro estudando o texto. O tempo que sobra, ele diz, usa para colocar o sono em dia.

— Eu, a Adriana e a Débora (Falabella) somos as pessoas que mais gravam. Adriana está numa entrega admirável, uma parte do sucesso da novela é só dela. É um ritmo pesado, desgastante, cansativo. E não é qualquer um que aguenta essa pedrada. Tem que estar preparado, com uma boa estrutura psicológica, com foco. É um personagem pelo qual abri mão de muita coisa. Outro dia foi aniversário do meu pai e não consegui dar os parabéns pessoalmente. Fiquei chateado. Mas é isso, a profissão é meu ganha-pão, a forma como sustento meus filhos. Preciso dela — reforça.

Não que ele esteja reclamando, como faz questão de frisar. Muito pelo contrário. Talvez desde o mecânico Raí, de “Quatro por quatro” — no ar em 1994 —, Marcello não tenha experimentado tanta popularidade. E, mais do que isso, um reconhecimento pelas 17 novelas e seis minisséries que fez na Globo em 25 anos na emissora. Atualmente, pode ser visto à tarde em “Chocolate com pimenta”, no “Vale a pena ver de novo”, e na reprise de “Chiquinha Gonzaga”, no Viva.

— Sou um cara que tem sorte porque meu trabalho é variado. Eu nunca parei. Neste momento, soube que já estou cogitado para três produções diferentes após “Avenida Brasil”. Tem novela, minissérie e seriado. Isso, de certa forma, é motivo de orgulho — comemora.

Apesar da onipresença televisiva, Marcello explica que, ao longo dos anos, aprendeu a ter discernimento. Recentemente, negociou um papel em “Cordel encantado”, em que interpretou o gago Quiquiqui. Na época, ele não curtiu o que lhe foi ofertado de primeira.

— Falei com a Amora e o Ricardo (Mautner e Waddington, diretores da trama) que preferiria abrir mão da novela. Amora não aceitou e me ofereceu quatro outras opções. Escolhi um gago, porque sempre quis fazer algo assim. Era um personagem pequeno, mas que me realizou. Isso é importante para o ator — avalia.

Com Max, a história foi diferente. Marcello conta que, desde que recebeu as primeiras informações sobre o gatuno, já sabia que teria potencial para fazê-lo. Nascido no Leblon, onde viveu por 32 anos até a mudança para a Barra, ele fala que sempre foi da rua, onde conviveu com todo tipo de gente.

— Apesar de vilão, ele é o típico malandro carioca, sujeito que conheço bem. Gosto do ser humano, de observar comportamentos. E já convivi com pessoas de todos os níveis e classes sociais. Não tenho preconceitos, sou contra radicalismos — teoriza. — Entendi a forma como o João (Emanuel Carneiro, autor da novela) escrevia. O Marcello é o oposto do Max, sou um cara correto e certinho. Desconheço a malandragem e o mau-caratismo, mas conheço as gírias e o jeito do personagem.

O trabalho abalizado de Marcello vem dando ao personagem uma humanidade que divide as opiniões do público. Odiado em vários momentos, Max igualmente desperta pena em quem o vê sendo chicoteado por Carminha, Nina e pela família de Tufão (Murilo Benício).

— Ele foi criado no lixão, é filho de um cara que nunca fez questão de amá-lo, só quer dinheiro. Não tem boas referências. E não estou justificando. Claro que ele poderia ter virado um doutor. Mas a realidade foi dura. E ele é um personagem crível. Existem vários caras assim por aí — comenta.

Graças ao êxito de Max, o próprio Marcello vem reconhecendo mais seu trabalho. Se antes ele dizia se considerar um “ator mediano”, hoje, já consegue dizer — com alguma dificuldade, é verdade — que se acha um “bom ator”.

— O Max vem sendo um dos grandes desafios da minha vida, como o Raí foi. E eu sei como fazer. Tenho experiência e adquiri respeito dos diretores e dos colegas. Tenho plena noção de que um papel como esse só vem para o ator a cada 10, 15 anos. E veio num momento oportuno — ressalta.

O tal momento refere-se à chegada dos 50 anos, que Marcello completa daqui a menos de um mês, em 13 de agosto. Afora os cabelos brancos e as duas hérnias de disco que o impedem de praticar todos as atividades que gostaria, o ator revela que não poderia estar se sentindo melhor.

— Eu tenho a saúde perfeita, estou bem no trabalho, disposto, com filhos saudáveis A idade só me fez bem. Não tenho por que escondê-la. Ainda não sei se vou comemorar com festa. Em outubro, quem sabe?

E enquanto alguns colegas se viram do avesso para parecerem mais novos, Marcello acredita que a aparência mais velha trará uma variedade ainda maior de papéis.

— Tenho cabelos brancos há cinco anos! Mas sempre faço aqueles caras sete, dez anos mais novos que eu. Até o Max mesmo. Ele deve ter uns 40 e poucos anos. Não me incomodo e não posso reclamar do que venho fazendo.

Se a boa forma de Marcello impressiona, o tamanho dos filhos Diogo, de 17 anos (com Sheyla Beta), e Pedro, de 15 (com a atriz Letícia Spiller) chama ainda mais a atenção. Com os rapazes — “Outro dia disse que estava com as crianças, e as pessoas me olharam rindo” —, o ator diz que a relação é totalmente na base do diálogo.

— Nunca levantei a mão, não acredito que seja por aí. Me orgulha ver como confiam em mim, se abrem para falar de sexo, drogas e rock'n'roll. Meus filhos me veem como um ídolo, dizem que sou um pai maneiro, que surfa, tem gás, e acho isso lindo. Um é louro e o outro moreno, são como feijão e arroz e se dão muito bem. — brinca o ator, que tem total liberdade para ficar com a dupla. — Eles entram e saem da minha casa na hora que bem entendem. Ultimamente,têm estado mais comigo do que com as mães. Nossa família é muito unida.

O carinho com que fala dos meninos é o mesmo reservado às ex-mulheres, com quem tem uma relação amistosa. Ele, inclusive, participou do programa “Amor & sexo” como parceiro de Letícia. Um exemplo de evolução, vamos combinar.

— Tenho amigos que não conseguem se virar com uma mulher, e não entendem como lido com tantas. Eu nutro outro tipo de amor tanto pela Letícia quanto pela Sheyla. São mulheres incríveis, fortes. E essa amizade, sem dúvida, tem uma influência positiva na educação dos meninos. Não teria como ser de outra forma — analisa.

Solteiro há cinco anos, Marcello confessa que sim, tem seus dias de carência. Mas nada que o abale sentimentalmente, afinal a eleita “deve estar por aí”.

— Meus pais são casados há mais de 50 anos, e eu pensava que, para ser feliz, a gente precisava ter uma carreira, uma casa, uma mulher e filhos. Sempre fui casado e namorei, era uma atrás da outra. Mas não é assim e meu sofrimento agora é zero. Eu sou hetero, quero sim uma mulher, entendeu? Se eu fosse bissexual talvez as coisas estivessem mais fáceis... Infelizmente, gosto de mulher, vou fazer o quê? — diverte-se.

Bem-humorado, Marcello mantém o estilo tranquilo dentro e fora do set. Como afirma a diretora Amora Mautner, destacando que “não o larga de jeito nenhum”.

— Brinco que vou tatuar meu nome nele, para ele ter que fazer tudo comigo. Ele não é aquele ator burocrático, sabe? Que vem, grava e vai embora. Ele entra na onda, me ajuda muito. É talentoso e carismático. Uma pessoa adorável — elogia.

De fala mansa, ele afirma que raramente se estressa; tampouco fica entediado. Preenche as horas vagas com seus muitos hobbies. Entre eles, o surfe, a marcenaria, a decoração, o artesanato e a música (ele tem até um estúdio em casa).

— Sou simples, fácil de lidar. Tenho minha casinha, meu sitiozinho... Gosto de acordar, dar meu mergulho no mar e fazer minhas coisas. Mas agora não tenho tido tempo para nada, é verdade. Só trabalho e durmo. Em outubro, eu retomo tudo — repete.

Realizado? Marcello diz que sim. Mas, mais do que isso, ciente de que é um vitorioso numa profissão incerta.

— É claro que comemoro, mas conheço gente que se deslumbrou e se perdeu. Sou pé no chão, coerente. Sei que hoje estou lá no alto, amanhã pode não ser assim. De repente podem não me querer mais, ou posso não fazer outro personagem igual ao Max...Vamos ver.

Durante a entrevista, o semblante do ator só se altera quando ele fala sobre o episódio do sábado, dia 7, quando se recusou a soprar o bafômetro da Lei Seca e teve que pagar uma multa, além de perder sete pontos na carteira.

— Incomoda essa exposição que fazem. Acho ridículo. Não estou errado. Se não fiz o teste, é porque tenho direito, ou estaria preso agora — defende-se ele, dizendo que bebeu duas cervejas, duas horas antes de ser parado. — Não quis arriscar, não posso perder a carteira. Não sou contra a Lei Seca, mas ela é extremamente radical.

Goiasnet.com/O Globo

 

 

 

 

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