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‘É a treva!’ renova tradição de bordões das novelas

‘É a treva!’ renova tradição de bordões das novelas 20/07/2009  Isabelle Drummond como a personagem Bianca, de 'Caras e bocas'

A atriz Isabelle Drummond, de 15 anos, comemora o fato de não ter ficado marcada como “a menina que interpretou a boneca Emília no ‘Sítio do pica-pau amarelo’” há sete anos. Tudo por causa de Bianca, a personagem mimada da novela “Caras & bocas”, que a qualquer sinal de tempo fechado lança o bordão “é a treva!”.

A expressão caiu no gosto popular e tem feito sucesso entre os adolescentes. “Quando saio na rua, as pessoas brincam com essa história de treva, principalmente a turma da minha idade”, conta Isabelle. “Não sou muito de usar gírias, mas às vezes repito essa fala Bianca no meu dia-a-dia”.

“É a treva!” vai entrar para a galeria de bordões de novela que grudam feito chiclete na cabeça do público, criados por um especialista no assunto: Walcyr Carrasco. Da caneta do autor de “Caras & bocas”, já saíram expressões de sucesso como “chique de doer”, de Elvira, papel de Nívea Stelmann em “Sete pecados” (2007) ou “Elzinha é biscoito fino”, auto-elogio da personagem de Leandra Leal em “Ciranda de pedra” (2008).

Carrasco dá a receita para que uma expressão de folhetim ganhe as ruas. “Tem que ser agradável, identificar uma situação, um jeito de ser. ‘É a treva’ vale para situações que todos vivem”, revela. “Esse bordão adaptei de um amigo que costuma dizer ‘tudo são trevas’”.

“Qual é o rap?” 
Diferente da patricinha adolescente da novela das sete, a Inês de “Caminho das Índias”não é adepta de samba de uma nota só. A personagem da atriz Maria Maya poderia até lançar uma coletânea com as expressões nada convencionais que profere na trama de Glória Perez.

“Qual é o rap?” – algo como “o que está acontecendo?” – , “vou pegar o beco”, usado para sair de alguma situação que pode terminar em encrenca, ou “bizarro!” , são falas comuns do repertório da personagem. “Essa coisa de ‘pegar o beco’ para mim foi totalmente nova. Parece que é uma gíria usada nas comunidades dos morros do Rio. Eu nunca tinha ouvido falar até a Inês aparecer na minha vida”, diz Maria.

Segundo a atriz, Glória Perez misturou expressões de “vários guetos”para desenvolver o linguajar de Inês. “A personagem tem aquele visual que mistura ‘dark romance’ com a noiva-cadáver do Tim Burton e Alice Dellal [modelo brasileira de sucesso na Inglaterra] e as expressões só acompanham essa atitude forte dela”, opina Maria. “Mas acho que o bordão que mais pegou mesmo foi o ‘bizarro’. Até uma senhorinha me parou na rua para dizer ‘bizarro’. Achei engraçado, porque é um jeito de falar muito teen.”

Segundo Marli Quadros Leite, professora de Língua Portuguesa da USP, a leva de bordões que a teledramaturgia torna popular não é capaz de ferir o idioma. “O público repete essas expressões como forma de fazer parte do universo das novelas. Mas quando o bordão tem um erro de pronúncia ou de concordância, geralmente vem de um personagem mais caricato ou com uma defasagem cultural. O povo sabe identificar esses traços e por isso as chances de incorporá-lo no dia-a-dia são menores. Ninguém gosta de parecer ridículo”.

A professora explica que os estrangeirismos são os que têm maior influência sobre o telespectador. E cita como exemplo o “are baba” (algo como ‘ah, meu Deus’) e o “tike he” (está bem) usado com frequência em “Caminho das Índias”.

“As paisagens indianas, o modo de aquele povo se vestir e os costumes mostrados na novela são muito diferentes dos nossos. Então, a primeira coisa que vai aproximar o Brasil da Índia retratada nos capítulos são as expressões populares daquele país”, avalia Marli. “Por isso as pessoas vão imitar com mais facilidade, até porque a novela repete quase todos os dias aquelas palavras. E o poder de massificação da TV é muito grande.”

Prova do poder televisivo no subconsciente da população é a boneca Emília interpretada por Isabelle Drummond em 2001. “Sempre tem alguém que lembra do bordão que ela usava no ‘Sítio’, o ‘cara de coruja seca’. Engraçado como o pessoal não esquece essas coisas..."

Goiasnet.com/G1

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