Mundo Mulher

Aumenta o Uso de

Aumenta o Uso de


Tem aumentado significativamente o uso dos anticoncepcionais de urgência - mais conhecidos como "pílulas do dia seguinte (PSD)" - pelas adolescentes. "Elas acreditam que o medicamento é a melhor solução para garantir a liberdade sexual", constata o médico Celso Eugênio Pinto, de Sorocaba (SP), membro da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, responsável pelo Serviço de Pré-natal de Adolescentes do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) e membro da Clínica Bozelli.

Segundo Celso Eugênio, muitas adolescentes tomam o medicamento toda vez que mantêm relações sexuais e não adotaram as precauções necessárias. Outras consideram mais cômodo tomar a PDS que ingerir diariamente as pílulas anticoncepcionais. "Na maioria dos casos, isso seria evitado se houvesse mais diálogo dos pais com suas filhas, o que as deixaria menos vulneráveis às informações erradas que amigas e determinadas publicações costumam oferecer", diz.

Durante algum tempo, discutiu-se se as PDS eram abortivas. "Elas agem adiantando ou atrasando o amadurecimento da camada interna do útero (endométrio), tornando-o impróprio à implantação normal do ovo", afirma o médico. Seu mecanismo de funcionamento é baseado numa carga extra de hormônios que irá desestruturar o endométrio (a camada interna que reveste o útero e onde o óvulo fecundado se fixa). "Quando o óvulo fecundado chegar ao interior da cavidade uterina, cerca de três dias depois da ovulação e fecundação, não encontrará a organização fisiológica ideal para se implantar", explica.

Toda vez que a PDS é ingerida, age na comunicação estabelecida entre a hipófise (uma glândula localizada no cérebro) e os ovários, por meio dos quais os hormônios são produzidos. "A pílula do dia seguinte modifica a segunda fase do ciclo, provocando desarranjo funcional do endométrio", explica o profissional. Apesar da ingestão - mesmo que freqüente - não causar nenhum tipo de dano irreparável, o uso do medicamento não deixa de ser uma interferência antinatural no organismo. Além disso, as PDS injetam uma dose extra de hormônios na jovem. "Isso acarreta conseqüências, como maior retenção de líquido no corpo (que pode gerar celulite, por exemplo) e uma maior formação de acnes, dor nas mamas, náuseas e alterações na quantidade do fluxo menstrual", conta o médico.

Há, também, um problema de ordem sanitária. Apesar das PSD serem um produto relativamente barato, o aumento na demanda despertou o interesse de vários laboratórios. Alguns dos produtos postos à venda são duvidosos. "Caso tenha mesmo que comprar o medicamento, o melhor é procurar orientação médica e se limitar às marcas produzidas por laboratórios consagrados", recomenda Celso.

De acordo com o médico, o uso indiscriminado das PDS pelas adolescentes é verificado em todas as camadas sociais. Na clínica onde trabalha, a maioria de suas pacientes pertence às classes média e média alta. No Serviço de Pré-natal do CHS, onde os atendimentos são cobertos pelo Sistema Único de Saúde, a realidade é oposta. "Independente da classe social a que pertencem, as jovens buscam no medicamento um artifício para manter relações sexuais sem o risco de engravidar. Não deixa de ser um meio de fuga, uma rebeldia típica da adolescência". Muitas acabam se surpreendendo e descobrem que estão grávidas. "O hábito de tomar a PDS faz com que se atrapalhem, percam a noção do tempo de efeito do último comprimido que tomou. Além disso, não existe método de anticoncepção com 100% de eficácia", conta.

Mundo Mulher
Mundo Mulher
Mundo Mulher
box_veja