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Infertilidade feminina

Infertilidade feminina pode ser


G1 Fecundação comprometida dez anos antes da menopausa Mulheres que privilegiam a carreira mas também não querem abrir mão dos filhos, cuidado: não dá para enganar a natureza. Uma análise exaustiva do funcionamento da fertilidade feminina sugere que é extremamente difícil, se não impossível, melhorá-la depois que a mulher chegou a um período crítico que antecede a menopausa em cerca de dez anos. Quem deixar esse período passar provavelmente só vai conseguir se tornar mãe por milagre.

Trata-se de uma barreira em grande parte genética, que a indústria farmacêutica e as clínicas de fertilização in vitro não têm conseguido romper -- nem conseguirão. O veredicto sombrio é do pesquisador britânico Peter Lees Pearson, do Departamento de Genética e Evolução da USP. O único jeito de contornar o problema é descobrir quais mulheres têm predisposição para infertilidade precoce e aconselhá-las, diz ele. "As que querem ser mães e têm envelhecimento ovariano precoce precisam engravidar antes dessa janela da menopausa. As outras podem esperar mais, colocar a carreira em primeiro lugar e virar presidentes da empresa", brincou ele.

Pearson apresentou esse quadro não muito animador dos fatores que influenciam a fertilidade feminina durante o 53. Congresso Brasileiro de Genética, que começou no domingo (2) e vai até quarta-feira em Águas de Lindóia (SP). O pesquisador britânico conta que, por um lado, a boa notícia é que a infertilidade feminina é menos complicada de estudar que a masculina. Mais simples? "Ela é menos heterogênea e há menos genes envolvidos nela", diz Pearson. "A má notícia é que ela é poligênica" -- ou seja, é gerada pela interação de vários genes diferentes atuando em conjunto, o que dificulta muito apontar um único culpado no DNA ou manipulá-lo para tentar consertar a situação.

Mesmo assim, todos esses genes aparecem afetar uma única variável: a taxa de envelhecimento dos óvulos. Não é difícil entender por que esse é o nó da questão. É que todos os óvulos que a mulher liberará ao longo da vida já estão praticamente prontos quando ela ainda é um feto na barriga de sua mãe. Na mulher adulta, faltam apenas ajustes na meiose (a produção das células sexuais, que possuem um só conjunto de material genético, em vez de dois, como as outras células). Com o passar dos anos, é inevitável que essas células sofram desgaste genético. E é exatamente isso o que acontece, afirma o pesquisador britânico.

Até as mulheres com 20 e poucos anos, no auge de sua capacidade reprodutiva, na verdade chegam a perder 50% dos óvulos que chegam ser fecundados. A fertilidade em geral começa a declinar por volta dos 30 anos e, perto da menopausa, simplesmente todos os óvulos que chegam a ser fecundados acabam ficando inviáveis. A principal causa são erros na meiose, que acabam conduzindo a embriões com número errado de cromossomos (as estruturas enoveladas que abrigam o DNA). Para complicar a situação, não há maneiras confiáveis de medir a fertilidade ao longo da vida da mulher. As únicas marcas objetivas são a primeira menstruação, na puberdade, e a menopausa. A queda dos níveis de hormônios, que acompanharia o fim da vida fértil, na verdade vem depois do término da fertilidade, diz o pesquisador britânico.

A marca dos dez anos

Por isso, ele e seus colegas se concentraram na análise de grandes médias populacionais, para ver o que elas revelavam sobre a vida fértil das mulheres. Dados detalhados do século 20 na Holanda, e dos séculos 19 e 20 na provínca de Quebec, no Canadá, mostram que a fertilidade decai vertiginosamente, praticamente se extinguindo, cerca de dez anos antes na menopausa. Pearson diz acreditar que, entre as mulheres que deixam de ser férteis muito cedo, a menopausa também chega antes da média. Dados de famílias com problemas de fertilidade em São Paulo obtidos por ele sugerem que esse pode ser mesmo o caso, embora precisem de mais confirmação estatística. Para ele, não se pode chamar a grande maioria dos casos de infertilidade feminina de doença.

"Na verdade, é um traço genético que passou a ser considerado uma doença por causa de uma mudança nos nossos hábitos sociais", afirma ele. A mudança é, claro, a escolha de adiar a concepção dos filhos para mais tarde na vida, comum nas sociedades modernas. Ele diz acreditar que a biologia humana normal é mesmo pouco eficiente na produção de bebês, "talvez pelo fato de termos décadas de vida reprodutiva, ao contrário de outros mamíferos. Mas não tenho como provar essa hipótese". Por isso, Pearson diz que o esforço agora deve se concentrar na busca por fatores genéticos que ajudem a predizer quais futuras mães terão menopausas precoces. Ele não acredita em tratamentos que mudem esse traço genético. "Já gastaram uma quantidade incrível de dinheiro com isso, e não deu em nada". Um dos únicos fatores de estilo de vida que podem influenciar a fertilidade, segundo ele, é o cigarro, que tende a tornar as mulheres inférteis. Fonte:parceria Mundo Mulher/Goiasnet.com.br

 
 
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