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Alcoolismo

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A fronteira entre o uso e a dependência do álcool é muito tênue. Como saber, então, se uma pessoa já passou da fase de "beber socialmente" e se tornou uma alcoolista? Segundo Analice Gigliotti, da Aperj - Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro, a identificação precoce do alcoolismo geralmente é prejudicada pela negação dos pacientes quanto a sua condição. "É complicado identificar os estágios de alcoolismo porque a sociedade insere a bebida alcoólica em todas as comemorações e atividades de lazer, normalizando porres e excessos, e atribuindo esses comportamentos à expressão de felicidade", diz.

Maior problema de saúde pública em todo mundo, o alcoolismo é um dos temas centrais do VII Simpósio Internacional sobre Tratamento de Tabagismo e do III Simpósio Internacional sobre Álcool e Outras Drogas, que acontecerão nos dias 7 e 8 de novembro, no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, no Rio de Janeiro, com a participação de alguns dos maiores especialistas do mundo nesses assuntos. Os simpósios são promovidos pela Aperj, sob a coordenação da Dra. Analice Gigliotti.

Segundo Analice, o profissional deve estar atento às alterações no comportamento dos pacientes, como, por exemplo, falta de diálogo com o cônjuge, freqüentes explosões temperamentais com manifestação de raiva, atitudes hostis, perda do interesse na relação conjugal, entre outras. "O Álcool pode ser procurado tanto para ficar sexualmente desinibido como para evitar a vida sexual. No trabalho, os colegas podem notar um comportamento mais irritável do que o habitual, atrasos e mesmo faltas. Acidentes de carro também podem passar a acontecer", explica a especialista.

"Quando essas situações acontecem é sinal de que o indivíduo já perdeu o controle da bebida e pode estar travando uma luta solitária para diminuir o seu consumo", afirma Analice. As manifestações corporais costumam começar por vômitos pela manhã, dores abdominais, diarréia, gastrites e aumento do tamanho do fígado. Pequenos acidentes que provocam contusões e outros tipos de ferimentos tornam-se mais freqüentes, bem como esquecimentos mais intensos, envolvendo obrigações e deveres sociais. A susceptibilidade a infecções aumenta e, dependendo da predisposição de cada um, podem surgir crises convulsivas.

Nos casos de dúvidas quanto ao diagnóstico, deve-se sempre avaliar incidências familiares de alcoolismo, porque se sabe que a carga genética predispõe ao alcoolismo. Também é muito mais comum do que se imagina a coexistência de alcoolismo com outros problemas psiquiátricos, como transtornos de ansiedade e depressão. "Muitas vezes, o tratamento do alcoolismo inicia-se pelo diagnóstico e tratamento das doenças de base que o causam", diz Analice.

Em geral, quando o diagnóstico é evidente e o paciente concorda em se tratar, já se passou muito tempo e diversos prejuízos foram sofridos. "Como a maioria dos diagnósticos mentais, o alcoolismo tem um forte estigma social, e os usuários tendem a sofrer com esses estigmas", conta Analice. Para se iniciar o tratamento da doença, é necessário que o paciente mantenha em alta sua auto-estima, sem, contudo, negar sua condição de alcoólatra, o que é muito difícil de se conseguir na prática.

O consumo de álcool é o maior problema de saúde pública em todo mundo, atingindo cerca de 10 a 14% da população mundial. Existe um predomínio do alcoolismo em homens, embora as mulheres sejam mais vulneráveis à substância. A primeira experiência com o álcool costuma ocorrer na adolescência. Um alcoólatra dificilmente pára de beber. De cada 100 alcoólatras, apenas um consegue entrar em um programa de recuperação. Os outros normalmente 99 morrem sem querer parar de beber. A taxa de recaída (voltar a beber depois de ter se tornado dependente e parado com o uso de álcool) também é muito alta: aproximadamente 90% dos alcoólatras voltam a beber nos quatro anos seguintes à interrupção, quando nenhum tratamento é feito.

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