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Aspectos emocionais influenciam a percepção dos sons

07/12/2011

 
Pacientes com hipersensibilidade podem sentir desconforto com sons de qualquer intensidade.
 
Os ruídos da praça de alimentação de um shopping, da mastigação, do arrastar dos chinelos no chão, o latido dos cães e até mesmo o som de uma risada pode ser insuportável para quem sofre com intolerância a sons. Segundo Rita de Cássia Cassou Guimarães, otorrinolaringologista e otoneurologista, existem três tipos de hipersensibilidade a sons - a hiperacusia, misofonia e a fonofobia. “A diferença entre eles é o motivo que causa a intolerância. Quem sofre com a hipersensibilidade aos sons não ouve mais do que as pessoas normais”, explica.


A hiperacusia tem como sintoma a intolerância a sons de baixa ou moderada intensidade. O distúrbio é causado pela alteração no processamento dos sons, mas normalmente a cóclea, órgão do ouvido que recebe os impulsos elétricos dos sons, permanece sem danos. “O paciente não suporta ouvir o som do ventilador, da geladeira, do carro ou do telefone, por exemplo. É uma sensibilidade anormal que afeta o convívio social e profissional de quem sofre com o problema”, observa a médica, mestre em clínica cirúrgica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).


Esta alteração das vias auditivas torna os sons comuns do cotidiano uma tortura para o indivíduo. O nível de desconforto é alto e o distúrbio pode ser acompanhado de zumbido, um som percebido dentro da cabeça ou nos ouvidos. “Quem tem hipersensibilidade e zumbido deve fazer um tratamento que ajude o paciente a ouvir os sons e ao mesmo tempo perceba menos o zumbido. O paciente é orientado a manter sons ambientes durante todo o tempo, pois os ouvidos devem ser constantemente estimulados para reduzir a percepção do zumbido e minimizar a sensibilidade”, esclarece.


Rita aponta que a misofonia é um tipo de sensibilidade que atua como uma resposta emocional ou condicionada a determinados sons. As mudanças no estado emocional podem intensificar os sons e o sistema límbico tem sua atenção voltada aos ruídos. “Isto acaba prejudicando a realização de outras tarefas, pois ao ouvir determinado som pode haver uma resposta desproporcional do sistema límbico e do sistema nervoso autônomo. O reflexo protetor do organismo gera uma mensagem emocional negativa para garantir que certa reação ocorra”, destaca.


As pessoas que tem misofonia podem desencadear reações negativas a um som em um ambiente e não apresentar nenhuma alteração ao ouvir o mesmo ruído em outro ambiente. “Há uma relação muito forte com o aspecto emocional do paciente. Os reflexos são fundamentais para a sobrevivência e asseguram que o indivíduo vai reagir em situações de perigo e emergência. Quando estes reflexos se distorcem trazem transtornos, pois atuam em momentos que não são necessários como uma resposta a estímulos que não oferecem risco”, ressalta Rita.
 

A fonofobia é o terceiro tipo de hipersensibilidade a sons. É um transtorno psicológico caracterizado pelo medo de ser exposto a ruídos. Sons normais, como o da própria voz, causam uma série de desconfortos no indivíduo. “O paciente prefere ambientes silenciosos e pensa que ao estar em contato com os sons pode prejudicar os ouvidos e até sofrer perda auditiva, independentemente da intensidade do barulho. O medo pode causar sensações como tremores, suor excessivo, dores de cabeça, falta de ar e até náuseas. Os sintomas variam de pessoa para pessoa”, acrescenta.


O tratamento da fonofobia é interdisciplinar e o paciente é acompanhado por especialistas em otorrinolaringologia e também em psiquiatria. Orientações e o uso de medicamentos podem ser utilizados para amenizar os sintomas. “As psicoterapias tem resultados satisfatórios e ajudam o indivíduo a levar uma vida o mais perto do normal possível e a lidar com o distúrbio por meio de técnicas de auto-ajuda”, finaliza a médica, coordenadora do Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido de Curitiba (GAPZ) e responsável pelo Setor de Otoneurologia da Unidade Funcional de Otorrinolaringologia do Hospital de Clínicas da UFPR.
  

Dra. Rita de Cássia Cassou Guimarães (CRM 9009)
Otorrinolaringologista, otoneurologista, mestre em clínica cirúrgica.
canaldoouvido@gmail.com
 

Carla Bastos Dias

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