Mundo Mulher

Com jeito de verão - 20ª edição do Fashion Rio

12/01/2012

Cinco grifes abriram o primeiro dia de desfiles do Fashion Rio

Dia cinzento. Sem sol. Sem a cor natural do Rio de Janeiro. Assim começou, na terça-feira, a 20ª edição do Fashion Rio, a semana de moda carioca que segue até sábado, no Pier Mauá, região portuária do maior balneário brasileiro.

Na estreia das coleções de inverno, cinco grifes. Cinco emblemas da moda nacional. Representantes da moda carioca, paulista (Alexandre Herchcovitch) e mineira (Patachou, que nasceu em Minas Gerais). Um panorama da moda nacional que dita tendências.

Nos cinco dias de evento, a expectativa é que deve passar pelo Pier Mauá, 85 mil pessoas. Esta edição será também a última que terá o mesmo visual. Ao lado dos armazéns, fica o mar. De outro, o imenso viaduto que dá na Praça Mauá. O objeto imenso de concreto está com os dias contatos. Vai ser demolido. No lugar do concreto vai aparecer uma praça com restaurantes, cinemas. Lazer urbano - e espera-se - com segurança, vai enfeitar a orla. Tudo vai ficar pronto - espera-se também - para a Copa do Mundo.

Enquanto os shows de moda acontecem no Pier Mauá, a parte mais sisuda do evento fica em Botafogo, num clássico casarão. Lá são realizados os negócios. A previsão de comercialização chega à casa de R$ 15 milhões.

As coleções

A primeira coleção a entrar na passarela foi de Herchcovitch. Com uma batida do som new wave, que no final do desfile reeditou uma deliciosa canção do Talking Heads, o estilista paulista determinou que a referência conceitual vem do finalzinho da década de 1970 e começo dos anos 1980. Então, camisões, camisas-vestidos, se casaram com peças justas.

Barbudo, com jeito de rabino, mas nem tão ortodoxo, pois está meio bronzeado, Alexandre apresentou ainda colants, trazendo o verde das clássicas estampas de camuflagem. Outro elemento clássico foram os jeans. Saltos altos e os cortes justos acabam confundindo ou reforçando a tese de que a moda brasileira é feita sempre pensando no verão. E o inverno? Só um pretexto para uma nova coleção, de verão.

A coleção de Esther Bauman, da Acquastudio, veio na sequência. Romântica, foi ainda mais clássica. Usou rendas, bordados e uma silhueta anos 1950.

A Patachou seguiu a tradição oriental da moda. Foi rápida até no desfile, que não ultrapassou sete minutos. A linha reta do quimono determinou o corte. Quimonos em prata e dourado. Alguns em tecidos metalizados. Discretos e chiques.

Um detalhe: se o desfile da Patachou foi compacto, elegante no tempo de duração, o mesmo não se pode dizer da espera. Um atraso de um hora. Mas tudo é permitido, afinal, o investimento é alto. O frenesi da espera faz parte do show. Para uma foto a mais. E depois mais badalação nos bastidores.

Encerrando a primeira noite, as coleções das marcas Alessa e Cantão. A primeira ressaltou os tons terra, ou um tom acima na cartela do nude. A segunda, uma das mais tradicionais grifes cariocas, apresentou coleção assinada por Lanza Mazza, ressaltando peças ovaladas. Na passarela, a top Carol Trentini, a estrela do primeiro dia do Fashion Rio.

Hype

Nos dois primeiros dias do Fashion Rio, após os desfiles, lá pelas 22h30, foram realizadas os shows fashion da 15 ª edição do Rio Moda Hype. No Cais do Porto, ao lado dos armazéns dos desfiles das marcas consagradas, 10 candidatos ao rico mercado da moda apresentaram suas coleções de inverno. No elenco, quatro cariocas (Adruck, André Lucian, Branchée e Paulo Rocha), dois paulistas (Antonio Bizarro e Estúdio Frame), um mineiro (Lucas Magalhães), um baiano (Soddi), um piauiense (Martins Paulo) e um do Distrito Federal (Sann Marcuccy).

Na metade do  projeto fashion

Além das tops, das 24 coleções e outras celebridades que circulam pelo PIer Mauá, Paulo Borges é outra atração da semana de moda carioca. Claro, ele não desfila. Não assina nenhuma coleção. Mas coordena tudo.

O paulista que profissionalizou a moda nacional e reuniu as principais marcas num só evento, o São Paulo Fashion Week, coordena o Fashion Rio também. E sabe tudo o que acontece. Sempre ao lado de dois assistentes, Paulo conversa com a imprensa, anda de um lado por outro e fala: "Em que lugar do mundo tem uma semana de moda ao lado de um porto?" No quintal da semana de moda, o mar, diversos transatlânticos e uma fila de marinheiros de olhar curioso para o movimento fashion.

Paulo prefere falar de convergência ao invés de diferença ao traçar um paralelo entre a moda praticada no Rio e em São Paulo. "Estamos pensando em Brasília", assinala o produtor de moda, que conhece o mercado desde a década de 1980.

Ele afirma que o Rio de Janeiro foi a primeira cidade brasileira a se apropriar do caráter cosmopolita em razão, sobretudo, de sua história, por ter abrigado a corte portuguesa. Somado a essa condição histórica, a cidade desenvolveu seu próprio estilo. Muito ligado a cor, ao sol, ressaltando suas características geográficas.

A contribuição de São Paulo, numa primeira instância, vem, naturalmente, através da economia. "E pela valorização do design, da arquitetura da moda", descreve.

O projeto de profissionalizar a indústria da moda nacional passa ainda pela formação da cultura de moda, sem interrupções. Com informações simultâneas e alimentadas de seis em seis meses, quando são apresentadas as duas coleções - de verão e inverno. Paulo acredita que está na metade do caminho. "É um projeto de 30 anos."

A primeira geração da cultura de moda nacional cresceu, já que o projeto iniciado por Paulo começou na década de 1990. Caminha para a fase adulta. A segunda "está pequeninha", explica Paulo Borges.

O repórter viajou a convite da organização do evento

Fotos: Ze Takahashi / Agência Fotosite
fotos 1 e 2 - Peças da Cantão apresentadas no evento: aposta nas formas ovaladas
Fotos 3 e 4 - Aquastudio: coleção de inverno romântica, com rendas e bordados
Fotos 5 e 6 - Herchcovitch: referência conceitual que bebe nas influências da década de 70 e começo dos anos 80
Fotos 7 e 8 - Patachou: grife apresentou coleção sofisticada inspirada na tradição oriental, com a linha reta do quimono definindo o corte e brilho metalizado
Fotos 9 e 10 - Alessa: marca priorizou os tons terrosos, ou um tom acima na cartela do nude, em criações mais despojadas e com influência da moda étnica
 
O Popular - Sebastião Vilela Abreu
Fotos: Ze Takahashi / Agência Fotosite

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