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Os figurinos do mestre Lacroix

Os figurinos do mestre Lacroix

23/08/2009

Mostra que será aberta hoje em São Paulo enfoca a ligação do estilista com a moda e as artes cênicas

Quando criança, o estilista francês Christian Lacroix tinha o costume de ir à ópera com a mãe e depois, quando chegava em casa, desenhava novas versões dos figurinos que acabara de ver no palco. “Ele sempre gostou de desenhar e também sempre gostou de roupas”, admite Delphine Pinasa, diretora do Centre National Du Costume de Scène de Moulins, na França, e curadora da mostra Christian Lacroix – Trajes de Cena, que será inaugurada hoje, às 19 horas, para convidados e amanhã, para o público, no Salão Cultural da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, e fica até 1º de novembro. A exposição, que veio quase que igual à apresentada aos franceses em 2007 – e que faz parte do calendário do Ano da França no Brasil –, reúne a ligação do estilista com a moda e as artes cênicas, ao exibir 105 figurinos que ele criou, desde a década de 1980, para óperas, peças de teatro e de balé, além de 80 croquis e desenhos.

Antes mesmo de criar, em 1987, sua maison de alta-costura, Lacroix já se dedicava à concepção de figurinos – o primeiro foi em 1985. “Minha entrada no mundo da moda aconteceu por causa do teatro. Metade do portfólio que apresentava era constituída de maquetes de cenografia, mas a outra metade fora conquistada pelos figurinos”, afirma o estilista em um dos textos do catálogo da mostra. Lacroix, que em 1997 esteve em São Paulo por conta da exposição Da Inspiração à Finalização de uma Roupa de Alta-Costura, também apresentada na Faap, não veio desta vez de certa maneira devido ao desgaste provocado pela crise financeira por que passa sua maison.

Lacroix nunca separou as duas vertentes de criação em sua trajetória e, como diz Delphine Pinasa, essa é uma das características que o destaca para além de seu reconhecível estilo barroco inspirado nas mulheres da região da Provença – ele nasceu em Arles – e com base na estética do século 18. “(Jean Paul) Gaultier e (Coco) Chanel fizeram um ou outro trabalho com figurino, mas Lacroix faz isso há mais de 20 anos! É uma maneira de ele se recriar também”, afirma a curadora, completando que o trabalho com alta costura é algo mais solitário e com o teatro, uma ação em conjunto e de interpretação das peças. O Centre National du Costume de Scène (Centro Nacional do Traje de Cena), que Delphine dirige, foi inaugurado há três anos e reúne acervo de cerca de 9 mil costumes de teatro, ópera e balé. Por sua ligação com esse segmento, Lacroix é até mesmo o presidente da instituição: o estilista doou sua coleção de figurinos ao Centro do Traje de Cena, além de mais de 3 mil desenhos.

A exposição na Faap, com cenografia de Michel Albertini, coloca o Salão Cultural todo escuro, tendo iluminadas oito grandes vitrines (com sete metros de dimensão), cada uma delas dedicada aos figurinos de peças cênicas – entre elas, Otello e Fedra (um destaque, um de seus preferidos trabalhos e pelo qual foi premiado). Começa o percurso com as obras de Sherazade, criação de balé da Ópera Nacional de Paris de 2001. “São muitas cores, quando você entra, é como um fogo”, diz a curadora. Lacroix mistura tecidos, técnicas, estampas nos trajes inspirados no estilo oriental - e, curiosamente, coloca uma das personagens numa bela burca branca com detalhes dourados. Em outra janela, outra criação vibrante é a de Carmem, encenada em arena de Budapeste em 1989. Os trajes misturam a inspiração espanhola e cigana –, logicamente, com o predomínio do vermelho.

Ao longo da mostra é possível ir relacionando os desenhos do estilista e os figurinos prontos, percebendo sua maneira de, muitas vezes, ter de lançar mão da criatividade para conseguir feitos originais – por exemplo, alguns dos trajes da ópera Heliogábalo são feitos de papel. No centro da mostra, há também trajes de balé dependurados e girando, numa atmosfera lírica.

Foto: Croqui da criação de Lacroix para Desdêmona: mostra na Faap exibe 105 figurinos do estilista

O Popular - Camila Molina
São Paulo/Agência Estado

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