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Adeus - Mayara Paz

Adeus - Mayara Paz As Matérias divulgadas neste link são de inteira responsabilidade do autor  


Mayara Paz

Certo dia de 2007, mais para o fim do ano, me bateu uma megalomania. Antes mesmo de começar a escrever, intitulei o texto de Tratado do adeus. Onde eu estava com a cabeça, não sei. Bateu em mim um narcisismo literário ou algo parecido.

O fato é que a ambição foi tanta que não passei da terceira linha. Iniciava assim: "O adeus é transcendental". A única e reles parte interessante dos 157 caracteres do tal esboço de tratado. Mas fui fiel ao tema, oras – nada melhor que escrever sobre despedida e ver a sua idéia ir embora. Eu, nos meus pequenos adeuses anteriores, ao menos tive a hombridade de dizer tchau. Pois tenho me especializado nessa coisa. As festas de 15 anos, formatura e casamento já são institucionalizadas. Também tem enxoval de tudo quanto é coisa, além de intensos obas-oba pré-matrimoniais.

Por que não monto uma empresa de comemorações de despedida? Os brindes poderiam ser lenços perfumados, uma foto do "despedinte" com o convidado e muitas recordações na memória. Se por um lado estou ficando craque em promover partidas, por outro é difícil ir. Só eu sei como há uma confusão de sentimentos aqui dentro. Impossível catalogá-los. Impossível organizá-los.

Cada hora é uma noção nova, um conceito distinto. Vontade de ficar, desejo de me mandar. Medo, ansiedade e alegria. A inquietação me persegue desde que me entendo por gente – e tenho dúvidas de quando ela, enfim, dirá adeus. Parafraseando Rubem Braga, "em minhas andanças, eu quase nunca soube se estava fugindo de alguma coisa ou caçando outra". O que importa neste momento?

Vou, com a convicção de que voltarei diferente desta jornada. E por mais saudades que sinta, preciso abrir mão de situações imediatas para colecionar experiências e tentar alcançar a paz que tanto busco. Esse ímpeto por viajar e conhecer um dia talvez passe. Sou fascinado por mitologia e, especificamente, pela A Odisséia, de Homero. Uma paixão puxa a outra. Assim como Ulisses, quem sabe não estou no meu longo percurso de volta para casa?

Se tiver uma Penélope na história, melhor. No fundo, só estou atrás do meu lugar ideal, um canto em que eu me reconheça e possa chamar de lar. Por mais longe que esteja, Mayara – neste instante que me lêem, já sou emigrante na terra de Cabral –, conservarei sempre a doutrina que escutei de um velho sábio: "A vida são presença e histórias". Em cada um de vocês que me considera, estarei presente.

O mesmo acontece aqui comigo. A distância é essa sensação de que o rio da vida segue em frente, mantém seu curso... para um dia se encontrar de novo. O adeus é transcendental.

Mayara Paz: Jornalista / Comunicações ou mídia - Brasília : DF

http://doisemxeque.blogspot.com/

 

 

   

 
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