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Bate papo com Regiana Antonini Por Janaina Rico

Bate papo com Regiana Antonini  Por Janaina Rico

08/06/2010

Atriz, diretora, dramaturga, professora, escritora, autora, redatora. Topou conversar comigo de primeira, sem afetações ou frescuras.

 

Não é possível discernir se, quando escreveu “Claríssima” (http://pecaclarissima.blogspot.com/), Regiana Antonini soubesse que havia sido descrita em uma frase de Clarice Lispector: “Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho”.

Dona de olhos azuis intensos, Regiana domina uma conversa com facilidade. A primeira vez que a vi foi em uma sala da Cia de Teatro Contemporâneo, dando aula de dramaturgia. A paixão com que falava aos seus alunos era quase palpável, assim como o seu amor pelo teatro.

Atriz, diretora, dramaturga, professora, escritora, autora, redatora. Topou conversar comigo de primeira, sem afetações ou frescuras. Nos encontramos em um café na Cobal, Rio de Janeiro, logo após sua aula. Antes, passou na feira e comprou frutas e verduras para mandar para casa.

Canceriana, se diz insegura. No entanto, ao conversar com ela, percebo a confiança de quem acredita no seu trabalho. Traz no currículo um Prêmio Sharp de melhor autora (disputado com Miguel Falabella), com o texto “Futuro do Pretérito”, a materialização de sua competência. E, mesmo assim, permeia suas frases com uma humildade deliciosa, algo possível somente a quem tem muito o que ensinar.

Ao ser questionada sobre os motivos de sua vinda para o Rio de Janeiro, a mineira me diz, entre risos, que quando resolveu se arriscar em terras cariocas tinha a ambição de ser protagonista da novela das oito. Se formou na CAL, escola tradicional de atores. Inclusive, seu nome está na página dos alunos ilustres do local. E mesmo ela afirmando que se realiza plenamente atuando, seu maior sucesso é na escrita, principalmente em roteiros teatrais.

Trabalha na Rede Globo, no humorístico Zorra Total. Criadora do bordão “Te conheço?”, assume que gostaria de realizar um papel no programa. Porém, ali ou se cria ou se atua, e a veia criadora está sempre falando mais alto.

Sua peça “Aonde Está Você Agora”, baseada na música Vento no Litoral, está em cartaz desde 1995. Já viajou pelo Brasil e rendeu também um livro publicado pela Editora Beto Brito em 2001. Renato Russo, autor da canção, disse que “Valeu a pena viver para ver uma de minhas canções virar uma peça tão linda e emocionante”.

Falando de sua trajetoria, iniciou-se casualmente no mundo dos roteiros e já teve a felicidade de ter em seus espetáculos Rosamaria Murtinho, Lilia Cabral, André Gonçalves, Iran Malfitano, Bruno Gagliasso, Marcelo Serrado, Jonas Torres, Edwin Liuisi, Marcelo Saback, dentre tantos outros. Isso é só para quem tem muito talento. Sua primeira montagem profisional foi dirigida por Cláudio Torres Gonzaga, que também a levou para a Rede Globo. Mesmo assim ela ainda agradece a sorte.

Altos e baixos na carreira já teve muitos. Se em um ano ganhou o Prêmio Sharp, atuou na novela “Salsa e Merengue” e escreveu para o programa “Sai de Baixo”, no ano seguinte foi vender biscoitos para se sustentar, pois as portas se fecharam. Desistir? Jamais.

Seu roteiro “Doidas e Santas”, adaptação do livro homônimo, está em cartaz no Rio de Janeiro. Só mesmo alguém com a sua capacidade para adaptar um best seller sem ter a menor interferência da autora. Martha Medeiros assistiu e chorou emocionada. Regiana fez uma junção de todas as crônicas do livro, criando uma história nova. Resultado: Sucesso! Com Cissa Guimarães, Giuseppe Oristâneo e Josie Antero no palco e direção de Ernesto Picolo, o Teatro do Leblon está ficando lotado em todas as sessões. E sua parceria com Martha Medeiros ainda está rendendo frutos. O romance “O Divã” está sendo adaptado para a televisão. Coisa de gente grande.

Tem um grupo de teatro, chamado “Cia da Boca”, com 17 jovens atores. E criou o Amadas (http://amadaspontocom.blogspot.com), uma peça que vai sendo escrita através de postagens no blog. Fora isso, ainda está com o texto “Mulheres que comem bem” em fase de produção, que terá Fabiana Carla no elenco.

Ao ser perguntada de conselhos a jovens artistas, disse que aprendeu com o tempo que “o sucesso não é a fama”. Senti muita intensidade em suas palavras quando me disse que os novatos devem entender que quando não se passa em um teste ou não se ganha um concurso, não deve ser tomado como algo pessoal. “Não é com você, acredite”.

E só Clarice Lispector poderia terminar: “A palavra é o meu domínio sobre o mundo

Janaina Rico é romancista, dramaturga e colunista do Mundo Mulher. Autora do livro "Ser Clara" e do roteiro "Todas as piadas de nossas vidas".
No twitter @Janaina_Rico
janainarico@gmail.com

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