02/05/2011

A herança germânica, presente na arquitetura, na culinária e nos hábitos dos moradores, é forte em Blumenau, uma cidade charmosa, onde dá vontade de ficar

Rua Curt Hering com Rua Capitão Euclides de Castro, centro de Blumenau (SC). Neste endereço, vi uma cena curiosa: três homens indignados, falando, em voz alta, sobre quem teria tido a coragem de arrancar tufos de flores do canteiro daquela esquina. Fato simples, mas que revela o zelo dos moradores com a cidade, que consegue manter, intactos, vasinhos floridos em postes e bem cuidadas floreiras suspensas.
Aí mesmo, no centro, enquanto caminha por calçadas planas e com faixa de piso para orientar portadores de deficiência visual, o turista encontra ruas limpas e lojas que dão pistas de por que a cidade é tão famosa. Peças de cristal artesanal, roupas de malha e chocolates estão entre os produtos mais conhecidos. Sem falar na fachada em estilo enxaimel de muitos desses comércios, uma das técnicas construtivas que fazem da arquitetura um dos cartões-postais do município.

Na Avenida 15 de Novembro, principal rua de Blumenau, não faltam opções de compras. A via também chama a atenção pelo conjunto arquitetônico, formado por 48 imóveis cadastrados como patrimônio histórico. Do total, 10 têm o desenho da fachada rebatido no passeio público.

Quem quiser provar outro grande atrativo, o chope, encontra uma choperia no começo da avenida, na Praça do Biergarten, ao lado do Museu da Cerveja, com vista para o Rio Itajaí-Açú, que, mais adiante, é adornado pela ponte de ferro Aldo Pereira de Andrade. Construída em 1929, com material importado da Alemanha, a ponte, que integra o roteiro histórico e cultural da cidade, serviu a ferrovia que ligava Blumenau a Itajaí. Foi restaurada em 1991, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, para trânsito de pedestres e veículos.
Em outra altura da 15 de Novembro fica o teatro da cidade, o Carlos Gomes, que tem palco giratório e capacidade para 1.170 pessoas. Lá funciona uma escola de balé, teatro, dança, música e orquestra de câmara. Na mesma avenida fica também um dos prédios mais conhecidos de Blumenau, uma réplica da prefeitura de Michelstadt, cidade ao sul da Alemanha: o antigo Castelinho da Moelmann, hoje sede das lojas Havan. Em frente, em um prédio em art déco, da década de 1940, funciona uma feira permanente de artesanato.

Vila Germânica

Outro espaço de venda de artesanato, souvenirs e produtos típicos de Blumenau é o Parque Vila Germânica, no bairro da Velha. O lugar conta com lojas e é palco de feiras, como a Texfair Home, e outros eventos, a exemplo do Festival Nacional de Danças Folclóricas (Festfolk) e o que mais atrai turistas para o município, a Oktoberfest, que, este ano, vai de 6 a 23 de outubro.

Criada em 1984, a Oktoberfest, considerada a maior festa alemã das Américas, já chegou a receber 1 milhão de pessoas nos 17 dias de festa. Desde sua primeira edição, foram mais de 17 milhões de visitantes. Entre o réveillon e o carnaval, entra em cena a Sommerfest, que, em português, significa Festa de Verão. O evento tem opções de lazer, cultura, gastronomia, compras, além das Noites de Minioktoberfest, às quintas-feiras, com desfiles típicos.
Com os eventos que realiza, os produtos que vende e a arquitetura que exibe, a Vila Germânica mais parece uma pequena Blumenau, com um pouco do que o município, com sua forte herança alemã, tem de melhor. O turista pode ter uma vista panorâmica da cidade, visitando um dos mirantes, como o do Museu da Água. O lugar é também espaço de educação ambiental.

Um dos prédios de Blumenau que chamam a atenção é o da prefeitura, que estiliza a técnica construtiva enxaimel. Em frente, na Praça Victor Konder, foi instalada a primeira locomotiva da cidade, vinda da Alemanha, em 1908, e apelidada de Macuca pelos antigos colonizadores, já que o som de seu apito lembrava o pio do macuco. Um tótem posicionado ao lado da locomotiva conta essa história em português, alemão e inglês - na cidade há outros 29 com informações dos atrativos turísticos.
Blumenau tem, hoje, cerca de 310 mil habitantes. Fundada, em 1850, pelo filósofo alemão Hermann Bruno Otto Blumenau, o turismo começou a se expandir em 1960. Na década de 1970, o turismo de compras ganhou fôlego na cidade, que é forte polo têxtil e de desenvolvimento de softwares. O cristal artesanal é vocação e sua história é contada em museu, o Glasspark. Entre as raridades há um rosário do século 16. Ali, é possível acompanhar a produção dessa arte, que transforma areia e fogo em cristal, por artesãos. Junto ao museu há uma loja, onde estão à venda as peças produzidas, algumas com pó de ouro.

Roteiro arquitetônico na zona rural

Blumenau tem vários roteiros turísticos, como o das cervejarias artesanais, o industrial e o arquitetônico da Vila Itoupava, distrito a 25 quilômetros do centro da cidade, na zona rural. Itoupava é nome indígena e sinaliza para o que espera pelo turista, já que significa "queda d'água", em tupi-guarani. O lugar, emoldurado por um relevo montanhoso, reúne atrativos que misturam natureza, história, cultura e gastronomia.
O roteiro começa antes mesmo de chegar à vila. No caminho, pela rodovia SC-474, está a Escola Número 1, a primeira da região. Construída em 1870, é um exemplar autêntico da arquitetura enxaimel, caracterizada por madeira de encaixe e tijolinhos à vista.

A cerca de 3 km dali fica o Museu dos Clubes de Caça e Tiro, que concentra a história dos clubes com essa tradição, em Blumenau. Há um restaurante anexo, que serve comida típica alemã. Já no distrito, o Centro Cultural da Vila Itoupava é sede da antiga Cervejaria Feldmann, fundada no fim do século 19, por Heinrich Feldmann Sênior.
Saindo da rodovia, a gente logo descobre por que a vila é chamada de "bairro mais alemão de Blumenau". A herança germânica está presente não apenas nas casas, com charmosas floreiras nas janelas, mas também nos costumes e no modo de falar dos cerca de 7 mil habitantes: 90% da população se comunica também em alemão.

De acordo com a turismóloga da Secretaria de Turismo de Blumenau, Silvana Sarchi, o alemão falado pelos moradores é o mesmo da época da colonização, já que, fora do país de origem, não pôde ser atualizado. Assim, palavras novas, como informática, e outras nem tanto, como televisão, são pronunciadas em português, mesmo.

A Vila Itoupava atrai, ainda, pelas comidas e bebidas típicas, a exemplo do marreco recheado e dos licores artesanais. O restaurante abre aos domingos e é referência na gastronomia alemã.
Outra tradição de destaque são os clubes de caça e tiro. Dos 40 que existem em Blumenau, 8 estão no distrito. O presidente do Clube Sociedade Recreativa e Desportiva Serrinha, Manfred Gruetzmacher, conta que há várias festas anuais em cada clube, com atividades realizadas para preservar a tradição e reunir moradores e turistas.
"Os sócios disputam várias modalidades para escolher quem será homenageado rei e rainha no ano seguinte e os visitantes assistem e interagem", diz Manfred, explicando que as festas têm música, dança, competição, apresentação folclórica e pratos típicos.

Para divulgar a cultura e a tradição germânica foi criado o Dia do Turista, realizado nos clubes de caça e tiro. O evento, que envolve atividades culturais, gastronômicas, sociais e esportivas, não tem data fixa. Ele ocorre por solicitação de agências de turismo para grupos de no mínimo 30 pessoas. O ingresso individual para o café da manhã custa 25 reais. O valor do almoço por pessoa é de 45 reais. Para usufruir dos dois serviços, o custo é de 60 reais por pessoa. Informações: (47) 3340-5635.

Há ainda a Caminhada Ecológica e Cultural da Vila Itoupava, que teve sua primeira edição em 2010 e 416 inscritos. Segundo Manfred,o objetivo não é competitivo. A ideia é contemplar o conjunto arquitetônico, formado por 12 casas, a maioria com arquitetura enxaimel, e a natureza que cerca o lugar - por sinal bastante generosa!
Os participantes cumprem um trajeto de 10 km. Manfred diz que o passo seguinte é que eles possam entrar nas casas para conhecer seu interior e quem mora nelas. E que as famílias possam aproveitar a visita dos turistas para oferecer a eles produtos típicos. Este ano, a caminhada será no dia 28 de agosto. Para participar, consulte www.vila.tur.br.

Como chegar

A principal rodovia de acesso a Blumenau é a BR-101. O aeroporto mais próximo é o de Navegantes (SC), distante 54 quilômetros de Blumenau.
Para mais informações sobre a cidade, inclusive meios de hospedagem e horário de funcionamento dos atrativos turísticos, acesse www.turismoblumenau.com.br

Fonte: O Popular - Nara De los Angeles