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SEUL - Coreia do Sul

02/08/2012

Na fronteira entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte, uma das zonas mais militarizadas do mundo, as lembranças de uma guerra que rachou um país ao meio tornam-se atração turística

 

 
Templo em Paju, na fronteira entre as duas Coreias

“Seul fica a pouco mais de 50 km da fronteira com a Coreia do Norte”, informa a guia turística. Mas só isso? “Só.” Parece incrível, mas os sul-coreanos dormem e acordam ao lado do inimigo. O pior de tudo é que o inimigo é seu irmão.


A Guerra da Coreia dividiu a Península Coreana em duas, criou duas nações que vivem às turras, destruiu boa parte da infraestrutura nos dois lados da fronteira e separou famílias por décadas, gerações. Chegar até Paju, cidade sul-coreana que fica pertinho da Coreia do Norte, porém, é muito fácil.


É só pegar uma estrada muito bem pavimentada que não tem nenhum posto de controle em seu caminho. Menos de uma hora depois, estamos no coração de uma das regiões de maior tensão política da atualidade. As feridas desse conflito continuam abertas, latejando, e é despendido uma enorme esforço humano e financeiro para manter uma área militarizada abissal, com milhares de soldados circulando o tempo todo


AMBIENTE BÉLICO


No caminho até essa zona de alta segurança, os sinais do ambiente bélico estão por toda parte. As margens do Rio Ham, que corta Seul em duas partes e vai desaguar no Mar Amarelo, sendo parte da fronteira, a partir de um ponto mais próximo da divisa, são estritamente vigiadas por dezenas de guaritas com homens armados de prontidão. Esses vigias contam com metralhadoras e holofotes para varrer a área de mangue, abordar e, se necessário, abater possíveis invasores. Ao lado de todo esse armamento, agricultores cultivam arroz em áreas alagadas. É uma cena paradoxal, típica de um país que vive sua guerra particular mas que não pode se dar ao luxo de não utilizar cada palmo de um território pequeno para cultivar alimento para uma população numerosa. Em Paju, para a surpresa de muitos, há um centro recreativo e de lazer ao lado da zona de exclusão.


Os sul-coreanos usaram parte da região fronteiriça para fomentar o turismo local e, de quebra, trabalhar uma eficiente propaganda sobre as circunstâncias da guerra que dividiu o país. Não há uma animosidade explícita contra os norte-coreanos em geral e sim contra o regime comunista que administra a nação vizinha há 60 anos e dificulta negociações de paz.
 

Nunca foi assinado um armistício entre os dois países. Em monumentos e placas comemorativas, inclusive nos que lembram os mortos do conflito ocorrido entre 1950 e 1953, há várias referências ao fato de que as duas Coreias são compostas por um só povo. Em muitas dessas mensagens expressa-se o desejo de que a união volte a vigorar. Estando nessa fronteira tão conturbada, porém, é fácil perceber que este sonho é utópico, pelo menos por enquanto.
 
Curiosidades


- A Coreia do Sul é uma das maiores produtoras de ginseng do mundo. A raiz pode ser encontrada em mercados e lojas chiques e seu preço é bem acessível. O visitante tem a opção de comprá-lo puro, para mascar, moído, em forma de balinhas e até para decoração.

- Lojinhas com lembrancinhas e restaurantes não faltam na Coreia do Sul. Eles estão por toda parte e é bom pesquisar preços, porque a variação pode ser grande.

- Na zona desmilitarizada entre as duas Coreias, pela ausência de ocupação humana na faixa de segurança, a fauna nativa se desenvolveu. O perigo são as minas terrestres espalhadas em vários pontos da região.

- Os EUA ainda dão grande apoio militar à Coreia do Sul. A presença estrangeira na região de fronteira é grande e o local se configura em um ponto estratégico para os americanos.
 


 

Forte aparato militar

Na fronteira com a Coreia do Sul, o visitante pode chegar bem pertinho da Coreia do Norte, mas não pode pisar em seu território. Há uma faixa desmilitarizada, de 200 metros para cada lado, separando os dois inimigos. De cada lado, a partir dessa zona neutra, fortíssimos aparatos militares, que incluem até campos minados. Do lado da Coreia do Sul, a região é talhada de bases militares, inclusive algumas dos EUA. Em Paju, há uma locomotiva em exposição. O veículo foi atingido por uma bomba, mostrando a violência do conflito.

Ali também começa uma zona de exclusão, onde fica uma famosa ponte que se tornou símbolo da divisão das Coreias e de algumas tentativas de reconciliação. Arames farpados e uma bandeira da Organização das Nações Unidas, mostrando que a região está sob gerência compartilhada com tropas de paz da ONU, não deixam dúvidas que se trata de uma região delicada.

BARRICADAS

Saindo de Paju e seguindo para mais perto da fronteira, o turista pega um ônibus especial para ingressar em uma região que só pode ser visitada sob autorização. Nela está a Ponte da Unificação, chamada de Tongildaegyo. Há barricadas na pista e um forte esquema de segurança averigua todos os que passam ali, conferindo passaportes. O passeio continua até Panmunjeon, um centro turístico e histórico vigiado por militares e onde foi descoberto um túnel dos norte-coreanos (leia texto nesta página). A próxima parada é a estação de trens de Dorasan. Trata-se de uma bela estrutura, novinha em folha, que atualmente não recebe passageiros. O último trem que saiu dali rumo a Pyeongyang, capital norte-coreana que fica a apenas 205 km de distância, foi em 2008.


Antes da divisão, era possível pegar um trem em Seul e chegar a Paris ou Roma, fazendo conexão com as grandes ferrovias que cortam a Ásia e a Rússia, como a Transsiberiana. Com a interrupção desse tráfego, os sul-coreanos só podem sair de seu país por ar ou mar.


Outro ponto interessante é o observatório Dora. O mirante dá uma visão – a única permitida em toda a área – da Coreia do Norte. Há lunetas que podem ser usadas e por elas é possível observar detalhes de uma cidade de médio porte no país vizinho. As bandeiras tremulam frente a frente, separadas por um rio e, do lado da Coreia do Sul, por um bosque.
No território da Coreia do Norte, nesta zona fronteiriça, as árvores foram removidas para que não servissem de camuflagem para possíveis fugitivos. Montanhas áridas emolduram o lado norte da fronteira, e os sul-coreanos gostam de dizer que a cidade do outro lado é um mero cenário montado pelos desafetos para enganar os turistas.

 


No túnel do inimigo

Em 1978, soldados que monitoravam a fronteira entre os dois países descobriram algo insólito. Debaixo de seus pés, norte-coreanos escavavam um túnel que, quando foi descoberto, já tinha mais de 1,5 km de extensão. O projeto, um tanto inverossímil, era invadir Seul por baixo da terra. O problema é que a capital sul-coreana ainda estava a distantes 52 km.


Esse incidente deu margem para a Coreia do Sul avançar com sua área desmilitarizada, fazendo os inimigos perderem terreno. Com o tempo, o episódio de guerra virou atração turística. Em um complexo chamado DMZ (Delimitarized Zone), há uma entrada para o tal túnel, chamado de 3º Túnel, pois outros dois foram descobertos na fronteira. O lugar, atualmente, está iluminado, com corrimãos para dar apoio na íngreme descida e capacetes de segurança para os turistas não baterem a cabeça no teto rochoso.
O visitante caminha por mais de um quilômetro por baixo da terra, primeiro em uma rampa, depois serpenteando pelo caminho aberto pelos norte-coreanos. O túnel tem, na maior parte do tempo, menos de 1,80m de altura e 2 m de largura. Não é uma trilha confortável e exige preparo físico.

SIMBOLISMO

O local é muito úmido e só não fica insuportavelmente quente devido a um potente sistema de ventilação. Seu final é simbólico para os sul-coreanos, já que ele está a poucas dezenas de metros do território da Coreia do Norte. É o ponto mais próximo que se pode chegar, normalmente, das terras do país vizinho.
Fotos e vídeos são proibidos, sob o risco de confisco do equipamento. O número de soldados é muito grande, dando a impressão até de um certo exagero. Mas é sempre bom lembrar que, apesar da estrutura turística montada, quem vai ao lugar entra em uma zona de guerra.

Fonte: O Popular - Rogério Borges - Da Coreia do Sul


 

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