Mundo Mulher

Selton Mello fala sobre como a análise o ajudou

25/09/2012

 
Recentemente, Selton Mello trocou a casa um tanto isolada onde morava há 12 anos, no alto da Gávea, por um novo lar na Lagoa, mais perto da agitação. Prestes a completar 40 anos, em dezembro, o ator/diretor queria outros ares. A nova e significativa idade, no entanto, não chega com peso. Selton diz estar vivendo um ótimo momento e, em suas palavras, fazendo o que gosta.

Ficou para trás a crise profissional revelada por ele no lançamento de “O palhaço” (filme de 2011, selecionado na semana passada para concorrer a uma indicação ao Oscar pelo Brasil). Na época, o diretor e ator do filme disse que a história do artista de circo com dúvidas em relação à vocação era um reflexo do momento que ele próprio vivia. A psicanálise e a direção, dois dos fatores que o ajudaram a superar essa fase, estão reunidos em seu novo trabalho: “Sessão de terapia”, série de ficção que estreia no GNT em 1º de outubro, às 22h30m:

— A direção veio acrescentar à minha vida. Posso trabalhar na frente das câmeras e atrás também. Este ano me dediquei só à série como diretor, não atuei. E foi ótimo. De repente, ano que vem, atuo. Vou variando. Tenho múltiplas possibilidades, e a terapia me ajudou a chegar a este raciocínio.

A atração é uma versão de “BeTipul”, série criada em 2005 pelo israelense Hagai Levi, e que já teve mais de 30 versões pelo mundo. Dos EUA, vem a mais famosa: “In treatment”, com o ator Gabriel Byrne; na Romênia está a versão favorita de Selton, que recebeu o nome de “In deriva” Em comum, todas têm uma característica que chama a atenção do diretor: a humanização do terapeuta.

— Uma das ignorâncias mais comuns em relação à terapia é achar que o cara vai resolver sua vida. O terapeuta está ali para dar ferramentas e repertório para você se conhecer melhor. É um trabalho nobre. Sou fã da terapia.

A experiência por trás das câmeras do “Sessão de terapia” deu vulto à ainda recente carreira de diretor de Selton. Para a primeira temporada, foram gravados 45 episódios, o equivalente a nove longas-metragens, ele explica. Tudo em 47 dias. O mergulho no universo da série foi profundo. Um outro ângulo da terapia para quem, como ele, faz análise há alguns anos.

O enredo gira em torno de Theo (Zécarlos Machado), um terapeuta que recebe seus pacientes no consultório anexo à sua casa em Higienópolis, em São Paulo. De segunda a quinta, os espectadores acompanham as sessões de quatro deles, um por dia. Na sexta, Theo conversa com sua supervisora, Dora (Selma Egrei). Esse formato é um dos trunfos da atração, na opinião de Selton, já que, na sexta, você conhece os dramas do terapeuta e, inclusive, fica sabendo o que ele pensa sobre cada paciente.

— Quando você assiste à próxima sessão do paciente, já o vê com outros olhos, porque sabe o que o terapeuta pensa. Talvez não seja uma série para todo mundo, há quem ache chata. Mas quem embarca não sai mais, porque é tudo muito humano. São duas pessoas falando numa sala. Exige imaginação do espectador — opina.

A trama básica é a mesma em todas as versões. Até o cenário e alguns movimentos de câmera são similares. Mas Selton não se incomodou com essa estrutura pré-estabelecida:

— Não me senti preso porque há um trabalho delicado de trazer a trama para a realidade brasileira. Além disso, não é uma série onde o diretor deve brilhar: é uma série dos atores. Meu trabalho ali é encontrar o tom certo para eles. Não tenho que ficar mexendo muito a câmera ou fazendo grandes malabarismos visuais. É para ser uma direção simples, o que exige precisão.

Selton acredita que, em comparação a algumas das outras adaptações da série — ele assistiu à israelense, à americana, à russa, à holandesa, à argentina e à romena —, a brasileira tem características bem particulares:

— A nossa talvez tenha mais sangue, mais coração. Vi algumas versões em que a psicanálise é retratada de forma bem fria, os pacientes não se deixam envolver muito. Nós somos latinos, então tem mais emoção, mais passionalidade.

Entusiasta das séries de TV, Selton está animado em seguir esse filão. Já existe um namoro entre ele e o GNT para uma segunda temporada do “Sessão de terapia”, a depender do desempenho destes primeiros 45 episódios. Apesar de confiante no trabalho dos atores e da equipe, ele é ponderado:

— Essa série é um risco grande. Ela tem uns tempos, essa coisa de ser apenas um diálogo... É um desafio prender a atenção do público que está ao mesmo tempo no Facebook ou atendendo telefone. Por outro lado, o Brasil tem tradição de telenovela. O espectador brasileiro está acostumado a acompanhar algo de segunda a sexta. Por isso, acho que a série pode ter uma resposta de público grande.

No ano que vem, além de escrever um novo filme e de atuar no longa “Soundtrack” — dos mesmos diretores do curta “Tarantino’s mind”, no qual atuou ao lado de Seu Jorge —, Selton pensa em criar uma série de ficção para o GNT:

— Começar do zero, inventar... Vamos ver no que dá.

Fã de “Família Soprano”, “A sete palmos” e “Curb your enthusiasm”, ele acha que o formato é um fenômeno e que o Brasil deve surfar nessa onda.

— Nos EUA, já fizeram tudo que era possível no cinema. Efeito especial, explosão, 3D... Mas chega uma hora em que se pensa: o que fazemos agora? E me parece que eles estão voltando alguns passos para o mais humano, sem muita pirotecnia. E isso está aparecendo na TV. Grandes artistas e técnicos estão indo para lá. Hoje em dia, é na TV americana que estão as grandes experimentações de linguagem, e acho que isso começa a vir para cá também. Já fizemos alguns ótimos seriados. O melhor, para mim, chama-se “Filhos do carnaval” (exibido em 2006, na HBO). Era uma série lindíssima. A gente pode começar a fazer mais isso, sim — deseja.
Goiasnet.com/O Globo

 

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