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Cabeça Fria e Sexo Bom

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Pesquisa derruba um dos maiores mitos da sexualidade masculina: a vasectomia não atrapalha o desempenho na cama e pode até melhorá-lo ao acabar com o receio da gravidez Malu Longo No universo masculino a perda da virilidade sempre permeou o tema vasectomia.

O grande estigma é o medo de seqüelas, o que poderia provocar distúrbios de ereção. Uma boa notícia para quem tem esse receio: pesquisa realizada por médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo mostra que a cirurgia esterilizadora não interfere na vida sexual masculina, ao contrário, pode até aumentar o desejo e a satisfação. Ainda ocupando espaço no patamar dos tabus brasileiros, a vasectomia ganhou este ano um lugar especial na lista de prioridades do Ministério da Saúde.

Este ano, por ocasião do Dia Internacional da Saúde da Mulher e Dia Nacional de Luta pela Redução da Mortalidade Materna, o estímulo à realização e ampliação da cirurgia esterilizadora nos serviços públicos surgiu entre as medidas de planejamento familiar e redução da mortalidade materna anunciadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão, de certa forma, tira a vasectomia do limbo a que foi jogada por uma questão sócio-cultural.

Historicamente, o brasileiro sempre transferiu para a mulher a responsabilidade de decidir se deveria ou não ter mais filhos, cabendo a ela o uso de pílulas anticoncepcionais ou a opção pela laqueadura. Este conceito, ao longo dos anos, foi ainda mais reforçado pela existência de programas oficiais de planejamento familiar dirigidos às mulheres. Administrador de empresas e servidor público Jorge Luiz Matheus, 46 anos e casado há 21, em nenhum momento se arrependeu da decisão tomada com a mulher Neuzair Aparecida. Com dois filhos, de 21 e 16 anos, o casal buscou informações durante dois anos antes de partir para a vasectomia.

Hoje, três anos depois, Jorge indica o procedimento. "Vários amigos me perguntam e eu sempre digo que o desejo aumenta e o ato sexual é melhor", conta. Segundo ele, só o fato da mulher não ter mais a preocupação de se lembrar o anticoncepcional, interfere na relação sexual. Para o presidente da seção goiana da Sociedade Brasileira de Urologia, Antônio Moraes Júnior, a preocupação libera a adrenalina levando ao fechamento da artéria que leva o sangue para o pênis, impedindo a ereção. Este é o motivo pelo qual a maioria dos homens atribui à vasectomia os sintomas da disfunção erétil.

O urologista Jorge Hallak, que orientou o estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo, realizado como dissertação de mestrado, reforça que a técnica esterilizadora induz a um relaxamento psicológico melhorando o ato sexual.

¤ LEIA MAIS: " Sem filhos (Veja como funciona a vasectomia) " Para 67% dos homens, vida sexual melhorou " Técnica ainda é pouco utilizada por brasileiros " NA HISTÓRIA Primeira cirurgia é do século 19 Para 67% dos homens, vida sexual melhorou

A pesquisa do Hospital das Clínicas de São Paulo teve como objeto de estudo 65 homens pacientes do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, com idades entre 25 e 48 anos, com três filhos, em média. Os entrevistados responderam questões baseadas no Índice Internacional de Função Erétil (IIEF), adotado pela Organização Mundial da Saúde.

Sem interferência de terceiros, foram respondidas 15 questões em cinco domínios da função sexual: função erétil, orgasmo, desejo sexual, satisfação sexual e satisfação geral. Os questionários foram aplicados 90 dias antes e depois da vasectomia. A pesquisa concluiu que 67% dos pacientes apresentou melhora na função sexual após a vasectomia contra 16% que não perceberam alteração.

Outros 17% disseram que o sexo piorou. "O estudo mostra que houve aumento da satisfação sexual global e a manutenção do desejo. Não houve quedas das qualidades da função erétil, do orgasmo e do volume ejaculado", afirma Jorge Hallak, que defende a vasectomia como o método anticoncepcional com melhor custo-benefício. O casal de empresários goianiense Léo Pimenta Bueno e Cláudia Bueno, casados há 20 anos, concorda com a afirmação. "Minha mulher sempre teve muitos problemas com anticoncepcionais, fazer a cirurgia foi um alívio", conta Léo, ressaltando que para a vida sexual foi muito melhor. Com duas filhas, de 14 e 10 anos, Léo nunca se arrependeu da decisão. "A vasectomia é a melhor coisa que um marido pode fazer pela esposa", festeja Cláudia, confirmando que hoje o casal está ainda mais unido.

Técnica ainda é pouco utilizada por brasileiros

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) não sabe precisar quantitativamente o processo de adesão à vasectomia. A estimativa é que entre os métodos anticoncepcionais utilizados no Brasil, a prevalência da cirurgia esterilizadora masculina seja de apenas 4%. Esta realidade começou a mudar na duas últimas décadas. Antônio de Moraes Júnior explica que, embora tenha tentado, a SBU considerou impossível fazer uma estatística do número de vasectomizados no Brasil tendo em vista que a maioria dos procedimentos não é coberta por planos de saúde. Por serem decididas em consultórios particulares, não há notificação ao Ministério da Saúde.

A conscientização sobre a necessidade do planejamento familiar, a praticidade, o baixo custo, o baixo índice de complicações e a queda do tabu são, na opinião do presidente da seção goiana da SBU, as principais razões do crescimento das incisões esterilizadoras. "A faixa etária que mais busca a vasectomia é entre os 35 e 45 anos, pela maturidade para absorver as informações", afirma Antônio de Moraes Júnior. No grupo de seis casais amigos, Rafael Lisita e Helenice foram os primeiros a abrir mão da pílula anticoncepcional. Ambos com 42 anos, e dois filhos, enfrentaram a princípio as brincadeiras dos amigos, mas conseguiram convencê-los de que a vida sexual tornou-se mais plena. "Dos seis homens, quatro já fizeram", conta Helenice. Raros são os planos de saúde que autorizam a vasectomia.

Por ser uma cirurgia particular, o preço oscila, dependendo de cada profissional ou estabelecimento hospitalar. Em média, conforme Antônio de Moraes Júnior, são cobrados de R$ 1,3 mil a R$ 1,5 mil, incluindo centro cirúrgico, médico e auxiliar. Nos hospitais públicos é preciso enfrentar fila de espera, embora o procedimento não demore mais do que 30 minutos. Como a anestesia é local, não há necessidade de internação. Entretanto, há exigência de repouso sexual de sete dias.

O primeiro espermograma para saber se a cirurgia foi bem sucedida deve ser realizado em 60 dias, tempo em que o casal não deve abrir mão de outros métodos anticonceptivos. Apesar da baixa complexidade, a SBU e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária não aprova a realização da vasectomia em consultórios. "O ideal é um centro cirúrgico, em ambiente esterilizado", afirma Antônio de Moraes Júnior. Esse cuidado evita processos infecciosos e inflamatórios, sangramento ou abertura da cirurgia. Reversão Embora seja definitiva, a cirurgia pode ser revertida, para a alegria de 2% a 6% dos homens vasectomizados que procuram a reversão.

Os melhores resultados ocorrem se a recanalização for feita até cinco anos após a cirurgia. Mais complicada e trabalhosa, deve ser feita sob anestesia troncular com a utilização de material de microcirurgia. Conforme a SBU, a taxa de sucesso da cirurgia de reversão pode variar muito. Outro aspecto também a ser considerado pelo homem que opta pela vasectomia é a possibilidade de reversão espontânea. Antônio de Moraes Júnior explica que a recanalização do ducto deferente, de forma natural, ocorre numa proporção de um para mil casos. Antônio de Moraes Júnior explica que a semente do algodão está em estudo nos Estados Unidos como potencial elemento para a elaboração de contraceptivo masculino.

A dificuldade encontrada até agora é que a semente de algodão provoca esterilidade definitiva. "Após a ingestão do medicamento, não há reversão", diz o presidente da seção goiana da SBU. Também são desconhecidos os efeitos colaterais para outros órgãos. A expectativa é que haja novidades sobre a pílula masculina até o ano que vem. Anterior | Cidades | Próxima Primeira cirurgia é do século 19 Desde o século 19 a vasectomia é realizada em todo o mundo.

A primeira cirurgia em humanos, realizada em 1897, teve como objetivo a cura de hiperplasia prostática. Dois anos depois, o uso da vasectomia foi sugerido para a esterilização de criminosos, para evitar a transmissão de doenças hereditárias à sua prole. No início do século 20, o mesmo conceito também estendeu-se a leprosos, tuberculosos, alcóolatras e viciados em drogas. A serviço da eugenia, mais de 3 mil vasectomias foram realizadas entre 1909 e 1928. Mas foi na Alemanha nazista que a cirurgia disseminou-se ainda mais, com um milhão de incisões entre 1935 e 1945. As transformações sociais ocorridas a partir dos anos 60 impulsionou a vasectomia como método anticoncepcional. Entretanto, em função de estudos anteriores, o método continuou a ser visto como castração, trazendo em seu bojo efeitos colaterais físicos e psicossomáticos.

Diante do estigma da desmaculinização, a vasectomia perdeu força nos anos 1970. Uma década depois, governos dos países desenvolvidos passaram a inserir a cirurgia esterilizadora em programas de planejamento familiar. Nos Estados Unidos, são realizados em média, 500 mil vasectomias por ano. Na China, onde foi criada a popularizada a técnica sem o uso do bisturi, estima-se que existam 30 milhões de homens vasectomizados.

No Brasil, a lei nº 9.263 de 12 de janeiro de 1996, reconheceu a laqueadura tubária e a vasectomia como método anticoncepcionais eficazes, que devem ser subsidiados pelo Sistema Único de Saúde. Pela lei, cabe exclusivamente ao casal a decisão de realizar o procedimento cirúrgico, excluindo a exigência de autorização judicial. A lei determina que a esterilização cirúrgica deve ser realizada apenas em homens acima de 25 anos ou, pelo menos, com dois filhos vivos ou nos casos onde a gravidez do cônjuge poderá gerar risco de vida.

Fonte: Jornal O Popular

 

 

 
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